novembro 21, 2024
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Patrícia Alvarenga: 'É preciso viver o luto'

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Patrícia Alvarenga

É preciso viver o luto

Vivemos numa sociedade em que a palavra luto é pouco vivenciada. Restringe-se a um termo usado e encarado, cada vez mais, de forma excepcional. Hipocritamente e, num crescente, passou a ser um tabu. Mas é necessário encarar o luto. E digo o luto clássico: a perda de um ente querido.

Em tempos não muito longínquos, respeitava-se toda uma (necessária) tradição: isolar-se, sofrer, chorar, até não haver (tantas) lágrimas a derramar. E isso requer tempo. Dor, vazio e perda exigem elaboração para serem transformados em saudades.

É preciso abraçar o travesseiro daquele que se foi. Suas roupas, seus lençóis e toalhas… Para relembrar sua presença pelo cheiro. Ver fotos, filmes, objetos e tudo mais que traga recordações.

Sumir de tudo e todos pelo tempo que se entender suficiente. Tempo esse que a frenética sociedade em que vivemos não nos permite mais usufruir. O tempo demandado varia bastante: de apenas semanas a alguns anos. Cada pessoa deve viver o processo do luto até o fim, para elaborá-lo e permitir que ele se encerre. Caso contrário, mais tarde o corpo cobrará o preço. Você adoece. Ou, simplesmente, nunca supera a perda do ente querido. Pontuando: superar não é esquecer, mas retomar a vida com a saudade.

Ouve-se de todos os lados: “Você tem que ser forte!”; “Descansou “; “Foi melhor assim, sofria muito”; “Vida que segue!”; “O tempo cura, siga com a vida“. Deve-se segurar o desejo de dar esses “conselhos” e apenas demonstrar afeto e atenção. Mostrar-se disposto a ouvir ou simplesmente estar disponível. É preciso tempo – quase uma raridade, hodiernamente – para viver o luto. E ele tem e deve ser vivido. Não deve ser evitado!

Numa falsa realidade, ilustrada por postagens em redes sociais, em que todos devem ser (ou precisam mostrar-se) felizes, viver o luto, não é sequer permitido. A cobrança para retomar a vida “normal” é imensa. E as dores são subestimadas. O choro, sufocado. A tristeza, encoberta.

Respeitar a perda alheia: esse comportamento tem que ser reassumido! As pessoas que sofrem não são fracas! Apenas sentem muito a falta de quem partiu! É natural do ser humano sentir dor! Não cobre do outro aquilo que ele não pode oferecer! Deixe o luto acontecer e ser realizado. Assim, a pessoa enlutada crescerá, amadurecerá essa perda e poderá reorganizar sua vida e construir novos significados para outros traumas.

Finalizo esta singela crônica com o pensamento do genial filósofo alemão Arthur Schopenhauer: “A dor profunda, que é sentida pela morte de cada alma amiga, tem origem no sentimento de que existe algo inexprimível em cada indivíduo, peculiar a ele próprio, e está, portanto, absoluta e irremediavelmente perdido”.

 

Patrícia Alvarenga

patydany@hotmail.com

Patricia Danielle de Ataíde Alvarenga
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