O homem predador
Outro dia, assistindo TV, ou melhor, procurando algo útil para me distrair, algo em um dos canais Discovery me chamou atenção; ouvi a frase: ‘O homem é um predador formidável.’. Essa frase foi dita por um ex-presidente do Uruguai, que fazia menção ao homem moderno, e as discrepâncias de um continente para o outro, do mesmo gênero humano.
Ele falava que o homem é, ao mesmo tempo, predador e presa de si mesmo. Predador no contexto de não medir esforços para conquistar status, e presa por trabalhar tanto, dando importância a bens monetários, acumulação de riquezas, relegando a segundo plano a própria existência enquanto humano que vive, que sonha e consegue descansar e dar valor à vida em família.
Até o ponto em questão concordei com o senhor ex-presidente uruguaio, mas, a meu ver, vou mais além. Acho o homem um predador incansável, chegando às raias de um predador feroz e sem escrúpulos.
O homem é um animal racional, dotado de inteligência e sentimentos. Mas, alguns agem irracionalmente, ou simplesmente desconsideram o seu semelhante. Não há necessidade de um estudo aprofundado para ver e reconhecer que os humanos estão a cada dia mais irracionais.
Basta ver os noticiários, coisa que muito me aborrece, quando não é sobre política, o assunto discorre sobre alguma falcatrua ou desgraça alheia. E cá com meus botões, como diria minha avó, penso: só os humanos devastam uma floresta para fazer um pasto para ruminantes; ou lançam à terra agrotóxicos e pesticidas para poder plantar sementes, sem notar ou se preocupar com o envenenamento do solo.
O homem que tem dinheiro e poder esbanja, mostra com petulância a sua grandiosidade e importância. É tão inteligente que faz tudo por dinheiro, ou simplesmente é alienado a tal ponto que não enxerga seu semelhante como seu igual.
No mundo todo há o hemisfério dos grandes e ricos, e dos que nada têm. Vi em um documentário, que grandes empresários no Japão trabalham quase dezoito horas por dia; nesse ponto, concordei com o velho ex-presidente, que o homem é escravo de si mesmo: trabalha para acumular fortuna, para ter uma vida confortável, mas não tem tempo para desfrutar da vida.
Por outro lado, no continente africano, assediado por guerras, disputas políticas, doenças e pobreza, homens, mulheres e crianças não têm o que comer. O mais básico ao ser humano é o alimento. Sem trabalho, moradia e paz, esses seres humanos nem chegam a ser considerados humanos. No documentário mostrava que muitos fugitivos de outros países do mesmo continente, após longos meses de caminhada, tentando ultrapassar fronteiras, morreram de fome no caminho, e outros alcançaram essas fronteiras sobrevivendo à escassez de comida; vi homens adultos dividindo um único ovo. Falavam que o sonho era conseguir um emprego, um par de sapatos, ou simplesmente serem respeitados como homens.
Deus deu ao homem vida, consciência e livre arbítrio; não escalonou em importância, por cor, raça ou credo; somos todos humanos. Por que tanto poder concentrado em alguns? É triste a realidade, e a resposta está no próprio homem. Quando será que deixaremos de ser predadores da natureza, da vida e de nossa própria existência?
Ivete Rosa de Souza
iveterosad@gmail.com
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Natural de Santo André (SP) e ex-policial militar, é uma devoradora de livros. Por ser leitora voraz, para ela, escrever é um ato natural, tendo desenvolvido o hábito da escrita desde menina, uma vez que a família a incentivava e os livros eram o seu presente preferido. Leu, praticamente, todos os autores clássicos brasileiros. Na escola, incentivada por professores, participou de vários concursos, sendo premiada – com todos os volumes de Enciclopédia Barsa – por poesias sobre a Independência do Brasil e a Apollo 11. E chegou, inclusive, a participar de peças escolares ajudando na construção de textos. Na fase adulta, seus primeiros trabalhos foram participações em antologias de contos, pela Editora Constelação. Posteriormente, começou a escrever na plataforma online Sweek a qual promovia concursos de mini contos com temas variados, sendo que em alguns deles ficou entre os dez melhores selecionados, o que a levou à publicação do primeiro livro, Coração Adormecido (poesias), pela Editora Alarde (SP). Em 2022, lançou Ainda dá Tempo, o segundo livro de poesias, pela mesma editora.