Carlos da Terra: ‘Enfim, seremos mesmo uma grande nação?’
É um sonho da população brasileira, e claro que é também o meu sonho.
E ao sermos instados a dizer nossa opinião, esbarramos invariavelmente com a atitude do ouvinte que imagina que aquilo que ele “quer” é o que irá acontecer. Se ele quiser, ou mesmo se o seu interlocutor quiser que ocorra “A”, então vai ocorrer “A” e se ele quiser “B”, ocorrerá “B”.
É óbvio que não é assim, porque esse sonho (de um grande país, para o Brasil) já o temos desde o tempo de D. Pedro I, e até hoje, não somos essa nação comparável às grandes potências.
O povo quer isso, mas o quer apenas por um sentimento íntimo competitivo associado a um conforto material melhor. Ou seja, subentende que temos que estar acima de outros seres humanos, ou, no mínimo, equiparados no topo e que sejamos regiamente pagos pelos nossos serviços.
E nem um pouco se pensa no aprimoramento dos nossos serviços e produtos, aí sim, equiparando-os aos países produtores do primeiro mundo.
Permitam-me dizer-lhes uma coisinha a respeito da posse do novo presidente, dia primeiro próximo. Não é minha intenção levar aqui uma carga de pessimismo, nem mesmo jogar um balde de água fria no sonho meu e do nosso povo, mas permitam-me dizer: “já vi ‘esse filme’ várias vezes”.
O filme rodou na cabeça de todos nós, na posse de, praticamente, todos os presidentes eleitos e empossados e especialmente na posse do Collor de Melo, o extraordinário caçador de marajás.
Se os Srs. me perguntarem se eu “acho” que o governo de Bolsonaro dará certo, e me permitirem responder com sinceridade, eu responderei que “acho que não”.
“Acho que o governo Bolsonaro não atenderá a expectativa da nação e, pelo contrário, nos trará inúmeros problemas de base.
Eu gostaria de adicionar aqui, que o agora presidente Bolsonaro, já está na política a muito tempo e a despeito de sua ojeriza pela corrupção e pelo crime, havemos que perguntar: “o que efetivamente ele já fez sobre isso?”.
Mas não é só por isso que a minha opinião é adversa. Ocorre que não há um governador, ou presidente, que até hoje sonhou, ele próprio, em deixar seu governo sendo criticado por compactuar com o crime e a sujeira. Ao contrário, todos, com absoluta certeza, sonhavam em deixar os respectivos mandatos, com exemplar vitória sobre essa aberração da conduta humana.
Veja-se o esforço descomunal que se fez para resolver o diabólico problema da cracolândia de São Paulo.
Quando o Leonel Brizola foi governador do Rio de Janeiro, almejando resolver o grave problema das favelas, construiu e deu muitas casas aos então favelados. Sabem o que aconteceu? Essas pessoas que foram contempladas com as casas, venderam suas torneiras, janelas e objetos de metal e retornaram às favelas.
Resolver os problemas do Brasil não é uma questão de machismo, afirmação, ou meramente de vontade, ou princípios moralistas ou religiosos. É uma questão de base. Nosso povo, queiramos ou não, precisamos admitir, não tem recursos para produzir um trabalho manual ou intelectual, que tenha qualidades para competir ou andar pareado aos produtos europeus. E também, e essa é pior parte, nosso povo é completamente despreparado para viver em uma sociedade civilizada.
Esse problema que temos, outros países que agora são exemplos de adiantamento, também já tiveram e eles resolveram pelo que se sabe até hoje, da única maneira possível: investindo no ser humano. “Pegaram” crianças na faixa etária de 7 e cuidaram delas com esmero. Investiram muito dinheiro e atenção nelas por mais ou menos uns 15 anos.
Ao final essas então crianças, eram agora jovens na faixa de 22 anos com uma formação esmerada o que lhes proporcionava fabricar bons produtos e principalmente, lhes propiciava a oportunidade de viver condignamente na sociedade, aprimorando o trato entre os seres humanos e também entre os humanos e outros animais, e ainda reduzindo substancialmente a probabilidade de que esses jovens, agora no mercado de trabalho, se corrompessem.
É um trabalho árduo, mas não tem outro jeito.
Então, eu gostaria de terminar este texto com a seguinte frase: “o meu desejo é que o governo Bolsonaro dê certo e este meu texto vá parar no lixo”, mas “eu acho” que o governo Bolsonaro não dará certo”. Infelizmente desconfio que vou acertar!
Carlos da Terra – carlosdaterra@gmail.com
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024