LEMBRE-SE, DILMA, DO QUE ACONTECE COM QUEM GRITA “LOBO!” À TOA…
Celso Lungaretti, no blogue Náufrago da Utopia
Foi patética, despropositada e altamente inoportuna esta declaração da presidente Dilma Rousseff à CNN, em Nova York:
“O grande problema com aqueles que querem o meu impeachment é a falta de motivação. Nós temos que ter muito cuidado sobre isso pelo seguinte motivo: a nossa democracia ainda está na adolescência“.
Como falava em inglês, talvez a “falta de motivação” tenha sido uma colaboração de tradutor pernóstico para piorar o que já era péssimo. Pois motivados os defensores do impeachment estão até demais. O que Dilma lhes reprova é não terem alegado, no seu entender, motivos válidos para seu defenestramento. Só que sobre isto, evidentemente, não cabe a ela opinar, pois é parte interessada. Deveria ficar quietinha e deixar que o Congresso Nacional cumprisse seu papel sem pressões.
Ela também esqueceu o velho chavão de que roupa suja se lava em casa. O que os estadunidenses pensarão de uma presidente que vai alfinetar opositores na casa dos outros, como se fosse casa da sogra?! Será que ninguém do Itamaraty tem coragem de instrui-la sobre como um mandatário deve se comportar no exterior? Gafe.
Se continuar hostilizando os adversários em fez de buscar alguma forma de convivência com eles, os ânimos se acirrarão cada vez mais. Jogar álcool na fogueira é o que lhe convém, em meio à pior crise econômica desde 1990? Se pensa que ganhará algo apostando no enfrentamento, está viajando na maionese. Quando a popularidade de qualquer presidente despenca para um dígito, ele(a) tem mais é de tentar ser simpático, não deselegante. Tiro no pé.
Depois de haver feito a bobagem de, com sua costumeira incontinência verbal, colocar o impeachment nas manchetes quando a mídia ainda o tratava como assunto secundário, Dilma repete a dose com o golpe militar que a referência a “democracia adolescente” subentende. Então como agora, trata-se da última pessoa no Brasil inteiro que deveria bater nesta tecla. Quem grita lobo! à toa, acaba devorado(a). Tiro no pé.
E o pior é que o fez por puro desespero de causa. Já não consegue citar um único motivo positivo para os brasileiros a continuarem querendo no Palácio do Planalto, é incapaz de inspirar esperança. Então precisa recorrer ao alarmismo, “se me chutarem, poderá vir outra ditadura”. Oportunismo.
Se fosse algo além de palavras ao vento para atemorizar ingênuos, teríamos de concluir que Dilma nada entendeu da História da qual participou. Pois o golpe militar de 1964 ocorreu em meio à exacerbação da guerra fria, depois que o assassinato de John Kennedy colocou na Casa Branca um caipira texano que a CIA fazia de gato e sapato, com respaldo no empresariado, da Igreja e da classe média.
O único ponto comum é a rejeição do governo por parte da classe média, estridente mas insuficiente para trazer os tanques às ruas.
Obama e a Europa nem de longe estão apoiando quarteladas na América do Sul (caso contrário a Venezuela já teria puxado a fila), o grande empresariado continua bem distante da porta dos quartéis (por saber que o custo de um golpe –tornar o Brasil um pária aos olhos do mundo, afugentando investidores e atrapalhando exportações– excede largamente eventuais benefícios), o papa Francisco não é conservador como Paulo VI.
Quanto aos militares, são sempre os últimos a aderirem aos projetos golpistas, entrando para fazer o serviço sujo. E nunca tiveram autonomia de voo, são requisitados como jagunços pelo grande capital. Consequentemente, enquanto durar a lua de mel com o Luís Carlos Trabuco e a Dilminha for só paz & amor com os outros donos do Brasil, poderemos dormir tranquilos, pois nada vai haver no ar além dos aviões de carreira.
Existe, contudo, um porém: se hoje o golpe militar não passa de um espantalho erguido por Dilma no meio do seu milharal, adiante poderá, sim, entrar na ordem do dia, caso o descontrole da economia nos arraste a uma depressão econômica, gerando desespero e turbulência. Aí, se o governo for tão incapaz de manter a ordem como se mostra incapaz de deter a deterioração econômica, as baionetas poderão entrar em ação, ocupando o espaço deixado vago pela incúria dos civis.
Mas tal possibilidade, por enquanto remota, não é favorável à Dilma, muito pelo contrário. Pois começamos 2015 com a certeza de que seria um ano perdido e, nestes dez meses, ela fracassou miseravelmente em salvar 2016. As perspectivas só fizeram piorar, mês após mês.
Entraremos em 2016 com a certeza de que vai ser um ano ainda mais nefasto do que 2015, e nada indica que Dilma esteja apta a nos tirar do atoleiro.
Então, se fosse sincero seu temor de um golpe militar e houvesse desapego pelo poder no seu caráter, ela reconheceria que não é nem nunca será a estadista de que tanto carecemos; e que os nós a imobilizarem o País só começarão a ser desatados após sua saída.
Ou seja, o único serviço que pode prestar ao Brasil e a nosso povo explorado e sofredor, neste instante, é a renúncia. Tudo o mais já fez… em vão. E, se insistir em continuar governando à base de tentativa e erro, acabará mesmo fazendo o País explodir.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.