Dom Pedro II, o Imperador do Tarot
O quarto Arcano Maior do Tarot, o Imperador, possui reflexões profundas dentro do nosso imaginário de Brasil. Tanto naquilo que gostamos de lembrar, bem como de coisas que certas matrizes ideológicas gostariam que nós, enquanto povo brasileiro, esquecêssemos.
Mas, qual é o motivo de afirmar isso neste texto?
Me permitam, por favor, fazer uma breve digressão…
Bom, a carta do Imperador, nos diversos baralhos de Tarot, é uma carta considerada positiva. Em seu famoso livro, que acompanhava seu baralho, Arthur E. Waite afirmava que a mensagem da carta seria de “estabilidade, poder, proteção, realização, um grande ser humano”. Até mesmo quando invertida (algo extremamente ‘maléfico’ para algumas correntes interpretativas do tarot), o Imperador nos dá uma mensagem positiva de “benevolência, compaixão, crédito” segundo Waite.
Afinal, desde o Tarot de Marselha, há uma equiparação mitológica com Zeus (Júpiter para os romanos) e o Imperador do Tarot. Assim, tal como sua contrapartida astrológica (o planeta Júpiter), o Imperador sempre possui uma mensagem de positividade, mesmo em posições negativas ou de declínio. Relembrando o que disse na minha última coluna aqui no Jornal ROL, o Imperador ser Zeus entra em consonância com a Imperatriz ser Hera (e não Afrodite) e isso constrói toda uma mensagem importante no começo do baralho.
Mas, e o Brasil com tudo isso?
Quando eu leio, estudo (ou, até mesmo, quando faço um atendimento de Tarot Psicodinâmico como tarólogo) a carta do Imperador, sempre me ecoa a voz de meu avô falando do Imperador brasileiro, D. Pedro II.
Para quem acompanha minha imagem social, sabe o quanto eu sou tributário dos ensinamentos de meu avô e quanto sempre busco honrá-lo. E sabe o quanto são inquietações e sabedorias que permanecem vivas em mim.
Ao ler as palavras-chave sobre o Imperador do Tarot segundo Waite – ou seja, “estabilidade, poder, proteção, realização, um grande ser humano”- não consigo deixar de ouvir a voz de meu avô dizendo que “essas também são as qualidades do nosso Imperador, D. Pedro II.”.
De fato, para aqueles que podem estudar de coração e mentes desprovidas de pré-conceitos, vemos o quanto que D. Pedro II tinha de ‘jupiteriano’. Não digo apenas pelas barbas de Zeus, mas também pela sabedoria e construção de benesses daquele que foi considerado um Imperador-sábio.
“Isso aqui não é tirado da minha cabeça;” – dizia meu avô, que continuava – “quem disse isso tudo de D. Pedro II eram pessoas que viveram o tempo dele”. E, de fato, era isso mesmo.
Basta lembrarmos da famosa frase do 25º presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, à delegação brasileira que o visitava: “Não entendo como se estabeleceu no Brasil uma república tendo os senhores um soberano tão filósofo, idealista e bondoso”.
Sim, meus caros: D. Pedro II era uma personificação vívida do Imperador, o arcano Maior do Tarot. Até mesmo naquilo que podemos encontrar de negativo nessa carta tão equacionada. Waite deixou claro que, enquanto invertido, o Imperador pode dar certa inocência ou até mesmo permitir a confusão dos inimigos. Foi exatamente por essa inocência de D. Pedro II e por deixar burburinhos infundados correrem pela capital Imperial que, no Brasil, se estabeleceu uma República.
Infelizmente alguns tarots de abordagem, visando uma releitura histórica e/ou brasileira, não se aproveitam desse fato. Eles não estampam a imagem de D. Pedro II no arcano do Tarot, escolhendo outras personalidades. Entendo perfeitamente, mas lamento. Era disso que queria dizer ao começar este texto. Para muitos, é interessante esquecer que tivemos o nosso Imperador por completo, jogando essa figura em fantasmas republicanos ou até mesmo em fantasias culturais. Paciência!
Assim, às vésperas daquele que é o 89º aniversário (in memoriam) de meu avô – celebrado no próximo 21 de agosto – pego nas mãos o baralho do Tarot de Marselha que foi dele e honro a carta do Imperador. Lembrando não só de todos os seus ensinamentos, mas de todo legado (concreto, imaginário e potencial) que D. Pedro II nos deixou para nós como brasileiros.
E fico aqui pensando quando que a carta do Imperador sairá no Tarot para o futuro do Brasil…
Rafael Venancio
rdovenancio@gmail.com
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024