Ricardo Hirata Ferreira – O GOLPE NO BRASIL. O TRIUNFO DO CAPITAL
Sobre o golpe alguns fatos precisam ser colocados. O primeiro deles é o fato do próprio vice-presidente e seu partido que também era governo romperem com a presidenta e promoverem o golpe de Estado. De forma alguma, pode-se aceitar um presidente que comete este tipo de traição, ele não tem legitimidade.
A presidenta Dilma foi reeleita com mais de 54 milhões de votos. Os votos destes brasileiros foram desrespeitados e jogados no lixo. A maioria dos deputados e senadores que defendem seus interesses não tem moral para julgar e derrubar a presidenta. Ressaltando-se aqui os deputados da bancada “BBB” (Boi, Bala e Bíblia).
Houve sem dúvida um boicote ao governo da presidenta por forças hegemônicas ligadas ao grande capital e por setores conservadores retrógrados com inspirações fascistas. A grande mídia também produziu e inflou a crise política e econômica no Brasil, tomando uma posição unilateral: criou informações e imagens na forma de espetáculo contra o governo. Diariamente a população brasileira, na sua maior parte empobrecida intelectualmente, foi contaminada por toda esta poluição de informações e versões intencionalmente produzidas.
É inegável que os governos Lula e Dilma trouxeram avanços sociais significativos. Dentre eles a criação de mais de 18 Universidades Federais pelo Brasil, espalhadas por todo o território brasileiro, o Programa Mais Médicos, levando médicos aonde eles nunca chegavam antes, porque não existia sensibilidade social para isso, o Programa Minha Casa Minha Vida, a luta pela erradicação da fome, uma vez que as elites sempre foram indiferentes ao sofrimento da fome do outro.
A presença das mulheres em seus governos e a eleição da primeira presidenta mulher também fez justiça ao maior segmento da população brasileira em uma sociedade historicamente patriarcal, machista e misógina.
A tomada do poder pelo então vice-presidente Temer, pelo partido derrotado na última eleição e demais partidos de direita e de extrema direita representam o triunfo de uma agenda neoliberal, que não comporta em sua essência as questões sociais e humanitárias.
Em seu discurso, o então presidente interino fala em tom autoritário sobre a retomada da tese do Estado Mínimo, já executada pela velha política realizada por FHC e assumidamente praticada pelos políticos desta mesma linha. O receituário básico é: sucateamento, terceirização e privatização.
O Estado Mínimo refere-se a uma internacionalização perversa do território brasileiro. A venda do que resta das empresas e dos bancos estatais e a entrada sem compromisso do capital internacional. É o lucro em primeiro lugar, enquanto que o ser humano e o meio ambiente ficam nos últimos lugares.
No mundo das finanças e da força da economia, a política é feita para enfraquecer e fragmentar os trabalhadores, destruir os direitos trabalhistas e fortalecer ainda mais aqueles que detêm o capital. O importante é a eficiência do sistema que intensifica o processo de desigualdade sócio espacial. As leis de maneira geral são usadas e garantem o funcionamento do sistema que privilegia uns, silencia e elimina outros.
Nesta perspectiva de paradigma e governo: a cultura não tem importância, a educação só é útil para produzir corpos domesticados e a saúde deve garantir que as peças das máquinas possam funcionar. É imprescindível que os corpos possam consumir, mas nem todos e nem todos os lugares precisam participar efetivamente do mundo do trabalho e do mundo do consumo. Cultura, educação e saúde têm validade quando são mercadorias. O cidadão desaparece, aparece o consumidor mais que perfeito.
Houve uma mudança de governo, elimina-se um governo que a duras penas tentava impor uma concepção humanista e de desenvolvimento social dentro da mundialização do capital (o que não deixa de ser um paradoxo) para instalação de outro governo, agora pragmático que visa o crescimento econômico a qualquer preço e que está do lado e a serviço não das pessoas, mas do agronegócio, dos grandes latifundiários, dos grandes banqueiros, dos grandes empresários (inclusive os da religião) e das multinacionais e corporações globais.
Ricardo Hirata Ferreira
Doutor em Geografia Humana, FFLCH, USP.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.