outubro 05, 2024
Línguas e linguagens
Meta – Linguagem
Desalento
Averso
Uma linha férrea, um córrego, muita nostalgia
Márcio Castilho lança De Todos os Tons
No Jornal ROL, a alma fluminense de Augusto Damas!
Últimas Notícias
Línguas e linguagens Meta – Linguagem Desalento Averso Uma linha férrea, um córrego, muita nostalgia Márcio Castilho lança De Todos os Tons No Jornal ROL, a alma fluminense de Augusto Damas!

Rannie Cole publica um novo conto: 'Da Terra ao Céu'

Rannie Cole: conto ‘Da Terra ao Céu’

 

Eu estava tomando café com um amigo quando eu a vi pela primeira vez. Ela tinha cabelos pretos, lisos, cortados na altura do ombro. Usava óculos de aros pretos, grandes e redondos. Era um pouco alta, tinha um corpo esguio, e olhos escuros. Além disso, suas tatuagens, um desenho em preto e branco, e uma frase da qual não me lembro, me faziam ficar olhando fixamente para ela, na altura do ombro.

Quem era? O que pensava? Quais eram seus sonhos? Essas eram coisas que eu nunca saberia. Todavia era legal ter devaneios.

Ela nem me notara, eu sabia disso. Minhas roupas esfarrapadas, meu cabelo, já começando a ficar calvo, por cortar, além da barba por fazer me informavam que eu não seria um dos seres da espécie considerado atraente.

Os feios, assim como os brutos, amam. E eu comecei a frequentar a loja em que ela trabalhava todos os dias. E nunca cheguei a trocar uma palavra com ela.

 

Vi quando ela ficou grávida. E acompanhei sua gravidez de perto. Vi sua barriga crescer imaginando como seria o bebê, se seria menino ou menina… e, às vezes, delirava a imaginando como minha esposa, e a criança como nosso filho. Afinal eu a via todos os dias. Ela era minha família. O amor da minha vida. E, no entanto, ela jamais me olhara.

Acompanhei o resultado seus exames pré-natal e quando ela se afastou de licença maternidade eu fiquei perdido. Como eu ficaria sem minha mulher? Então descobri onde ela morava e comecei a frequentar o bairro onde ela morava. O supermercado onde ela ia. E passei a me sentir vivo novamente… e meu coração bateu acelerado quando o bebê nasceu e o vi pela primeira vez na maternidade. Ele parecia comigo. Eu sei que é impossível… mas ele parecia comigo! E isso me deixou tão feliz…

A criança tem três meses já. Ela voltou a trabalhar. Voltei a frequentar a loja em que ela trabalha. Seu rosto parece cansado. Um pouco da vitalidade que ela tinha parece ter se esvaído. No entanto, deve ser normal.

Todo fim de tarde vou eu a observo de longe enquanto ela pega a criança. Já decidi que ela também é minha filha. Não importa que eu nunca tenha nem mesmo beijado sua mãe. Ou que ela nunca tenha falado comigo.

A menina engordou um pouquinho e está meio corada. Não tenho com o que me preocupar. Mas tenho notado que tem estranho que aparece todo dia na creche. E ele fica olhando para minha filha de uma forma estranha…

 

Recorte de Jornal:

 

Um homem de estatura mediana foi assassinado brutalmente ao impedir na tarde de ontem que o ex-namorado de XXX sequestrasse sua filha.

Segundo XXX ela não conhecia a vítima, apenas lembrava vagamente do mesmo como um cliente da lanchonete onde ela trabalha. Ela afirma que seu EX havia batido nela a deixando caída no chão e levado sua filha. Foi então que ela viu esse desconhecido aparecer como um anjo e correr até o pai da criança e brigar com o mesmo. Nisso, segundo XXX, ela pode ligar para a polícia e não viu quando o estranho foi esfaqueado.

YYY foi preso mais tarde enquanto deixava seu endereço com uma mala. Ele responderá pelo assassinato de HHH que segundo XXX é um anjo que Deus colocou em sua vida para salvar sua filha de um pai violento e abusivo.

 

Rannie Cole

 

 

Helio Rubens
Últimos posts por Helio Rubens (exibir todos)
Social media & sharing icons powered by UltimatelySocial
Pular para o conteúdo