Fidel Fernando: ‘Ensinar é adaptar-se’
No processo de ensino, uma verdade inquestionável é citada pelo educador Ignacio Estrada: “Se um aluno não aprende do jeito que ensinamos, temos que ensinar a ele do jeito que ele aprende”.
A sala de aula, lugar de diversidade e pluralidade, reflecte em si a complexidade dos seres humanos. Os alunos que a ocupam são heterogêneos, não apenas em atitudes e comportamentos, mas, principalmente, nas suas formas de aprender.
É nesse contexto que o professor deve reconhecer a riqueza das diferenças e a importância de diversificar suas práticas pedagógicas. Muitas vezes, as metodologias tradicionais podem não alcançar todos os alunos, mas há alternativas que podem ser muito eficazes. Em algumas turmas, vemos o maior engajamento dos alunos quando as tarefas, sejam iguais ou diferentes, são orientadas em pequenos grupos, nos quais cada membro contribui com suas habilidades para, depois, compartilharem seus resultados em plenário. Outras turmas, por sua vez, respondem melhor quando o professor associa o tema da aula a jogos didácticos ou dinâmicas de grupo, criando um ambiente de aprendizado mais leve e participativo.
Essas práticas não são um convite ao ‘obá-obá’, como alguns poderiam afirmar, mas, sim, uma estratégia sólida e fundamentada na ideia de que o aluno deve ser o centro do processo de ensino. Ao dar voz aos alunos e permitir que eles participem activamente das aulas, não estamos apenas a diversificar o aprendizado, mas também a evidenciar seu papel activo e protagonista na construção do conhecimento.
Um exemplo claro dessa abordagem é encontrado na obra ‘Mayombe’, de autoria de Pepetela, que, quando explorada de maneira lúdica, pode transformar o ambiente de aprendizagem. A obra, com sua narrativa polifónica, repleta de personagens marcantes, retratando a luta de guerrilheiros angolanos para tornar o país independente, pode ser utilizada em actividades que incentivem a criatividade, como encenações, debate ou a criação de novas narrativas em grupo. Ainda, pode ser um óptimo ponto de partida para motivar os alunos a expressarem suas emoções e interpretações sobre questões discutidas na obra, tais como: socialismo, tribalismo, condição da mulher, representada por Ondina, uma das três personagens femininas, o que não só estimula o engajamento, como também torna as aulas memoráveis.
O desafio de ensinar, portanto, é estar sempre disposto a aprender e adaptar-se. Como bem destaca o educador Paulo Freire, “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”. Assim, cabe a nós, professores, encontrar as melhores formas de ensinar a cada aluno, respeitando suas individualidades e necessidades, para que o aprendizado se perpetue e, realmente, faça sentido em suas vidas. Afinal, um ensino eficaz é aquele que deixa marcas, que permanecem. E isso só acontece quando colocamos o aluno no centro, diversificando as estratégias e dando a ele a oportunidade de se engajar e aprender de forma activa.
Fidel Fernando
Contatos com o autor
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Fidel Fernando reside em Luanda (Angola).
Academicamente, é licenciado em Ciências da Educação, no curso de Ensino da Língua Portuguesa, pelo Instituto Superior de Ciências de Educação (ISCED/Luanda), onde concluiu sua formação em 2018. Antes disso, obteve o título de técnico médio em educação, na especialidade de Língua Portuguesa, pelo Instituto Médio Normal de Educação Marista (IMNE-Marista/Luanda), em 2013. Profissionalmente, atua como professor de Língua Portuguesa, dedicando-se à formação e ao desenvolvimento de habilidades múltiplas nos seus educandos. Além das suas funções docentes, exerce a atividade de consultor linguístico e revisor de texto, contribuindo para a clareza e precisão na comunicação escrita em diversos contextos. Tornou-se colunista do Jornal Pungo a Ndongo, onde compartilha semanalmente sua visão sobre temas atuais ligados à educação e à língua.