Celso Lungaretti: O TOQUE DE SADIM, O$ GOVERNI$TA$ DA BLOGO$FERA E O MACARTISMO ÀS AVESSAS
Por Celso Lungaretti, no blogue Náufrago da Utopia.
A imprensa noticiou o bloqueio, pelo Governo Temer, de “ao menos R$ 8 milhões” que a administração anterior havia destinado a sites, portais e blogues a ela subservientes (não era sem motivo que eu falava em rede chapa branca). A grana seria liberada até dezembro, “em publicidade de ministérios e estatais, como Petrobrás, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal”.
Millôr Fernandes já disse tudo que havia para se dizer a este respeito, quando comparou os veículos que se põem a defender governos a “armazéns de secos e molhados”. Apenas lamento profundamente que colegas jornalistas tenham se prestado ao lamentável papel de a voz do dono.
Após tanto deplorarmos os mercenários da imprensa que puxavam o saco da ditadura militar –chamávamos, p. ex., o Amaral Netto de Amoral Nato–, nós estávamos obrigados a dar exemplo bem diferente.
Alguns deixaram de o fazer, infelizmente. Foram seduzidos pelo que pensavam ser um toque de Midas, mas, perceberam depois, não passava de toque de Sadim —ao invés de transformar qualquer coisa em ouro, transformou tudo em matéria fecal.
MACARTISMO ÀS AVESSAS
O pior é que, ao se tornarem financeiramente dependentes de um partido político, algumas dessas tribunas virtuais passaram a servi-lo de forma incondicional, inclusive encampando seus rancores e acumpliciando-se com suas retaliações mesquinhas ao boicotarem todo e qualquer texto de determinados articulistas de esquerda.
Como não tenho procuração para ser porta-voz de ninguém, tomarei a liberdade de citar meu próprio caso. Politicamente me situo à esquerda do PT, porque é um partido que não se propõe a substituir o capitalismo por um sistema econômico que concretize a justiça social, dando fim à exploração do homem pelo homem; pelo contrário, aceita implicitamente a perpetuação do capitalismo e se propõe apenas a atenuar a desigualdade a ele inerente mediante a implementação de políticas compensatórias (ou seja, comparativamente aos partidos de centro e de direita, distribui aos explorados algumas migalhas a mais do banquete dos exploradores).
Costumo enviar duas ou três vezes por semana meus melhores artigos às principais tribunas da esquerda na internet. Na década passada, muitas os publicavam, ainda que não concordassem inteiramente com minhas posições; depois do pesadelo stalinista, a esquerda aprendeu a respeitar as vozes discordantes dentro do seu próprio campo, abolindo o monolitismo dominante até 1968.
Na presente década, contudo, o PT passou a, cada vez mais, tratar seus adversários de esquerda como inimigos irreconciliáveis, ao mesmo tempo em que fazia as mais esdrúxulas alianças com políticos que, além de serem direitistas empedernidos, serviram abjetamente ao regime militar.
Então, passei a notar que minhas colaborações não encontravam mais espaço nas tribunas que, sem coincidência nenhuma, começavam a exibir farta publicidade governamental.
Pior: não se tratou apenas de censura aos artigos em que eu expressava opiniões divergentes das do PT, mas de boicote a tudo que eu escrevia, desde as homenagens a artistas que iam falecendo até matérias sobre esportes, passando pelo combate às viúvas e aos nostálgicos da ditadura.
Ou seja, irrigados por recursos públicos, passaram a praticar um macartismo às avessas.
Neste momento em que é imprescindível e imperativa a refundação da esquerda, para compreendermos melhor os graves erros cometidos desde 2002 e definirmos estratégias e táticas bem diferentes para o futuro, eis três conclusões obrigatórias:
- jamais se deve dar novamente sustentação econômica a veículos complacentes (em detrimento dos que não são armazéns de secos e molhados) utilizando de forma espúria os recursos públicos;
- jamais censurar novamente quem não pensa de forma 100% igual, mas está inserido no campo da esquerda; e
- jamais boicotar novamente adversários pertencentes ao campo da esquerda,
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.