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O leitor participa: Marcos Francisco Martins: "'Idiota' é quem me diz!"

Prof. Dr. Marcos Francisco Martins

Artigo: ‘Idiota’ é quem me diz!

Ao comentar as manifestações do dia 15/05/19 contra o contingenciamento de verbas para a educação, que envolveram milhões de pessoas nas ruas em mais de duzentas cidades Brasil afora, Bolsonaro, nos EUA (Dallas – Texas), as identificou como sendo protagonizadas por “idiotas”. Cabe, então, saber o que significa essa palavra, para corretamente empregá-la.

Parece que o presidente utilizou o termo “idiota” no sentido corrente, coloquial, qual seja para designar aquele ou aquela que carece de inteligência, de discernimento; o tolo, ignorante, estúpido, inculto. Sem entrar no mérito da própria palavra, essa fala, arrogante e desqualificadora da comunidade educacional, é lamentável se pronunciada por qualquer cidadão, sobretudo, pelo presidente da república, porque não é isso o que se espera do comportamento republicano do chefe de uma nação que se quer minimamente civilizada.

Todavia, cabe conhecer a etimologia (origem e evolução das palavras) de “idiota”, porquanto, ao fazê-lo, novas possibilidades se abrem para bem qualificar quem é e quem não é o “idiota” no contexto presente.

Historicamente, a palavra “idiota” reporta-se à realidade grega antiga, que marcou fortemente a cultura ocidental. Entre as heranças recebidas da Grécia antiga está, inegavelmente, a política e a democracia.

No contexto econômico, social, político e cultural grego antigo, as cidades (pólis) eram formações econômico-sociais com grande autonomia, isto é, a Grécia antiga não formava um país, uma nação, como modernamente concebemos. Era, de fato, um conjunto de cidades independentes umas das outras, localizadas na península balcânica e cada qual com um perfil muito próprio. Os habitantes das pólis gregas, isto é, das cidades, eram os chamados políticos, o que mais tarde encontrou na civilização romana a tradução de “cidadãos”, uma vez que em latim o termo empregado para se referir à cidade é “civitas”.

Uma das mais importantes cidades gregas antigas era Atenas, que se notabilizou pelo pujante desenvolvimento cultural durante o período clássico (508-322 a.C.). Nela, os políticos formavam um pequeno grupo de pessoas, já que dele se excluíam crianças, mulheres, estrangeiros e escravos. De maneira que cerca de apenas 3% a 4% da população gozavam da condição de ser político e, assim, intervir nos rumos da cidade, ajudar a gerenciá-la, o que era feito em praça pública, por meio do diálogo, isto é, democraticamente. Era, portanto, um tipo de democracia direta, pois os políticos não elegiam representantes como no Brasil atual, o que se faz pelo voto, embora fosse uma democracia restrita a um pequeno grupo de pessoas, sem voz e vez para a maioria social.

Mas havia um grupo de políticos que, mesmo gozando de condições econômicas (ser proprietário para dispor de tempo a dedicar à vida política), sociais e culturais de poder ajudar no gerenciamento da cidade, de participar de seu governo, negava-se a isso e se recolhida na pequenez da individualidade, evitando o diálogo público, vendo o outro como “agente de um desacato, a encarnação de um desaforo, um delinquente, que merece sofrer medidas policiais” (Leandro Konder – O “ídion” e o “idiotes”). A esse grupo de indivíduos os gregos chamavam de “idion”, do qual derivou, historicamente, a palavra “idiota” em português. Portanto, “idiota” é palavra que, para além do uso coloquial que dela se faz, reporta-se a alguém que se nega participar do exercício do governo, da dinâmica da vida política que define os rumos da vida de uma coletividade social.

Ocorre que, além de chamar de “idiotas” os estudantes e professores que estavam nas manifestações intervindo nos rumos da pólis brasileira hodierna, Bolsonaro, na posse do novo Ministro da Educação, Abraham Weintraub, ocorrida em 09/04/19, disse que “Nós queremos uma garotada que comece a não se interessar por política”. Decorre entender dessa fala que ele despreza a arte da política.

Tendo como referência os dois sentidos da palavra “idiota” apresentados (coloquial e histórico), o leitor, especialmente os que participaram das manifestações contra o contingenciamento de verbas para a educação, tem condições de inferir por si mesmo quem são os idiotas atualmente, mas uma das conclusões só pode ser, se considerado o que foi dito, que idiota é quem me diz!

Prof. Dr. Marcos Francisco Martins

Professor da UFSCar campus Sorocaba

e pesquisador do CNPq

Sergio Diniz da Costa
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