novembro 22, 2024
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Artigo de Celso Lungaretti: 'Não passa de mais um pacote torto e natimorto'

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NÃO PASSA DE MAIS UM PACOTE TORTO E NATIMORTO

Por Celso Lungaretti, no blogue Náufrago da Utopia.
Estes nos faziam rir…

A Folha de S. Paulo intimou, Dilma obedeceu.

“Medidas extremas precisam ser tomadas… É imprescindível conter o aumento da dívida pública e a degradação econômica” –esbravejou Otávio Frias Filho, o boneco de ventríloquo por meio do qual os banqueiros trombetearam seu ultimato.

Dilma repassou a Diktat para os atônitos Nelson Barbosa e Joaquim Levy, o Gordo e o Magro da chanchada nacional.

Com o cansaço estampado nos rostos e barbas por fazer, ambos vieram apresentar o novo saco de maldades (que dificilmente o Congresso aprovará, começando pela volta da impopularíssima CPMF, uma lâmina de guilhotina pairando sobre a reeleição do parlamentar que cair na besteira de fazer a vontade da Dilma… quer dizer, do Trabuco do Bradesco).

Só com ela o governo pretende garfar R$ 32 bilhões da sociedade para acertar a contabilidade dos bancos, enquanto a recessão se agrava, as máquinas param, as lojas fecham e os empregos evaporam.

os anjos da cara suja fazem chorar.

Lênin já cantara a bola em 1900 (Imperialismo, etapa superior do capitalismo): quem dá as cartas na dita fase é o setor parasitário e inútil da economia, o da agiotagem institucionalizada. A indústria e a agricultura (que produzem bens) e o comércio (que distribui os bens) se tornaram sócios menores, sem poder de fogo para confrontarem os Trabucos. Só lhes resta exercerem o jus sperniandi, conforme lemos na coluna do Vinícius Torre Freire:

Pelo menos parte da indústria vai fazer campanha feroz contra (Fiesp). A CNI preferiu não dizer nada além de que é ‘contra aumentos da carga tributária’ e quer ‘reformas estruturais’. A Firjan foi dura. As associações do comércio de São Paulo criticaram em tom de enorme desalento.

Eis mais maldades do saco:

  • confisco até agosto de 2016 dos reajustes de salário dos servidores federais, lesando-os em R$ 7 bilhões (sempre desprezei menos aqueles que assaltam com armas na mão, correndo muitos riscos, do que aqueles que assaltam com a caneta na mão, não correndo risco nenhum);

  • expropriação (é um termo mais correto do que o utilizado, apropriação) de 30% das contribuições para o Sesc, Sesi, Senai, etc, totalizando R$ 6 bilhões;
  • Minha Casa, Minha Vida terá de trocar de nome, pois, com o corte de R$ 4,8 bilhões, será melhor intitulá-lo Meu Barraco, Minha Vida;
  • o corte de R$ 3,8 bilhões em gastos com Saúde é simplesmente estarrecedor, inconcebível, inaceitável, ainda mais num país cujos sucessivos governos sucatearam a Previdência Social, afugentando o povo para a medicina privada (embora tivessem o compromisso de proporcionar aos trabalhadores, como contrapartida das contribuições previdenciárias, não apenas a aposentadoria, mas também atendimento médico com um mínimo de qualidade).

Para não me chamarem de tendencioso, há também medidas mais ou menos corretas no pacote:

  • a criação (se saísse do papel) de um imposto sobre “ganho de capital progressivo”, que seria cobrado quando dos aumentos de receita das pessoas físicas. Mas, com impacto estimado em apenas R$ 1,8 bilhão e um certo viés de desestimular empreendedores. Há muitíssimo mais grana para ser colhida e motivos muitíssimos melhores para colhê-la no nicho das heranças e grandes fortunas, como fazem as principais nações capitalistas e como o Brasil deveria estar fazendo desde 1988 (o dispositivo constitucional neste sentido não foi regulamentado até hoje!!!);
  • cancelamento de 80% do valor das emendas parlamentares, evitando que R$ 7,6 bilhões sejam desperdiçados para ajudar a reeleger os detentores de mandatos. Se conseguissem colocar o guizo no pescoço do gato seria ótimo, mas nem mesmo os autores da proposta devem acreditar que o felino consentirá, é só jogo de cena);
  • redução de R$ 2 bilhões em despesas discricionárias com DAS (cargos comissionados) e gastos administrativos;
    • economia de R$ 200 milhões com extinção de ministérios e cargos de confiança. Só?! Num país que tem 39 ministérios e só precisa de um terço disto, daria para enfiarem a faca bem mais fundo. De quebra, seriam evitadas miríades de maracutaias tramadas e/ou executadas a partir dessas Pastas.

Resumo da opereta: nem sei por que perco tempo analisando o que não acontecerá. Governo fraco, com a popularidade no fundo do poço, jamais consegue arrochar a sociedade. Os bancos podem muito, mas não podem tudo. E o fracasso anunciado desse pacote torto e natimorto debilitará ainda mais a posição da Dilma.

Quem mandou ela escutar o estrondo do Trabuco? Deste jeito, perderá a audição junto com o cargo…

Padrinho por padrinho, teria sido melhor a Dilma continuar pedindo a benção ao Lula, afinal foi ele quem a colocou lá.

Helio Rubens
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