Ella Dominici: Poema ‘Intensidade do ser’


Vulcão Interno Poético
Há poetas, e há vulcões.
Um difere do outro pelo fogo que habita as entranhas,
acendendo chamas nas palavras até queimar as próprias mãos.
Os olhos piscam — lânguidos, febris —
e esse gesto derrama-se em lágrima,
sal de um mar que não se apaga.
Ser poeta é arder sem aviso,
é deixar que a dor seja o combustível da beleza.
“Não há contenção possível quando a poesia decide nascer.”
ERUPÇÕES
Ainda há lava dentro de mim,
fermentando silêncio, desejo e memória.
O chão treme sob o peso das lembranças,
e o céu se inflama em nuvens rubras.
Cada suspiro é magma que se move,
cada lágrima é rio de fogo e água.
O corpo inteiro é cratera aberta
onde o tempo se dobra, incerto e impetuoso.
Não há repouso para a vida —
a erupção continua, invisível e viva,
nas veias do humano, na alma do mundo,
em todas as manhãs que ainda não nasceram.
E assim sigo,
entre cinzas e brasas,
esperando o próximo vulcão,
a próxima lava,
o próximo instante de fogo que me recria.
Ella Dominici
- Ouro derretido à deriva - 4 de dezembro de 2025
- O que mora na seca do sonho - 28 de novembro de 2025
- Mulheres de São Paulo - 21 de novembro de 2025
Natural de São Paulo (SP), é endodontista por profissão e formada no curso superior de Língua e literatura francesa. Uma profissional que optou por uma ciência da área da saúde, mas que desde a infância se mostrava questionadora e talentosa na Arte da Escrita, suscitando da parte de um mestre visionário a afirmação de ela ser uma escritora nata, que deveria valorizar o dom que recebera. Atendendo ao conselho recebido, na maturidade Ella cumpre o vaticínio e lança o primeiro livro solo de poemas (Mar Germinal), rompendo com a escrita meramente contemplativa, abraçando fragmentos, incertezas e dualidades para escancarar oportunidades a si como ao outro. Dribla o autoritário tempo, flagra mazelas psicológicas em minúsculas e múltiplas impressões exteriores e internas. É membro da AMCL – Academia Mundial de Cultura e Acadêmica Internacional da FEBACLA. Coautora de várias antologias. Publica na Revista Internacional The Bard e se inscreveu no 8º Festival de Poetas de Lisboa, participando da antologia promovida pelo evento


Ella, a metáfora do fogo interno do poeta, em relação ao vulcão, é poderosamente bela!
O vulcão expele fervente lava; o coração do poema, fervente versos!
Este poema me fez lembrar um poema meu, ainda que com menos intensidade do que o seu:
INSPIRAÇÃO SINTÉTICA
Noite,
Sentimentos,
Labaredas!
Mãos ágeis,
Febre poética!
Noite,
Sentimentos,
Criação!
Poesia classificada para a antologia publicada pela Universidade São Francisco, de Bragança Paulista, em 1990)