O jornalista Jotabê Medeiros está lançando um livro sobre Raul Seixas que, como o de Rodrigo Janot sobre a própria imagem no espelho de seu narcisismo exacerbado, preencherá muitos espaços no noticiário não em função da obra em si, mas de um factoide suposto ou real.
O livro sobre o Raul contém elucubrações a respeito de o maluco beleza haver, de alguma forma, contribuído para a prisão e tortura de Paulo Coelho por parte do DOI-Codi.
Mas, não há nada realmente conclusivo, fica tudo no campo das especulações e de uma ilação tirada a partir de um relatório da repressão que também não é taxativo.
Então, informo ao biógrafo fofoqueiro (e não é a primeira vez que escrevo isto) que tais relatórios e inquéritos eram verdadeiros sambas do crioulo doido. Primeiramente, porque condensavam informações arrancadas de torturados e estes, percebendo o que os inquisidores sabiam ou acreditavam saber, geralmente o corroboravam para evitar mais torturas.
Depois, ao encerrarem os inquéritos, os responsáveis apresentavam tudo que haviam apurado como se tivesse sido afirmado por todos os réus, quando, na verdade, era a soma do que vários haviam admitido, um pouco cada um.
Na década passada, recebi um levantamento de tudo que havia a meu respeito nos arquivos do Deops. Parecia obra de ficção. Eu era citado como presente em episódios que nem sequer conhecia (caso de um tribunal revolucionário do qual não fui juiz, embora a propaganda enganosa das viúvas da ditadura até hoje repita tal fake news).
Como recebi aqueles depoimentos na íntegra e não apenas os trechos a mim referentes, também notei que em várias ações armadas a autoria era atribuída a um número excessivo (o dobro do real, ou mais) de companheiros.
Minha conclusão, enfim, é de que algo tão nebuloso e difícil de apurar tanto tempo depois como o que se está atribuindo ao Raulzito JAMAIS deveria ter sido incluído numa biografia. Por que e para que colocar sob suspeição, sem certeza nenhuma, um mito libertário da magnitude do Raul?
Daí a repórter que o entrevistou para a Folha de S. Paulo ter incluído esta pérola no seu texto:
“Medeiros, por sua vez, crê que Coelho não tem a menor dúvida, hoje, após ver o documento, de que Raul o entregou’“.
Que documento? Aquele mesmo da repressão que, noutro trecho da entrevista, é assim mencionado pela entrevistadora: “Mas, mesmo os papéis oficiais não são conclusivos”. Durma-se com um barulho desses…
.OS MAGOS CARLOS CASTAÑEDA E PAULO COELHO EXIBIRAM O MESMO NÚMERO: A TRANSMUTAÇÃO DE LOROTAS EM OURO — De resto, já que Paulo Coelho habilmente ajudou a magnificar uma besteirinha dessas sem assumir francamente o ônus de acusar o ex-parceiro e receber o troco de quem acha tudo isso uma deplorável forçação de barra (meu caso!), vou lembrar o que me fez nunca mais levá-lo a sério.
Quando bebi e papeei algumas vezes com o Raul no início da década de 1980 (mais sobre isso aqui e aqui), muita coisa se apagou da minha mente por causa das disputas de levantamento de copos que travávamos, mas algo me chamou tanto a atenção que retive para sempre na memória.
Segundo Raul, ambos eram tão interessados em ocultismo que se davam ao trabalho de traduzir, apenas para uso próprio, livros quase desconhecidos de bruxos famosos do passado. Se bem me lembro, não só os que estavam publicados em idiomas vivos, mas até do latim.
Então, somando dois e dois, encontrei quatro. Percebi que Paulo Coelho de mago nunca teve nada e apenas utilizara essas informações que possuía para vestir uma fantasia de Merlin e enganar os otários com livros bem inferiores, p. ex., aos de Carlos Castañeda.
Aí, percebendo que faturaria muito mais fingindo ter vivenciado pessoalmente tais experiências ao invés de haver tomado conhecimento delas prosaicamente gravando depoimentos, jogou a tese acadêmica que estava escrevendo no lixo e lançou o ficcional A erva do diabo, em cuja veracidade tanto bicho-grilo acreditou piamente.
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros, Editor-Geral do Jornal Cultural ROL e um dos editores do Internet Jornal. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA. Membro Fundador das seguintes entidades: Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA; Academia Hispano-Brasileña de Ciências, Letras e Artes – AHBLA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola – NALLA e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 7 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Dr. h. c. em Literatura, Dr. h.c. em Comunicação Social, Defensor Perpétuo do Patrimônio Histórico e Cultural Brasileiro e Honorável Mestre da Literatura Brasileira; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela Academia de Letras de São Pedro da Aldeia e Associação Literária de Tarrafal de Santiago, Embaixador Cultural | Brasil África – Adido Cultural Internacional