Com texto e direção de Aline Filócomo, peça propõe reflexão sobre os sentidos do trabalho nos dias de hoje. Elenco traz as atrizes Natacha Dias, Paula Arruda e Rita Grillo
Depois de uma versão como experimento online, Moscou para Principiantes, escrito e dirigido por Aline Filócomo, integrante da Cia Hiato, estreia no dia 13 de agosto no TUSP – Teatro da USP, e segue em cartaz até 18 de setembro, com sessões de quinta a sábado, às 20h, e aos domingos, às 18h. A peça, que explora diálogos do clássico “As Três Irmãs”, de Anton Tchékhov (1860-1904), desenvolve uma discussão sobre o universo do trabalho no nosso tempo.
O texto, publicado em outubro de 2020 pela Editora Javali, recorre à transcrição poética de uma série de conversas promovidas em dois núcleos de mulheres: três artistas de teatro e um grupo de aposentadas da terceira idade. O elenco é formado pelas atrizes Natacha Dias, Paula Arruda e Rita Grillo.
A ideia de montar a peça surgiu em 2015, quando Aline Filócomo conversava com três atrizes sobre seus trabalhos. “Naquela reunião reconhecemos o fim de certas expectativas até então cultivadas sobre a nossa profissão e, a urgência de reprogramar os nossos rumos profissionais e de reinventar os anseios pessoais. Foi quando começamos a perceber grandes semelhanças entre a nossa conversa e a peça de Tchekhov”, revela a diretora.
“Nós estávamos discutindo um novo projeto artístico do mesmo modo como Olga, Macha e Irina sonhavam em ir para Moscou. Como acontecia com as personagens tchekhovianas, sentíamos que a passagem do tempo nos impunha o confronto com as máscaras sociais impostas e a necessidade de as superarmos. Viver, trabalhar e criar ainda são palavras à espera de um novo sentido, ainda desconhecido”, acrescenta Filócomo.
Em resposta a essa inquietação, surgiu Moscou para Principiantes, que discute, de forma provocativa e bem-humorada, os sentidos atuais do trabalho, relacionando o tema a questões como desejo e capacidade de criação de outras realidades possíveis. E, tanto na dramaturgia como na direção, instalam-se espaços de erro e incompletude, que também se associam a nossa atual dificuldade de compreensão das alteridades.
O espetáculo tangencia poeticamente discussões importantes do atual momento político e social brasileiro, quando cada vez mais a existência é estritamente associada à capacidade humana de produzir: o tempo é transformado em matéria consumível, e o ataque generalizado à arte e à cultura anula o direito à criação e à contemplação.
“Temos a sensação de que hoje em dia não basta sobreviver do trabalho, como nos dizem recorrentemente a sociedade e uma das personagens da peça russa. É necessário sobreviver ao trabalho. Dizem que é preciso trabalhar, produzir e reproduzir. Mas a partir de quê? Para quem? E produzir o quê? O que resta quando isso tudo se acaba?”, filosofa a encenadora sobre questões que nortearam a criação da dramaturgia.
Outra referência importante para a encenação são as figuras das matrioscas, as famosas bonecas russas de diferentes tamanhos que vão se encaixando uma dentro da outra e remetem à imagem da mulher fértil. A própria linguagem da peça opera por um jogo de tentativa e erro na construção e desconstrução dos pontos de vista de três figuras que transitam entre ficções e realidades variadas.
Como as muitas camadas da boneca russa, ora aparecem em cena as personagens Olga, Macha e Irina, de As Três Irmãs; ora são três idosas resgatando suas memórias; ora são as próprias atrizes, que devaneiam imaginando quais seriam as suas pequenas “moscous”.
E até a estrutura do espetáculo, que transita entre cinema, teatro e instalação, e os figurinos, compostos por peças e adereços sobrepostos, remetem a essas figuras cheias de camadas das matrioscas.
