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Carlos Carvalho Cavalheiro: 'As férias escolares e o governador Doria'

Carlos Cavalheiro

As férias escolares e o governador Doria

Na última sexta-feira, dia 26 de abril, o governador de São Paulo João Doria anunciou o novo cronograma escolar para 2020. De acordo com o que foi apresentado, haverá redução das férias escolares de julho para 15 dias. Os outros 15 dias deverão ser distribuídos em pequenas “férias” de uma semana em abril e uma em outubro.

A justificativa para tal mudança, apresentada pelo Secretário de Educação Rossieli Soares, seria o fato de que férias “longas” prejudicam o ensino. Nas palavras do Secretário, “Estudos mostram que períodos muito longos fora da escola atrapalham a aprendizagem, porque a criança demora a voltar no ritmo” (https://www.dci.com.br/dci-sp/doria-muda-cronograma-de-escolas-e-reduz-as-ferias-de-julho-1.797790).

Apesar de não ter apresentado dados mais aprofundados sobre quais são os estudos que apontam para essa realidade, o Secretário de Educação desmente, de certa forma, o próprio governador João Doria. Em matéria publicada no site do DCI (Diário do Comércio e Indústria), Doria teria apresentado um estudo da Secretaria de Turismo que aponta um impacto de R$ 5 bilhões para os municípios por conta do estímulo dado com os novos períodos de férias, referindo-se às duas semanas em abril e em outubro.

Já o Secretário de Educação, em matéria publicada no Portal G1, argumenta que férias de um mês estimulam estudantes a assistirem televisão, uma vez que, segundo ele, “quem está nas redes estaduais e municipais não consegue viajar, fica em casa assistindo TV” (https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/04/26/doria-muda-calendario-da-rede-estadual-de-sp-e-alunos-terao-quatro-periodo-de-ferias-por-ano.ghtml).

Essas informações suscitam algumas reflexões. A primeira é a de que o motivo pelo qual ocorreu a mudança do calendário escolar não está explícito. O governador diz que haverá estímulo ao turismo. Pois bem, o quanto o Estado de São Paulo está aparelhado para receber esses potenciais turistas? Sim, pois se o turismo não girar dentro do Estado, a arrecadação servirá apenas para a economia dos outros estados da União. Em que isso nos beneficiaria?

Apenas para citar um exemplo do descaso do governo paulista com o turismo dentro do Estado. A SP 79, rodovia Raimundo Antunes Soares, há mais de duas décadas – portanto, em todo o período do tucanato frente ao governo do Estado – reclama por melhoramentos, duplicação, sinalização adequada. As péssimas condições dessa rodovia que liga Votorantim a Piedade (e dali segue para Tapiraí e outras tantas) sufoca o incipiente turismo que pouco se desenvolve na região.

A paisagem é bela, cercada de serras, com clima agradável, inúmeras pousadas, restaurantes, hotéis, práticas de turismo rural, barracas de venda de produção agrícola local (caqui, alcachofra, milho…), enfim, toda uma estrutura que não cresce por conta da falta de estrutura básica que se resume na falta de manutenção e melhoramento das condições da rodovia.

Esse é apenas um exemplo do descaso do governo paulista para com o turismo paulista. Não dá para engolir, portanto, a justificativa de que o turismo será aquecido com outros períodos – ainda que curtos – de férias escolares.

Ademais, os filhos não saem em férias sem os pais. Quais serão os pais que poderão acompanhar seus filhos nessas semanas de férias? Pura falácia. Em verdade, o Secretário de Educação foi mais honesto: o governo valoriza quem possui melhores condições econômicas.

Isso porque, e aí está a segunda reflexão, o período “longo” de férias não é o problema crucial da Educação e nem mesmo prejudica o ritmo de estudo. Prova disso é que os países tidos como desenvolvidos, onde a Educação possui melhores índices do que a do Brasil possuem férias mais longas devido aos períodos de intenso inverno. A despeito disso, alcançam índices elevados do nível de Educação.

A Finlândia, tida como um dos países com uma das melhores educações do mundo possui férias escolares mais longas que a do Brasil. No site da BBC, a Finlândia aparece com os seguintes dados: “Seus estudantes de 15 anos ficam geralmente nos primeiros lugares dos rankings do Pisa, teste internacional que avalia conhecimentos em leitura, matemática e ciências (na edição mais recente, o Brasil amargou a 66ª posição em matemática, por exemplo, de um total de 72 países avaliados). A habilidade da Finlândia em produzir resultados acadêmicos impressionantes é fascinante para muitos, já que as crianças do país só começam a frequentar a educação formal aos sete anos. Além disso, eles têm jornadas mais curtas, férias mais longas, poucos deveres de casa e não fazem provas. Mas, apesar desse sucesso, a Finlândia está reformando seu sistema, algo que o país considera vital em uma era digital na qual as crianças não dependem mais apenas dos livros e das aulas para adquirir conhecimento” (https://www.bbc.com/portuguese/internacional-40127066).

O problema da Educação no Brasil é que a comunidade interessada (pais, educadores, gestão escolar, estudantes) tem menos voz ativa nas mudanças do que os políticos. Apesar de utópico, seria benéfico que a Educação não tivesse atrelada a interesses políticos e muito menos partidários, mas sim ao que de fato importa: a qualidade do serviço prestado.

 

Carlos Carvalho Cavalheiro – 1º de Maio de 2019

carlosccavalheiro@gmail.com

 

 

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