O reencontro
Era um dia calmo, lá na cidade de Luanda. Cássia vinha do Huambo, onde há duas semanas ia para matar a saudade que ela sentia de seus familiares, primos, tios, irmãos e todos aqueles que lá viviam.
Chegando a Luanda, ficou admirada com as modificações que encontrou, até porque duas semanas não era tanto tempo para tantas modificações. Alegre, chegava a casa, no bairro onde viveu desde os seus cinco anos. Ao chegar, pousou as malas e tomou um banho. Depois disso, saiu para visitar a mãe de sua amiga, amiga essa que via há muito tempo. Foi andando, e estando já perto, encontrou três crianças a brincarem na rua, e perguntou-lhes:
– Tão bem? A tia Rosa está em casa?
– Tá.
– Não está nada. foi na praça.
– Já veio.
– Lhe viste?
Complicavam-se as crianças.
– Tá bom, vou chegar lá. – respondeu a Cássia.
De longe, a tia Rosa viu a Cássia e levantou para a receber.
– Filha, tá tudo bem? – Chegaste quando?
– Cheguei hoje mesmo. Estou bem sim. E a saúde da tia?
– Eu também estou bem, graças a Deus.
Conversaram por meia hora, e a Cassia saiu de lá e decidiu ir à praça. Chegando, comprou algumas coisas, e quando voltava para casa, uma moto parou à sua frente. Assustada, recuou rapidamente, e quando olhou para os que estavam na moto, viu sua amiga, Lueji; emocionada, não sabia o que fazer, se lhe abraçava, se chorava, se sorria… era uma mistura de sentimentos, lembranças boas e ruins. Divertidas e malucas! Por sua vez, Lueji saltou da moto e disse:
– Não acredito, Cássia. É você mesma, minha amiga do coração?!
A emoção tomou conta do lugar. As pessoas a passarem, olhando para o cenário, e elas nem aí. Cássia levou sua amiga para casa de sua mãe. Quando viu a filha abraçou ela. Beijou e ficou muito feliz com a filha em casa.
Depois de tudo, Lueji levou Cássia para o seu quarto. A tia Rosa ficou sentada fora do quintal, olhando a vizinhança.
Cássia e Lueji conversaram de tudo: de suas formações, novas amizades, seus namorados… e perguntou Lueji à Cassia:
– Amiga, me conta as novidades do bairro! E o Bruno, onde anda? Bruno era um jovem apaixonado pela Lueji desde cedo.
– Bruno, hum, até não sei donde começar. Ele virou gatuno. Mata, rouba, fuma, viola, epha, em fim… tira o sossego das pessoas. Desde que sua mãe morreu, entrou nessa vida. Infelizmente, não soube lidar com a perda da mãe.
– O quê? Tia Núria morreu? Quando?
– Já faz dois anos. Foi morta pelos bandidos.
Tão logo terminou de falar aquilo, ouviram muito barulho vindo de fora. Eram tiroteios. Um grupo de meliantes em briga.
– Meu Deus! O que é isso? – admiraram.
Saíram às pressas do quarto para ver o que se passava, e quando chegaram na rua, encontram Bruno, um menino e a tia Rosa estendidos no chão. Muito sangue à volta.
Lueji paralisou e, segundos depois, desmaiou, porque o choque de ver sua mãe estendida no chão, sem saber se estava em vida, ou já morta, era muito. Cássia, atrapalhada com a situação, chorava tia Rosa, tentando acordar a amiga.
– Lueji, Lueji, acorda! – chamava a chorar. – Lueji, Lueji, minha vida… Lueji, meu Deus! O que faço? –insistia chamando a amiga. – Trazem água! Chamem a ambulância! – gritava.
Comentavam algumas pessoas à volta:
– E o Bruno, como fica? Ele já não tem ninguém.
Outras pessoas, ali, só olhavam. Nada faziam para ajudar.
<<uiõ, uiõ, uiõ, uiõ, uiõ…>>
Ouvia-se a polícia a chegar e, em poucos minutos, a rua ficou toda cheia.
Autora: Benvinda Chimalanga
Luanda, 18 de março de 2023
Benvinda José Chimalanga nasceu em Luanda-Angola, aos 12 de maio de 2007. Fez os seus estudos primário nas escolas: Dom Bosco, Cadipovo, Maya e na 4080, o Iº Ciclo frequentou na Escola Comandante Kussumua. Actualmente, é estudante do Instituto Médio Técnico Privado de Saúde Gênesis do Saber, no curso de Enfermagem. Participou do concurso Olimpíadas de Matemática. É escritora, contista. Membro do Projecto “A Escola e o Livro”, coordenado pelo professor e escritor Orlando Ukuakukula.
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024