O frasco é importante?
Já parou para refletir
sobre a importância que damos
para a estrutura visível de cada um?
Vulgo, carcaça…
É tão raso mediante a magnitude do ser,
do conteúdo daquela matéria, a essência.
Pensava olhando a arte
produzida por Aleijadinho,
uma coisa extraordinária
feita por alguém com imperfeições
nos dedos das mãos.
Segundo o que dizem
ele amarrava nas mãos
as ferramentas de trabalho.
Teve uma doença degenerativa
que o fez perder gradativamente
o movimento dos dedos das mãos.
Quem sabe ainda
ouvir uma música
criada por Beethoven.
Com surdez
fez obras extraordinárias,
como a Nona Sinfonia.
Sentir a vibração da voz de Andrea Bocelli,
cego e com uma capacidade estupenda,
um talento além da matéria.
Diante de tudo ISSO,
penso que vir ao mundo
é uma condição de entrar em contato.
Clarice Lispector já dizia:
“Suponho que me entender
não é uma questão de inteligência
e sim de sentir.
De entrar em contato…
Ou toca, ou não toca.”
Entender meu recado é em igual sintonia.
O que contém em nosso frasco é primordial.
Se falta bons membros, ouvidos ou visão,
no fim das contas, isso não deixa legado,
inclusive será decomposto pela terra.
Se lhe falta capacidade
em ver o outro como completo
independente de lhe faltar a plenitude
de uso de alguma faculdade física
então sinto dizer, limitaste o existir ao que se vê
e a um monte de carne estruturada em ossos.
Talvez devesse olhar com calma
o teto da igreja São Francisco de Assis
pintada por Aleijadinho,
Ouvir a canção de Andrea Bocelli
ou a sinfonia de Beethoven,
Esses são exemplos do “entrar em contato”.
Se nada disso fizer sentir o divino e perfeito
na limitação humana, então, talvez,
permitiu que tudo que é rude e mal
dessa passagem deixasse seu frasco vazio.
Gabriela Lopes
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Formada em Direito, escritora, mentora literária e artista plástica. Palestrante da Feira Virtual do Livro da França e dos Estados Unidos. Já participou das feiras do livro do Perú e do Uruguai. Ela é Dra. Honoris Causa em Comunicação Social pela OMDDH, signatária do Pacto Global da ONU; Dra. Honoris Causa em Intercâmbio Cultural Brasil-África; Certificação da Academy do Pacto Global da ONU sobre Igualdade de Gênero; Pós em Direitos Humanos; Direito Constitucional; Bacharela em Direitos Humanos com ênfase em ciências sociais pela OMDDH. Bacharela em Direito pela Faculdade UNIPAC, Campus de Teófilo Otoni. Experiência no Ministério Público de Minas Gerais em estágio de pós-graduação na Coordenadoria Regional das Promotorias de Justiça do Meio Ambiente da Bacia do Rio Doce (Governador Valadares), atendendo 140 municípios. Membro de academias de letras nacionais e internacionais; Presidente do Instituto AMMAR MINAS; Diretora da Editions Cultive de Genebra; Autora de 6 livros literários, Coordenadora da Revista Cientifíca Multidisciplicar do Instituto Nelson Mandela de Angola- África; Participação do V Simpósio de Português como língua de herança do Japão- Realizado pelo Consulado Geral do Brasil em Hamamatsu no Japão e pelo Internacional Institute of Education and Culture; ganhadora de 34 premiações nas esferas literárias, acadêmicas e artísticas no Brasil e no exterior.