dezembro 17, 2024
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Fenando Matos: 'Escrito silente'

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Fernando Matos

Escrito silente

As melhores cartas chegam no sábado. Houve um tempo na vida de muitos em que a ansiedade era saudável, onde a expectativa construía sonhos realizáveis. Receber uma correspondência de uma pessoa querida, um parente distante, da amada com papéis floridos e perfumados. Escritos que transcendiam a emoção de ler e viver um momento mágico.

Assim também foi para Aimê e Hermes, duas crianças cheias de luz e alegria. Nasceram na mesma cidade, no mesmo bairro e cresceram com a esperança de perpetuar a felicidade de uma convivência que parecia eterna. Estudando no mesmo colégio chegaram à adolescência com outro brilho no olhar. Todavia, destino é uma estrada cheia de encruzilhadas e no período de alistamento militar Hermes foi convocado para defender o país na batalha contra os inimigos da paz. Aimê, triste e inconsolável, entrou em depressão, o que causou preocupação para seus pais. Foram longos anos de lutas e os dois só conseguiam se comunicar através de cartas que, por vezes, ainda chegavam com marcas de sangue. A dúvida pairava entre os dois que, antes, haviam construído um laço amoroso natural do desenvolvimento humano. A força de Hermes chegava em forma de letras de fé, parecia oração que ao ler se transformavam em louvores de confiança na possibilidade daquela guerra acabar e poder voltar para os braços da amada.

Logo as cartas começaram a não mais chegar e Aimê começava a perder a esperança com receio de algo de ruim ter acontecido. Essa preocupação aumentou e já se passaram quatro anos de guerra e um ano sem receber notícias de Hermes. Os genitores de Aimê levaram a jovem a um médico, porque ela não mais queria comer, ingeria poucos líquidos e dormia quase nada, acordando na madrugada aos gritos chamando o nome do amado. A medicina pode aliviar a dor momentânea, mas a agonia do espírito, essa não há remédio, e a Aimê foi definhando até passar para o mundo espiritual de tanto desgosto com a vida. Após alguns dias de seu falecimento a guerra havia chegado a um fim e todo o país comemorava o retorno de seus entes queridos ao seio do lar. Em um dos trens também estava chegando Hermes, todo esperançoso em rever a adorável Aimê.

O jovem soldado chegou com a patente de tenente, seus familiares e amigos o receberam com pompa de herói, mas ao procurar saber do seu amor recebeu a notícia de sua partida para outro plano, o que lhe causou dor e descontentamento. À noite ele reuniu os seus pais com os genitores de Aimê e explicou que não foi possível enviar ou receber cartas porque a guerra havia se intensificado demais, entretanto, nunca deixou de escrever as cartas para sua amada e sonhava quando podia entregar pessoalmente a Aimê um dia. Ela, no que lhe concernia, também nunca deixou de escrever na esperança que mantém viva a fé em poder compartilhar os escritos com seu amado quando o mesmo voltasse da guerra, isso não foi possível e a tristeza venceu qualquer expectativa.

Os novos dias foram passando e Hermes não saía de casa, só lendo as cartas nunca enviadas, e seus amigos ficaram preocupados com tamanho abatimento daquele combatente que lutou bravamente com inimigos poderosos e retornou ao lar como paladino da nação. Lamentavelmente, após semanas sem ver ermes sair de casa, a população se viu obrigada a arrombar a porta de sua residência e, ao fazer isso, deparou-se com uma imagem triste: Hermes sentado, morto, segurando na mão esquerda as cartas de Aimê e na direita as suas. O silêncio tomou conta da região, ninguém conseguia falar os nomes daqueles apaixonados sem que uma lágrima de saudade não rolasse pela terra melancólica. Então, alguém teve a ideia de publicar todas as cartas e deu o nome ao livro de ‘Escrito Silente’, vidas eternizadas nas palavras.

Sempre que houver possibilidade, escreva, materialize seus sentimentos porque a Vida só continua se houver uma linda história de Esperança e Amor a ser contada.

Fernando Matos

Poeta Pernambucano

Dr h.c. em Arte e Poesia

Dr h.c. em Comunicação Social

(Direitos Reservados ao Autor da Obra)

 

 

 

 

 

 

 

 

Sergio Diniz da Costa
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