Renata Barcellos: ‘A poesia visual de Clemente Padín’


“É poesia tudo aquilo que o poeta quer que o seja; pelo simples fato de ele ser poeta, suas faturas serão poemas” – paráfrase elaborada por Padín da declaração do poeta norte-americano Emmett Williams.
Minibiografia: poeta, artista, designer gráfico, performance, videoartista multimídia. Licenciado em Letras Hispânicas – Hispánicas en la Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación de la Universidad de la República (Uruguay). Nasceu no Uruguai em 1939 e faleceu 3/10/2025.
Primeiro, vale destacar um breve percurso da Poesia Visual desde seu surgimento, datada da antiguidade greco-latina, na qual se situam os poetas considerados precursores – Simias, Vestinus, Dosíadas e Teócrito. Em seguida, passaremos pelas carmina figurata medievais e pelos labirintos barrocos, mas será com o Simbolismo e sobretudo com Stéphane Mallarmé que se inicia a revolução poética do século XX. É a sua obra Un coup de dés jamais n’abolira le hasard a responsável por abrir caminho para as experiências modernistas do Futurismo, Dadaísmo, passando pelo Surrealismo até a contemporaneidade, com AC Khamba, Ana Caetano, Emilia Mendes, Fábio Bahia, Glória Campos, Helder D’Araújo, Heduardo Kiesse, Jairo Fará, Joaquim Branco, Regina Pochain, Suely Farhi…
Segundo o crítico literário Cláudio Daniel, “partiu Clemente Padín, um dos grandes nomes da experimentação poética na América Latina”. De fato, grande perda. Em entrevista concedida a https://asuntoimpresoediciones.com/noticias/entrevista-a-clemente-padin-164 (tradução nossa), Padín responde ao seguinte questionamento:
A partir da Semiótica e da Semântica, como podemos definir a Poesia Visual?
Clemente Padín: “a poesia visual se produz com as formas expressivas próprias da dimensão visual da linguagem verbal. E a linguagem, não somente serve para comunicarmos, também tem propriedades físicas: signos, letras, palavras. E também tem una formulação sonora. Essas são formas expressivas adjacentes, digamos, a finalidade fundamental é a referência Semântica do verbal. Formas expressivas existem desde sempre: a visualidade e a sonoridade. Existem outras zonas que poderíamos denominar para-linguísticas que podem integrar a experimentação”.
A partir disso, cabe mencionar a definição de S. J. Schmidt acerca da Poesia Visual, quando diz que é “o espanto do falante perante a própria língua” (2007:5). Isso pelo fato de este “processo estético” apresentar uma “frágil fronteira” entre o visual e o linguístico. Essa vertente literária baseia-se alguns conceitos fundamentais da Linguística com sua utilidade para a Poesia Visual como a dicotomia: significado e significante (como o poema PAZ) e de suas vertentes: Semântica, Semiótica e Análise do Discurso.

