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Cia Os Barulhentos estreia versão audiovisual do premiado espetáculo Aqui Estamos Com Milhares de Cães Vindos do Mar

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Baseado em coletânea de peças curtas do romeno Matéi Visniec, o filme tem direção de Rodrigo Spina e foi todo gravado com os personagens caracterizados em tons de cinza  

Em 2015, a Cia Os Barulhentos estreava no teatro o espetáculo Aqui Estamos Com Milhares de Cães Vindos do Mar, de Matéi Visniec, com direção de Rodrigo Spina. Os artistas optaram – após bem-sucedida montagem de Muito Barulho Por Nada, de W. Shakespeare – por um autor contemporâneo que trata de questões atuais como a solidão e a falta de escuta entre nós.

Tons de cinza, branco e preto cobriam todo o palco, o cenário, os atores e os figurinos, trazendo uma completa ausência de cores que invadia a vida dos personagens e do espectador. Neste ano, a obra ganhou o Prêmio APCA de Melhor Espetáculo e o Prêmio Aplauso Brasil de Melhor Direção.

Com a pandemia veio a possibilidade de fazer uma versão audiovisual e a Cia Os Barulhentos transformou o espetáculo em filme. Aqui Estamos Com Milhares de Cães Vindos do Mar estreia dia 17 de junho pelo Youtube do SESI.

O filme retrata o deserto contemporâneo existente nas relações humanas: seja em aspectos da vida privada, como um casal revendo seu relacionamento após uma relação sexual, seja em aspectos políticos, como uma mãe que deseja atravessar certa fronteira com seu filho e é impedida por não ter um documento válido.

Para o filme, o diretor Rodrigo Spina manteve os intérpretes com caracterização totalmente em tons de cinza, porém, o cenário, desta vez, será a própria cidade – o mar, uma linha de trem, um bar – pulsante e viva, o que chega a dar a sensação de que as fotos foram feitas com chroma key ou são montagens trabalhadas em Photoshop.

“Reproduzimos a peça com as cenas curtas pela gravadas pela cidade, causando um estranhamento estético do preto e branco no fundo colorido e pulsante. Tentamos também colocar uma lupa nas questões humanas dessas figuras. Os problemas, sejam eles do macropolítico quanto do microcosmo de cada indivíduo, são camadas que estão sendo trabalhadas no mesmo nível, pela escolha estética e pela dramaturgia”.

Composta de 15 peças curtas divididas em 3 eixos (fronteiras, agorafobia e deserto), a coletânea é uma obra de caráter aberto (o próprio autor, em nota introdutória, afirma que não há ordem estabelecida para montagem). Para este trabalho, Rodrigo optou por misturar as peças, elas começam e são interrompidas por outras que depois saem de cena para que as primeiras de finalizem, um ir e vir de personagens solitários, que vivem abismos nas mais variadas formas de relações (estado X cidadão, marido X mulher, indivíduo X sociedade etc.).

Apesar dos temas abordados, o texto de Visniec não é desprovido de expedientes poéticos, tampouco de humor, nele se evidenciam as influências do autor, por exemplo, o absurdo de Ionesco – sua maior referência. “Mais do que bradar propostas e soluções às inquietações de nossa sociedade fluídica, o grupo quer colocar esses questionamentos no espectador, e encerrar a encenação não com uma retumbante celebração da capacidade de superação, mas com um instigante silêncio.”, explica Rodrigo.

Ter vivido sob um regime autoritário influenciou definitivamente a obra de Visniec, sendo constante o tema da inadequação do ser humano ante a máquina estatal. Para além disso, porém, o autor não restringe esse conflito ao jugo ditatorial, demonstrando, por meio de um texto ao mesmo tempo lírico e ácido, que a democracia também pode tolher a humanidade do indivíduo, apenas o fazendo de forma mais sutil. “Vivendo em São Paulo, uma cidade com mais de 20 milhões de habitantes, não é difícil perceber que a solidão e a esquizofrenia parecem crescer exponencialmente”, finaliza o diretor Rodrigo Spina.

 

Veronica Moreira
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