Saiu no caderno ilustrado do jornal Folha de São Paulo
“Cadê o Stradivarius?”, pergunta o baterista Billy Ponzio ao clarinetista Tito Martino. Os puristas podem estranhar; afinal, não havia na diminuta sala do Olga 17 nenhum violino do luthier italiano, mas, sim, uma dezena de tábuas de lavar roupas.
Ponzio se refere a uma delas, a terceira confeccionada por Martino, tido como o responsável pela difusão das washboards –como elas são chamadas quando convertidas a instrumento musical– no Brasil durante os anos 1960.
No último sábado (21), na recém-inaugurada casa da Barra Funda, o virtuosismo da esfregadora, tocada com dedais e equipada quase sempre com pratos, buzinas e outros apetrechos, era familiar a todos –ou quase.
O local abrigava o 1º Encontro Paulista de Washboard –ou o primeiro do Brasil, como pontuou Martino, da Tradicional Jazz Band, na ocasião–, reunindo representantes da velha guarda e jovens herdeiros do jazz, além de curiosos.
As histórias narradas no salão contornavam o acaso que envolve a descoberta do instrumento. Diferentemente dos populares guitarra, bateria e baixo, que têm filas de adeptos, a washboard é, em diversos casos, sugestão inusitada para preencher a lacuna da percussão.
Uma dessas histórias é do organizador do encontro, Lumineiro Salve Salve, da banda Mustache e os Apaches.
O mineiro mudou-se para São Paulo para ser malabarista de circo e foi convidado por amigos com quem morava a formar a banda. “Mas eu não tocava nada, então o Pedro [Pastoriz] disse que eu podia cantar ou tocar washboard”, conta ele, que lembra ter respondido: “Wash o quê?”.
Sem aulas específicas para o instrumento, diz ter aprendido na “tentativa e erro”, aplicando a lógica da bateria.
A tábua surgiu com os escravos americanos que eram proibidos de tocar tambor. “Vem originalmente do jazz, mas, como qualquer instrumento, é livre e pode ser usada em outros gêneros”, diz.
No encontro, contudo, reinou o jazz. Entre a apresentação da Fizz Jazz, uma jam session liderada por Martino e o arremate dos Mustaches, já ao fim do dia, a trilha apresentava pioneiros como Washboard Sam e The Washboard Rhythm Kings.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.