Como podemos constatar, o poeta decompõe a palavra em significantes (P A Z). Vale ressaltar o destaque para a letra (A). Isso nos remete ao poeta visual catalão Joan Brossa, que tinha a letra “A” (primeira letra de nosso alfabeto) como a porta de entrada no mundo literário. Já outros poetas visuais assim como Brossa é capaz de fazer um poema visual com apenas uma letra (neste caso, a vogal “A”) de dar-lhe várias possibilidades expressivas.
Dentre eles, Fatima Queiros. Conforme ela, “Gosto muito do brossa! Quando conheci o trabalho dele me apaixonei e daí as letras … O ” A ” é o início do alfabeto e foi a que mais brinquei, embora eu tenha brincado com outras letras também”. Fica dica para assistirem ao vídeo dela em homenagem ao Brossa (https://youtube.com/watch?v=1t1SI_u-VQo&feature=shared).
Cabe ressaltar também a matéria publicada POESIA EXPERIMENTAL por Clemente Padín em https://www.blocosonline.com.br/literatura/poesia/poexpert/2002/poex0202.htm. Nesta, o poeta cita Poema/Processo a cargo de Neide Dias de Sá: “O Poema/Processo foi um movimento fundado em 1967, aconteceu simultaneamente em vários pontos do Brasil: aqui no Rio, em Natal, no Recife, em Minas. Desenvolveu-se de 1967 até 1972 e chegou a ter a participação de cerca de 250 artistas e poetas.
Trata-se de uma exploração planificada das possibilidades encerradas nas cadeias de signos, dando máxima importância à leitura do processo do poema, e não mais à leitura alfabética, verbal e de significantes… O Poema/Processo abriu caminho para a pesquisa semiótica, fazendo do signo matéria-prima transformável pela inauguração e novos processos informacionais, ao operar no nível sobre as estruturas, criando novas linguagens”.
E, nesta mesma matéria, menciona Wlademir Dias-Pino: “Os poetas do movimento do Poema-Processo (livres do sofisticado do heroísmo) têm a consciência das dificuldades de ser vanguarda e mais do que isso, sabem que ao dissociar a Poesia (estrutura) do Poema (processo), separaram, definitivamente, o que é língua de linguagem dentro da literatura”.
“Diante do uso constante da linguagem todas as línguas passaram a ter um exotismo de dialeto. Poema/processo: a consciência diante de novas linguagens, criando-as, manipulando-as dinamicamente e fundando probabilidades criativas. Dando a máxima importância à leitura do poema (não mais à leitura alfabética), a palavra passa a ser dispensada, atingindo assim uma linguagem universal, embora seja de origem brasileira, desprendida de qualquer regionalismo, pretendendo ser universal não pelo sentido estritamente humanista, mas pelo sentido da funcionalidade”.
“Não se trata, como alguns poderiam pensar, de um combate rígido e gratuito ao signo verbal, mas de uma exploração planificada das possibilidades encerradas em outros signos (não verbais). É bom lembrar que mesmo as estruturas não se traduzem: são codificadas pelos processos que visam a comunicação internacional”.
Para uma singela homenagem a Padín, depoimento de alguns poetas visuais a seguir:
“O mundo despede-se de Clemente Padín (1939–2025), referência da arte uruguaia e da poesia visual latino-americana. Poeta, performer e pioneiro da arte correio, Padín ampliou fronteiras entre palavra, imagem e ação, deixando marcas profundas na história da arte experimental. Editor de revistas como OVUM e articulador de redes internacionais, conectou gerações e consolidou sua presença como um dos nomes mais ativos da vanguarda.
Sua participação no movimento Poema/Processo, ao lado de artistas brasileiros, reforça sua importância na construção de uma poesia que é gesto, espaço e liberdade. Seu legado resiste como inspiração crítica e estética, vivo em cada obra, performance e correspondência que circulou pelo mundo. Uma despedida que é também celebração da força criadora de um artista essencial da arte uruguaia e da poesia experimental” (texto publicado no Instagram Fernando Assad Abdalla – artista – poeta visual e designer).
“Clemente Padin é um gigante da poesia visual. Não há como sair ileso à sua poesia. É uma poesia que faz pensar e chama a luta. Seus trabalhos têm a beleza do idealismo, a intensidade que só um guerreiro poético pode dar. É um dos últimos remanescentes da guerrilha poética. Sua influência é profunda. Eu carrego em mim seus poemas, como algo vivo que me instiga e me move na busca do poema fundamental” (Jairo Fará – escritor, jornalista e professor da UFSJ. Pós-doutor pela Universidade de Coimbra – Portugal e pela Universidade Estadual de São Paulo – Unesp).
“Quando conheci Clemente Padin, me impressionou seu trabalho e sua pessoa. Me dei conta de que estava conhecendo a história viva do Uruguai, em sua dor e verdade mais profunda. Padin é um guerreiro da utopia” (Jiddu Krishnamurti Saldanha – poeta e artista visual).
Para concluir, escolhemos este poema visual por considerá-lo o mais representativo:

Neste poema visual, o poeta reflete sobre a função da poesia. A linguagem não-verbal de um menino com um cesto remete a um pedinte de rua. Como se esta vertente literária não fosse suficiente para a sobrevivência. Infelizmente, retrata a realidade de muitos poetas. Este ofício alimenta a alma mas não o físico, as contas… Podemos supor ser uma crítica social à situação financeira destes profissionais. Não são reconhecidos muitas vezes.
Vale destacar que não é (formalmente) regulamentada no Brasil e no mundo. No caso específico do poeta-repentista, este possui um verbete na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), sendo enquadrado como parte da categoria de Repentista, um profissional que utiliza o improviso rimado como meio de expressão artística. A atividade foi reconhecida como profissional artística pela Lei nº 12.198/10, que também abrange cantadores, emboladores, cantadores de coco, e escritores de literatura de cordel.
Renata Barcellos
- Educação fim de linha - 2 de dezembro de 2025
- Textos literários no Enem 2025 - 24 de novembro de 2025
- Projeto Com a palavra o autor - 14 de novembro de 2025
Natural do Rio de Janeiro (RJ), é pós-doutora em Língua Portuguesa e em Literatura Brasileira pela UFRJ e professora da Educação Básica à Superior. É membro de diversos sodalícios: APALA, ALAP, AJEB RJ, SCLB MA, AMT, AOL, ABRASCI, ABRAMIL, Pen Clube; membro correspondente do Instituto Geográfico de Maranhão, da Academia Maranhense de Letras e da Academia Vianense de Letras. Membro dos grupos de pesquisa GELMA e do Formas e Poética do Contemporâneo – ForPOC (CNPq/ UFMA/ CCEL). Âncora do Programa Pauta Nossa na Mundial News e fundadora do Barcellartes. Escreve matérias e entrevistas para o saite Facetubes, para o Jornal Terra da Gente e A voz do Escriba e para revistas como 7 Literário News, LiterArte SP, Revista Sarau e Voo livre.


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