Óculos escuros
Uso óculos escuros, porque desejo ir ao sol. Porque meus olhos sensíveis não suportam bem a claridade. A luminosidade da tv, os faróis, tudo isso faz minhas vistas avermelharem-se. Evito as notícias, e a vertigem que me invade com a mescla das luzes noturnas nas avenidas movimentadas.
Uso óculos escuros porque choro, e desejo esconder o inchaço de mim. Para quê mostrar aos outros o meu pranto? Enquanto oculto meu úmidos olhos, abro um largo sorriso. Assim me faço camaleoa, mudo a pele. O inchaço das injustiças, desigualdades, do viver em um mundo cão. O inchaço que explode e se transforma em um rio de lágrimas no vai e vem silencioso e camuflado das lentes.
Uso óculos escuros porque tenho negras olheiras. Porque tenho bolsas e marcas do tempo. As paixões desenfreadas, as crises de ansiedade, o filho que não chega, a prova da faculdade, a revisão do livro, a inspiração tardia, a despensa vazia, a luz cortada. O sim, o não, o talvez. A insônia, por tudo isso, me deixou marcas, quase da cor das minhas lentes escuras, com elas, felizmente, confundindo-se.
Uso óculos escuros porque é charmoso. Porque confere ao rosto um status misterioso e enigmático.
Uso óculos escuros porque sim. Porque quero, sem dar maiores explicações.
E por favor, não julgue o ser humano que vai por trás das lentes. Não deseje saber os motivos pelos quais alguém as usa em dias nublados. Não inveje o “Ray-ban” de ninguém. Mas, se porventura você quiser os meus, lhe empresto!
Claudia Lundgren
tiaclaudia05@gmail.com
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Claudia Lundgren, natural de Teresópolis (RJ), é poetisa, escritora e Educadora Infantil. É Acadêmica da ACILBRAS, da AIL e da FEBACLA; é Acadêmica Correspondente da Academia Caxambuense de Letras e da Academia de Letras de Teófilo Otoni, e Membro Efetivo da Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas (SBPA). Também pertence à ALB e a ABC, ambas virtuais. Recebeu Menção Honrosa no I Concurso de Poesia Junina e obteve o 9º lugar no XXXIV Concurso de Poesia Brasil dos Reis, (Ateneu Angrense de Letras e Artes). Foi homenageada com a Comenda Acadêmica Láurea Qualidade Ouro, a mais alta comenda da FEBACLA – Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes e com o Prêmio Cidade São Pedro de Aldeia de Literatura. Participou de dezenas de Antologias Poéticas. No início de 2019 lançou seu primeiro livro solo, ‘Alma de Poeta’ (Editora Areia Dourada), que recebeu o Troféu Monteiro Lobato como o melhor livro de poesia, no evento ‘Melhores do ano 2019’ (LITERARTE), e recentemente, lançou seu segundo , ‘Simplesmente Poemas’, com o selo AIL.