Dum tempo a esta parte, tenho vindo a reflectir, nos meus estudos em literatura, a questão dos enunciados linguísticos, uma relação que faço entre as entidades dos textos literários, o conto e o romance, mais especificamente, já que envolvem presença do narrador e narratário, elementos internos ao texto e que, dado o tempo, circunstâncias a que são postos pelo autor, criador do código e cenários, criam discursos, ou melhor, enunciam e tais enunciações resultam em enunciados. No entanto, o meu foco, neste artigo de opinião, não está muito voltado à literatura, mas propriamente à linguística, embora os empréstimos entre ambas funcionam normalmente, e porque é necessário. Então, introduzir a temática relacionando-a com a literatura é um método que encontro para querer dizer que importa a sugestão deste artigo, da necessidade da Pragmática como unidade curricular, que é funcional para qualquer aula em Língua Portuguesa. Senão vejamos:
.
Os estudos sobre a linguagem apresentam-se em três grandes concepções:
(I) como representação do mundo e do pensamento do indivíduo;
(II) como instrumento de comunicação;
(III) como meio de interação. Esta última é a contemporânea por apresentar:
.
a) a língua como objecto de comunicação (no sentido de interação) e, por isso;
b) levar em conta dois elementos em falta nas duas primeiras concepções: O RECPTOR, que é um elemento em falta na primeira, mas existente na segunda, porém passivo; e o ALOCUTÁRIO, que implica a interação, ou seja, que implica um emissor e um receptor activos e responsáveis pelo acto da interação, que é a actividade linguística. Assim, nessa interação, os responsáveis desenvolvem enuciados, no processo das enunciações, aquele que é, então, objecto de estudo da Pragmática. Esta é, portanto, a justificativa do tema deste artigo, que também é uma proposta, sendo que:
.
O enunciado é o resultado do acto da enunciação. Ou seja, as pessoas, em sala de aulas ou não, têm a necessidade de comunicar; mais do que isso, têm a necessidade de interagir. Deste jeito, produzem enunciados. O enunciado é um acto da fala; individual. Citando Martins (2021) em seu trabalho designado “Súmula sobre estudos de enunciação”, enunciados “são unidades do sistema linguístico + unidades do sistema extralinguístico.” Ela considera as situações e contextos a que são produzidos. Assim, a Pragmática surge e, segundo o que se sabe, a Pragmática é parte do estudo da língua que trata de compreender os “sentidos”, e não significados, dos enunciados.
.
Ainda parafraseando Martins, o sentido é, diferentemente do significado, inferências ou informações que se acrescentam a um enunciado. Ao passo que significado é objecto da semântica na sintaxe da frase. Por isso, o significado da frase é calculado pelas palavras que a compõem, ao passo que o objecto da Pragmática é o enunciado, aquilo que se percebe dos enunciados produzidos pelos interlocutores de uma interação, através da situação e/ou contexto.
.
Posto isso, evidencia-se que “interagir”, produzindo enunciados, é a actividade básica, diária e necessária de qualquer indivíduo, falante e dententor de uma língua. Se nos enunciados se expressam sentimentos, pensamentos, modo de ver, de criar; aliás, se isso envolve o conhecimento extralinguístico, portanto, histórico, social, ideológico, está claro que isso é suficiente para fazer com que a Pragmática deixe de ser parte da unidade curricular designada Semântica e passe a ser autónoma, tendo sua própria unidade curricular designada “Pragmática”, nas Instituições de Ensino Superior (IES). Isso a olhar também, e como já dissemos, para a concepção contemporânea de Linguagem, na agrupacão que (Koch, 1992 apud Martins, 2021) faz das três concepções.
.
Voltando ao que acima frisamos, sobre o outro olhar disso em Literatura, perceberemos que, afinal, as impressões causadas pelos narrador e narratário são enunciados que exprimem ideias, pressupostos e implicitos, trabalhado pelo autor. E, aliás, perceberemos, mais importante ainda, que o “narrador” não é, afinal, como nos vêm ensinando século após século, <a pessoa que conta a história>. Outrossim, a considerar as enunciações, ou melhor, os enunciados, que são o resultado final de toda enunciação, estariamos a considerar todo tipo de impressão linguística do falante, a cultural, principalmente. Entender-se-ia, naturalmente, as questões muito debatidas, e que até virou moda, sobre variação e mudança linguística.
.