FUNDO DO POÇO
Não convém menosprezar a crise fiscal e ética que ronda o país.
Em alguns setores, as penúrias e deficiências já são históricas, mesmo em tempos de bonança. É o caso da saúde pública, que, apesar de algumas ilhas de excelência e bom atendimento, sempre foi considerada ineficiente e tardia.
A crise, apesar de rotineira, tem o condão de tornar precário o atendimento à saúde, em centros que conseguiam fugir a tão funesta regra. Em alguns municípios, a cooperação entre poderes, profissionais e sociedade conseguiu manter níveis aceitáveis de atendimento, movidos a meritório voluntariado.
Apesar de grave, a crise na saúde segue, agora, acompanhada da pior das mazelas sociais: o desemprego. Milhões de brasileiros, e respectivas famílias, persistem alijadas do mais comezinho dos direitos, o de sobreviver trabalhando.
Qualquer aceno de vagas reúne multidões, sequiosas por um lugar ao sol. O desemprego aniquila ânimos e interfere nos círculos familiar e social, tendendo a desagrega-los.
O desempregado involuntário experimenta, em sua inteireza, a sordidez humana, passando a ser desvalorizado em de círculos sociais e familiares. Até o cachorro da família passa a latir, para o infeliz.
Encontrar um desempregado significa, no ideário popular, risco de algum pedido de ajuda ou empréstimo, conduzindo ao isolamento. O desemprego pode, em muitos casos, ensejar a manifestação de instintos até então contidos, como a desonestidade ou o apelo ao álcool e drogas.
Apesar dos componentes fiscais e da recessão econômica, que inibem o crescimento e a geração de empregos, agravada pelo odioso contexto legislativo que retarda ou impede soluções, a sociedade pode e deve colaborar para a minimização das mazelas do desemprego. É chegada a hora de exercitarmos um pouco a solidariedade humana.
Pequenas obras e consertos, mesmo não urgentes, podem ser iniciados, e não faltam obras sociais, leigas ou religiosas, passíveis de colaboração. A simples disponibilização de lixo reciclável pode disponibilizar recursos a sequiosos por trabalho.
Inútil o apelo a governos e legislativos de todos os níveis, para que encetem rigor e economia nos gastos, eliminando supérfluos e moralizando a máquina pública. Tais impropriedades existem desde 1.500, e persistem íntegras por absoluta insensibilidade, desfaçatez e irresponsabilidade dos ordenadores de despesas.
Até agora, e por séculos, nossos gastos públicos foram imprevidentes, e sempre fomos alertados de que estávamos próximos ao fundo do poço, que teimava em estar um pouco abaixo.
O fundo do poço chegou.
Pedro Israel Novaes de Almeida
pedroinovaes@uol.com.br
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.