Pedro Israel Novaes de Almeida – ‘MISSÃO DIFÍCIL’
Dizem, por aí, que todos devemos ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro.
Plantar uma árvore é fácil, quando não faltam espaço e boa vontade. Podemos até promover regas, tirar as pragas do entorno e fertiliza-la. Se algo de ruim acontecer com a árvore, seguimos em frente.
Escrever um livro também é fácil. Publicá-lo é uma questão de conhecer o endereço de uma gráfica, e poder arcar com os custos, na falta de patrocínio. O difícil é encontrar leitores, e alguém com prestígio e coragem para o prefácio.
Se sobram exemplares, acabam postados como troféus, na mais visível das estantes. Pelo menos um exemplar deve permanecer no veículo, próximo ao para-brisa, com o nome do autor voltado para fora. Autoridades do trânsito costumam ser mais cordiais quando percebem que o condutor é, também escritor.
Ter um filho é complicado. Ao homem não é difícil dar a partida na geração, cabendo à mulher a fase mais espinhosa e duradoura da concepção. Cento e dez por cento dos homens agradecem aos céus pelo fato de não gestarem, nem serem forçados ao parto.
Nossa vida possui duas fases distintas: antes e após o nascimento do filho. Outrora, e ainda hoje em alguns rincões, os filhos significavam uma forma de driblar a pequena expressão financeira das aposentadorias, rateando o prejuízo com os rebentos, após criados.
O filho rompe qualquer senso de imparcialidade porventura existente nos pais. Nas encrencas, a razão e acerto do filho são sempre presumidas, e concluídas, mesmo com vastas e indiscutíveis provas em contrário.
Para os pais, o filho, emancipado perante a sociedade, permanece sempre merecedor e carente de amparo e socorro, pelo menos até completar cento e cinco anos.
Criar um filho é superar a dificílima e tormentosa fase dos doze – treze anos. Nesta idade, o filho deixa de acreditar nos pais, preferindo a opinião do bêbado da esquina, ou o refrão inconsequente da turminha.
Acompanhar as fases do desenvolvimento dos filhos, sem descaracterizá-los, é missão hercúlea. Tornam-se, em determinada fase, ateus, e politicamente chegam a cultuar personagens notoriamente malandros e oportunistas. Por sentimentos solidários, humanamente compreensíveis, confundem comunismo com paraíso sem pobreza e patrões.
Criar filhos é um sacerdócio, é ser torcedor fanático, em partida sem fim. É a mais longeva, por interminável, e maravilhosa escravidão.
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.