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O sentido de filosofar

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo: Artigo ‘O sentido de filosofar’

Foto do autor do texto, o colunista Diamantino Bártolo
Diamantino Bártolo

O preconceito antifilosófico existe, ainda que envergonhadamente encapuzado, precisamente por muitos daqueles que, na sua formação superior, tiveram de estudar alguma variante da filosofia, como por exemplo: Filosofia do Direito, Filosofia da Educação; Filosofia da Saúde; Filosofia do Ambiente; Ética e Deontologia Profissional (Filosofia dos Deveres Profissionais), Axiologia (Filosofia dos Valores), Filosofia Política, entre outras disciplinas.

Possivelmente estes cientistas, técnicos, profissionais e executores, quantas vezes já terão recorrido aos ensinamentos e à sabedoria milenar que receberam através da disciplina de Filosofia, e suas variantes que, eventualmente, tenham frequentado, durante o seu itinerário académico, embora, o tal preconceito da “inutilidade” da Filosofia, leve a que nem todos os cursos beneficiem deste ramo do saber, tão importante nos dias de hoje.

Nesta linha de pensamento regista-se o que já se vai fazendo, por exemplo em terras de “Vera Cruz”, a propósito da importância da Filosofia, na formação da pessoa, como na resolução de problemas: «O trabalho filosófico, visto em sua objetividade como o conjunto de formas de expressão cultural e acadêmica, já tem, pois, significativo desenvolvimento no Brasil das últimas décadas. A Filosofia entre nós já não se limita aos escolásticos ambientes dos conventos e seminários nem às iniciativas isoladas de pensadores positivistas. Expandiu-se em todas as instituições de ensino públicas e privadas, nos vários graus, em cursos específicos ou integrando, sob a forma de disciplinas filosóficas, os currículos de cursos de outras áreas do ensino superior. Por outro lado, com a implantação do sistema de pós-graduação no país, vários centros de pesquisa se consolidaram, muitos projectos de estudo e de investigação filosófica foram e estão sendo desenvolvidos, contando, inclusive, com o apoio institucional dos poderes públicos. Tudo isso tem contribuído para que se consolidem, igualmente, uma tradição de pesquisa.» (SEVERINO, 1999: contracapa)

O mundo humano vive um período conturbado, onde a força das armas, dos interesses materiais e das grandes concentrações, quaisquer que elas sejam, perturbam toda uma humanidade que já não tem força para fazer prevalecer o diálogo racional, moderado, apaziguador, embora se continue a acreditar numa oportunidade que possibilite alterar o rumo que muitos dirigentes mundiais, suportados num poderio bélico, económico, estratégico, político ou religioso, têm vindo a imprimir a partir das suas próprias comunidades.

Tudo funciona à volta de interesses, dos mais nobres e altruístas aos mais inconfessáveis desígnios. Poucos dão importância ao diálogo, às soluções pacíficas, ao pensamento dos filósofos, e às propostas que apresentam, para ajudar a solucionar os mais complexos problemas, muitos outros rejeitam a sabedoria dos mais velhos, a prudência dos mais experientes, alegadamente, porque estarão desatualizados, porque são idosos e o seu tempo passou.

O resultado de todo um ostracismo à Filosofia está à vista, e pode ser entendido por um qualquer leigo, ao qual, porém, não se pode pedir explicações, contudo, outro tanto não acontece com aqueles que, considerando-se especialistas de uma parte da realidade, rejeitam, complexadamente, outras alternativas que sejam oriundas da Filosofia.

A prova, mais que científica, que a Filosofia é necessária ao mundo e às pessoas, regista-se no elevado número de conflitos nacionais e internacionais. O sentido do filosofar torna-se, assim, um imperativo categórico universal porque: «O discurso filosófico é necessariamente um discurso sobre o ser, enquanto fundamento de todas as coisas. Na sua inquirição sobre a inteligibilidade radical do mundo, do homem e de Deus, versa o fundamento do valor da verdade do conhecimento e do valor da bondade da ação humana. E o fundamento de todo o valor é o ser. (Ibid:43).

Também, numa perspetiva do ser-cidadão: «… o ser-sujeito é o cidadão-consciente dos seus direitos e deveres – ser que reivindica, que luta por superar a dependência, ser responsável, capaz de compreender a cidadania como participação social e política, ser capaz de assumir seus deveres políticos, civis e sociais, adoptando no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças…» (GONÇALVES, 1999:13).

Bibliografia

GONÇALVES, Francisca dos Santos (Org.), (1999). Formação do ser-sujeito: desafio à prática da cidadania, Belo Horizonte: Imprensa Universitária/UFMG.

SEVERINO, Antônio Joaquim, (1999). A Filosofia Contemporânea do Brasil, Petrópolis: Vozes

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal


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