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Artigo de Marcelo Augusto Paiva Pereira: 'Cidades Latino-americanas da modernização'

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CIDADES LATINO-AMERICANAS: INSTRUMENTO DA MODERNIZAÇÃO

 

Na segunda metade do século XX as grandes cidades latino-americanas foram objeto de diversos estudos, inclusive de historiadores americanos, que pensaram em um modelo – um “tipo urbano” – que contivesse todas as suas elementares. O presente texto abordará, ainda que superficialmente, esses estudos.

No período de 1950 a 1970 os pensadores acreditaram nas cidades latino-americanas como finalidade da modernização, com vistas a transformar a sociedade pré-industrial em industrial. O entendimento era o de que a modernização seria a aludida transformação da sociedade, enquanto a sociedade industrial era a sociedade moderna, dos tempos modernos do progresso.

A teoria desenvolvimentista e a do “contínuo folk urbano” foram acolhidas para justificar esse posicionamento, cujos pensadores acreditavam no desenvolvimento da América Latina, inclusive com ética capitalista própria (assemelhada à ética protestante e o espírito do capitalismo, defendida por Max Webber), conforme entendeu o historiador americano Richard Morse.

Richard Morse examinou a cidade de São Paulo e concluiu que era exceção (“yankee”) ao modelo de urbanização das demais cidades latino-americanas, crendo que a capital paulista não teria se submetido ao “contínuo ‘folk’ urbano” e que a indústria paulistana seria adaptada aos costumes locais, atingindo sua eficiência através das tradições e não por índices de produção (estes são universais, não tem pátria).

A ele São Paulo teria acolhido a cultura da pobreza – teoria criada pelo antropólogo Oscar Lewis –, a qual acolhia a cultura rural como necessária ao progresso da sociedade, devendo coexistir com a cultura industrial e aos migrantes preservá-la diante da realidade urbana em que se inseriam.

A teoria do contínuo “folk” urbano foi criada na Escola de Chicago pelo sociólogo Robert Redfield, era apriorística – baseada em conceitos pré-definidos (tipificados) –, compunha a cultura industrial e devia ser promovida pelos poderes públicos, no sentido de transmiti-la aos migrantes para adaptá-los ao ambiente urbano – e moderno.

Sem óbice da excepcionalidade da cidade de São Paulo, as cidades latino-americanas também conduziriam a modernização acelerada por políticas públicas em benefício do planejamento urbano da região. Seriam dirigidas à população marginal, desprovida da cultura urbana (industrial) e às moradias populares, projetadas para os trabalhadores urbanos (operários). A realidade, porém, apontou para o fracasso da teoria desenvolvimentista e para rumos diversos do esperado.

No final da década de 60 do século XX estava surgindo a teoria da dependência, que abordava a urbanização como causa do subdesenvolvimento porque não transformou a sociedade, não industrializou as cidades latino-americanas como almejado, não criou habitações populares suficientes nem adaptou a população marginal com a cultura urbana (industrial) e foi tratada como patologia. As referidas cidades deixaram de ser a finalidade para servir de instrumento à modernização, meras expectativas que favoreciam as elites.

Em 1970 a teoria da cultura da pobreza e a da dependência se consolidaram e São Paulo perdeu a excepcionalidade com que foi examinada anteriormente. No período que se iniciava Richard Morse a entendeu como modelo-padrão de cidade latino-americana e dela quis abstrair as elementares que poderiam tipificar as demais cidades, tratando-as – inclusive São Paulo – como cidades artificiais.

Foram entendidas como cidades artificiais porque surgiram com a finalidade de explorar e espoliar as riquezas nativas, servindo de entrepostos às suas metrópoles, sem se adaptarem ao novo mundo. E no atual período foram vistas como dependentes do capital estrangeiro para que pudessem se desenvolver, mas não tiveram êxito porque essa dependência limitou as oportunidades de sucesso da urbanização, retardando o desenvolvimento.

Nesse período a modernidade das cidades latino-americanas deveria ter características próprias, decorrentes dos primórdios (surgiram como núcleos de expansão territorial) e da consolidação territorial (tornaram-se núcleos de atração populacional), tipificando-as e distinguindo-as das cidades europeias.

CONCLUSÃO

A ideia de cidade latino-americana resulta de uma construção cultural cujas teorias acolheram as elites como condutoras do desenvolvimento através da urbanização e da industrialização, que não se operaram como previsto e conduziram as cidades ao subdesenvolvimento.

A tipificação das cidades latino-americanas, pretendida por Richard Morse, porém, acolheu a dependência estrangeira desde os primórdios da colonização até o período atual, cujo capital estrangeiro sempre limitou o desenvolvimento urbano e industrial delas.

Por fim, foram tipificadas como cidades artificiais porque serviram somente de instrumento da modernização – e não de finalidade a ela. Nada a mais.

Marcelo Augusto Paiva Pereira

(o autor é aluno de graduação da FAUUSP)

 

FONTES DE PESQUISA

ARAVECCHIA, Nilce, BRITO, Flavia, CASTRO, Ana. Evolução do Equipamento da Habitação. FAUUSP. De 02.03 a 08.06.2015. Anotações de aulas. Não publicadas.

IFCH.UNICAMP.BR. Disponível em: http://www.ifch.unicamp.br/ojs/index.php/urbana/article/view/1530/pdf. Acessado aos 03.08.2015.

SCIELO.BR. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ts/v17n1/v17n1a04.pdf. Acessado aos 03.08.2015.

 

Marcelo Paiva Pereira
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