Arquitetura vernacular: uma obra de raiz
Arquitetura vernacular é o nome atribuído às obras populares de qualquer cultura e em qualquer região. O presente texto a abordará, mesmo suscintamente, como abaixo segue.
A palavra “vernacular” deriva do latim “vernaculum” e significa doméstico, nativo ou indígena. Referida fonte latina surgiu da palavra “verna” – de provável origem etrusca – que significa “escravo nativo” ou “escravo nascido em casa”. Ao tempo do Império Romano a palavra “vernae” indicava a linguagem vulgar (falada pelo povo).
Introduzida na órbita da arquitetura, qualificou-a de arquitetura doméstica ou nativa, com o fito de apontar para as obras produzidas pelas comunidades que se fixaram em determinados locais ou regiões e lá criaram raízes (doméstica) ou, então, àquelas originárias dos locais ou regiões (nativa). Todas, porém, de natureza vulgar (popular).
Em qualquer desses casos a arquitetura vernacular é uma forma de construção resultante do ambiente em que se insere, depende dos recursos e meio ambiente social e natural do local, da cultura e da condição econômica da comunidade local. É uma arquitetura rural, empírica, prática, transmitida entre gerações, não há a atuação de arquitetos ou engenheiros e é própria de época e lugar específicos. Representa a linguagem (identidade) de cada comunidade ou grupo.
Ela tem fulcro no conhecimento da comunidade (tecnologia autóctone), tem o objetivo de atender às necessidades dos indivíduos e da comunidade (ou grupo) e faz foco nas funções que deve realizar o tipo do edifício, sem vistas à estética (esta é consequência da conclusão da obra e não sua elementar).
O emprego dos materiais é racionalizado para a disponibilidade de mão-de-obra local e não há excessos (é reduzida a agressão ao meio ambiente). As obras resultantes são simples e práticas, sejam residenciais ou destinadas a outros fins. A arquitetura vernacular se compõe de um conjunto de conhecimentos elaborados pela experiência dos membros da comunidade e pela transmissão às gerações sucessivas (tradição).
Por ter origem popular, a arquitetura vernacular não tem regras pré-estabelecidas, não é escola arquitetônica nem corrente artística, assim como não é estilo específico. Ela não se compõe de padrões ou regras pré-concebidas de estilo. Nas cidades incorpora à sua origem elementos do ambiente urbano, o que a configura num híbrido, um mosaico de elementos constitutivos.
Por vezes à arquitetura vernacular é atribuído o sinônimo de “arquitetura primitiva” e “arquitetura tradicional”. A arquitetura primitiva tem traços de similitude, mas não é a arquitetura vernacular. Pode, entretanto, ser uma espécie mais antiga dela, uma ramificação. É tradicional porque se compõe da tradição em suas comunidades (ou grupos).
Aludida arquitetura evolui com o tempo e se adapta aos lugares em que se insere. Pode ser aplicada a certos tipos de construções ou à arquitetura em países desenvolvidos e em sociedades urbanas. São exemplos os Bangalôs de Chicago (Estados Unidos da América), as “Malay Houses” (Malásia) e as habitações das favelas nas grandes cidades, além de outras.
Conclusão
A arquitetura vernacular é uma obra de raiz porque tem sua fonte na cultura popular, cujo conhecimento da comunidade (ou grupo) é transmitido pelas gerações sucessivas (tradição) e tem o objetivo de atender às necessidades de moradia e sobrevivência dos indivíduos e da comunidade (ou grupo).
Ela não é principiológica porque não cria doutrina nem ciência. É arquitetura popular e depende dos recursos e meio ambiente do local, da cultura (tecnologia autóctone) e da condição econômica da comunidade (ou grupo) local. Nada a mais.
Tabela da arquitetura vernacular
Arquitetura Popular |
Forma de construção resultante do ambiente social e natural; execução empírica, sem regras pré-estabelecidas; não é escola arquitetônica nem corrente artística; não é planejada nem conduzida por arquiteto ou engenheiro. |
Depende de cultura local |
É elaborada pela cultura da comunidade (tecnologia autóctone); visa atender às necessidades individuais e da comunidade; transmite-se pela tradição e é duradoura. |
Depende dos materiais do local |
Utiliza-se dos materiais encontrados no local ou região (madeira, pedras, terra, folhas, gelo, etc); não há excessos e não agride o meio ambiente. |
Depende do ambiente social e natural do local |
Depende do clima e das condições geográficas e topográficas do local; adapta-se aos locais em que se insere; é tendenciosamente sustentável (depende dos materiais utilizados e da quantia deles; das necessidades individuais e da densidade populacional da comunidade). |
Depende da condição econômica da comunidade do local | O emprego dos materiais é racionalizado à disponibilidade de mão-de-obra no local; as obras são simples e práticas. |
Marcelo Augusto Paiva Pereira – paiva-pereira@bol.com.br
(O autor é arquiteto e urbanista)
FONTES DE PESQUISA
BONDUKI, Nabil Georges. Habitação de Interesse Social. FAUUSP. De 03.08 a 07.12.2015. Anotações de aulas. Não publicadas;
BRASILIACONCRETA.COM.BR: http://brasiliaconcreta.com.br/o-que-e-arquitetura-vernacula/. Acessado aos 05.03.2020;
44ARQUITETURA.COM.BR: http://44arquitetura.com.br/2019/08/arquitetura-vernacular/. Acessado aos 05.03.2020;
UGREEN.COM.BR: https://www.ugreen.com.br/arquitetura-vernacular/. Acessado aos 05.03.2020;
PT.WIKIPEDIA.ORG: https://pt.wikipedia.org/wiki/Arquitetura_vernacular. Acessado aos 05.03.2020;
WWW.VITRUVIUS.COM.BR: https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/17.201/6431. Acessado aos 05.04.2020.
FONTES DAS IMAGENS
- Bangalôs de Chicago (E.U.A.):
44ARQUITETURA.COM.BR: http://44arquitetura.com.br/2019/08/arquitetura-vernacular/. Acessado aos 05.03.2020;
- “Malay Houses” (Malásia):
44ARQUITETURA.COM.BR: http://44arquitetura.com.br/2019/08/arquitetura-vernacular/. Acessado aos 05.03.2020;
- Habitações das favelas (grandes cidades):
AVENTURASNAHISTORIA.UOL.COM.BR: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-brasil-favelas-cariocas.phtml. Acessado aos 05.04.2020;
- Le Corbusier & terraços-jardins - 7 de novembro de 2024
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Natural de São Paulo (SP), Marcelo Augusto Paiva Pereira é arquiteto e urbanista