A má sorte de Henda
Henda era uma rapariga alta, forte, com lábios grossos e a traseira desempenada. Usava pequenas missangas nos pés e na cintura; colocava ngundi no cabelo e nas vestimentas. Uma rapariga muito respeitada e solicitada pela vizinhança, na Sanzala, local onde, na altura, residia, pois era a única rapariga em toda Sanzala que sabia ler e escrever; uma negra atraente.
Certo dia, Henda ia a busca da água no rio, próximo à lavra dos seus pais quando, de repente, deparou-se com alguns outros jovens da aldeia, que estavam em passagem. Mais à frente, e porque o caminho era da enchente que ia e vinha, o povoado, Henda ainda se encontrava com outros rapazes, mas é no rio onde se deparou com um rapaz, também alto e negro; atraente como ela, era Quessongo, cujo olhar não hesitava e contagiava Henda. Os dois, fixados num ao outro, ficaram sem palavras na boca. Eram apenas os olhos que falavam, os sorrisos que cantavam paixões e gestos atrapalhados, um com um balde nas mãos, e o outro com uma banheira.
Quando Quessongo chegou a casa, sentou com os pais e contou-lhes sobre o que lhe tinha acontecido quando ia buscar água no rio. Falou, até, da lágrima que quase lhe caía dos olhos; não lágrimas de dor, mas da felicidade inegável.
– Eu senti algo, pai, mãe. Eu senti. – falava emocionado. – é ela. Por favor, vamos só falar com os pais dela.
De manhã, muito cedo, os pais de Quessongo foram ter com os pais de Henda. Queriam se antecipar, já que Henda era desejada por quase todos da aldeia. O pai de Quessongo era o soba maior daquela aldeia e queria que seu filho casasse com Henda. Assim, a conversa sucedeu. Um mês depois o anúncio do casamento dos dois ecoava pela aldeia.
– Já ouviram?
– O quê?
– Henda vão lhe casar.
– Quê Henda? Aquela mesmo, nossa Henda? Quem é que vai lhe casar?
– O filho do soba, o Quessongo.
A aldeia era pequena e nenhuma informação daquele tipo tinha duas horas de tempo para se proliferar. Os cuxixos perfaziam todos os cantos da Sanzala e, em menos de um mês, todos sabiam da notícia. Naquele mesmo momento aproveitaram falar do casamento de outros primos Kiala e Tchiquete, que tinha sido uma grande festa cujo barulho se tinha espalhado por toda sanzala.
Depois daquela reunião, os pais de Henda e Quessongo pensavam onde iriam viver os filhos quando se cassassem, pois, a alternativa apontava para a casa do primo Tchiquete, num quintal onde tinham plantado uma mangueira que, quando desse fruto, Kiala tinha que ter o seu primeiro filho, assim manda a tradição da família do marido. Passaram-se 10 meses, e a mangueira já tinha dado frutos, mas Kiala não concebia. Não tinham história pra contar. Isso levou a uma reunião para acertarem o caso, discutirem o problema. A família de Henda, prima de Kiala propuseram ao soba, pai de Quessongo, que dessem só mais um tempinho, 9 meses.
Passado o tempo, nenhum resultado diferente. Kiala continuava a não conceber. Isso fez com que a família de Quessongo exigisse a devolução de todos os bens do alambamento. Travou-se grande discussão, e nada foi devolvido. Infeliz, isso afetou a previsão do caso de Quessongo e Henda, que se apaixonaram no rio, numa tarde de quinta-feira.
Justina Capitango – Luanda, 06 de março de 2023
Justina Tchombe Isaías Capitango nasceu em Luanda-Angola aos 02 de Agosto de 2004. Fez os seus estudos primário na Escola Missionária Santo António, Iº ciclo do Ensino Secundário feito no Instituto Elen White. Actualmente, é estudante do Instituto Médio Técnico Privado de Saúde Gênesis do Saber, onde frequenta o curso de Farmácia. É escritora e design de moda. Membro do Projecto “A Escola e o Livro”, coordenado pelo professor e escritor Orlando Ukuakukula
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024