Parte 2
A população de Porto Feliz colaborou ainda com o envio de grande número de donativos, campanha essa organizada pelo próprio prefeito municipal, e que contava com “muitas saccas de cereaes já remettidas a S. Paulo, e mais 40 bois que serão embarcados dentro de alguns dias”, conforme noticiou o jornal “O Estado de São Paulo”.
O jornal paulistano mantinha um serviço de correspondentes para a região, pois constam, na mesma edição, informações sobre Boituva, Sorocaba e outras localidades. No final das notas, o periódico solicitou aos seus correspondentes para que procurassem resumir as suas correspondências, pois não havia espaço suficiente no jornal para a publicação de tudo o que era remetido para a redação. Isso demonstra o entusiasmo que contagiava até mesmo os repórteres, dispostos a encaminhar os mais minuciosos detalhes dos ocorridos nas cidades.
Para a história, esses relatórios detalhados se tornam hoje verdadeiros achados, pois por muito tempo, de uma forma geral, negligenciou-se nas cidades a preservação de sua memória por meio de documentos e outras fontes. Em Porto Feliz, por exemplo, a despeito do fato de se ter um Arquivo Público – o que já é um avanço –, ainda continua fechado o Museu Histórico.
Com isso, significativa parte de nossa história se esvai pelo ralo do desinteresse. Só que com isso, a identidade do povo também se esfacela. E sem identidade, como se pode falar em cidadania? Talvez seja essa a reflexão que se deva fazer com o intuito de despertar o devido interesse pelos lugares de memória da cidade.
A imprensa local também colaborou com o movimento revolucionário paulista. A redação do jornal “Porto Feliz” enviou 300 (trezentos) cartuchos de fuzil para os revolucionários, com a promessa do prefeito municipal do envio de mais 260, pela municipalidade.
Os industriais e comerciantes deram a sua contribuição criando a Caixa Pró-Voluntário, cujo objetivo era auxiliar as famílias dos combatentes que se achavam nas linhas das trincheiras constitucionalistas.
Outro fato curioso sobre a participação de Porto Feliz na Revolução de 1932 diz respeito ao assassinato do delegado de polícia Arcílio Borges, assunto já abordado aqui nesta coluna. Um escrito pertencente ao acervo do Museu Histórico, provavelmente escrito por Romeu Castelucci, esclarece que “como os policiais do destacamento estavam lutando na Revolução Constitucionalista, o delegado contou com a ajuda do comerciante Benedito Sttetner e do carpinteiro Ignácio Chagas, enquanto uma pequena multidão guardava distância da construção”.
Portanto, fica esclarecida a participação de civis numa ação policial, que infelizmente terminou com a morte de Arcílio Borges e de Benedito Sttetner, ambos golpeados à faca pelo agressor Tobias Ferraz de Campos.
De fato essa era uma dúvida que permanecia, pois era difícil entender porque o delegado não utilizou de força policial – guarda civil ou força pública – para realizar a prisão de Tobias. O fato se deu em 25 de julho de 1932, poucos dias depois de eclodida a Revolução.
Dentre os voluntários portofelicenses, o mais afamado foi o negro Madalena, cujo verdadeiro nome era Benedito Galvão do Amaral. Diz a tradição popular que além dessa revolução, Madalena participou do movimento tenentista de 1924 (engajando-se posteriormente na Coluna Prestes) e na Revolução de 1930 que levou Getúlio Vargas ao poder. Desconhecem-se documentos que corroborem tais afirmativas.
Entretanto, em fevereiro de 1967 quando do seu falecimento, o jornal sorocabano Cruzeiro do Sul noticiou que ele era “ex-combatente nas revoluções de 1924, 1930 e 1932”.
Vox Populi, Vox Dei.
Carlos Carvalho Cavalheiro
19.09.2016.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.