“Sobre o trabalho com o elenco, a diretora antecipa: “As três atrizes têm o verbo como condutor da ação. A tentativa de traduzir em palavras, frases e sentidos o ritmo frenético dos seus pensamentos ocupa espaço e produz movimento na cena. Além disso, elas experimentam deslocamentos de linguagem: falas sobrepostas, delays, hiatos de memória e repetições incessantes.”
Sobre Aline Filócomo
Atriz, diretora e dramaturga, Aline Filócomo é graduada em Artes Cênicas pela ECA-USP. É também co-fundadora e integrante da Cia Hiato, com a qual criou e atuou nos espetáculos Cachorro Morto, Escuro, O Jardim, Ficção, 02 Ficções, Amadores e Odisseia.
Como atriz, também integrou o elenco do Centro de Pesquisa Teatral do SESC, coordenado por Antunes Filho, com o qual criou e atuou no Prêt-à-Porter 8; e participou da turnê internacional da montagem francesa Le Retour au Désert, da Compagnie Dramatique Parnas, dirigida por Catherine Marnas. Fez preparação de elenco do espetáculo O Silêncio Depois da Chuva, dirigido por Leonardo Moreira, em cartaz no SESI-SP. Em 2020, recebeu um prêmio de dramaturgia e sua peça Moscou para Principiantes foi publicada pela Editora Javali.
Sinopse
Moscou para Principiantes discute, de uma forma provocativa e bem-humorada, os sentidos atuais do trabalho relacionando o tema a questões como desejo e capacidade de criação de outras realidades possíveis. O texto, publicado pela Editora Javali, recorre à transcrição poética de uma série de conversas promovidas em dois núcleos de mulheres, três artistas de teatro e um grupo de aposentadas da terceira idade, com procedimentos livremente inspirados nos diálogos de “As Três Irmãs”, de Anton Tchekhov.
Ficha técnica:
Direção e Dramaturgia: Aline Filócomo
Elenco: Natacha Dias, Paula Arruda e Rita Grillo
Produção: Aura Cunha
Produção Executiva: Yumi Ogino
Cenário e Iluminação: Marisa Bentivegna
Figurino: Anne Cerutti
Projeção: Grissel Piguillem
Trilha Sonora: Kuki Stolarski
Direção de Movimento: Fabrício Licursi
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
Programação Visual e Fotos: Magon
Serviço
Moscou para Principiantes, de Aline Filócomo
Temporada: 13 de agosto a 18 de setembro, de quinta a sábado, às 20h, e aos domingos, às 18h
TUSP – Teatro da USP – Rua Maria Antônia, 294, Consolação
Ingressos: R$20 (inteira) e R$10 (meia-entrada)
Vendas online em Sympla
Bilheteria 1h antes do espetáculo (R$20 e R$10)
Classificação: Livre
Duração: 55 minutos
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Verônica Kelly Moreira Coelho, natural de Caratinga/ MG, é mais conhecida no meio cultural e acadêmico como Verônica Moreira. Autora dos livros ‘Jardim das Amoreiras’ e ‘Vekinha Em… O Mistério do Coco’. Baronesa da Algustissima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente. Acadêmica Internacional e Comendadora da FEBACLA – Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências Letras e Artes e Delegada Cultural. Acadêmica Correspondente da ACL- Academia Cruzeirense de Letras. Acadêmica da ACL- Academia Caxambuense de letras. Acadêmica Internacional da AILB. Acadêmica Efetiva da ACL- Academia Caratinguense de Letras. Acadêmica Fundadora da AICLAB e Diretora de Cultura. Embaixadora da paz pela OMDDH. Editora Setorial de Eventos e colunista do Jornal Cultural ROL e colunista da Revista Internacional The Bard. Coautora de várias antologias e coorganizadora das seguintes antologias: homenagem ao Bicentenário do romancista e filosofo russo Fiódor Dostoiévski, Tributo aos Grandes Nomes da Literatura Universal e Antologia ROLiana. Instagram: @baronesa.veronicamoreira