“Por meio de metáforas tão retumbantes, na alma daquele menino foram insuflados o altíssimo senso de liberdade, como um dos bens mais preciosos da dignidade humana.”
Logo nos meus primeiros anos escolares aprendi a conhecer e a respeitar os Símbolos Nacionais (Bandeira Nacional, o Hino Nacional, o Brasão da República e o Selo Nacional).
Pertenço a uma das últimas gerações de brasileiros que, antes de adentrar na sala de aula, perfilados cantávamos o Hino Nacional, com os olhos voltados à nossa Bandeira.
Eu me lembro de como aquele menino, mesmo sem ainda ter galgado todos os conhecimentos históricos da pátria, se emocionava naqueles momentos que se gravaram e se perpetuaram indelevelmente na sua memória.
Ele olhava, fixa e deslumbradamente a Bandeira e, nela, alguns trechos do Hino, da áurea lavra de Joaquim Osório Duque Estrada, se destacavam, por motivos que, àquela época sequer o menino conseguia apreender racionalmente, porém, que a alma dele traduzia como sendo os mais altos ideais humanos.
… E o sol da liberdade, em raios fúlgidos/ Brilhou no céu da pátria nesse instante…’
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido/ De amor e de esperança à terra desce
Se em teu formoso céu, risonho e límpido/ A imagem do cruzeiro resplandece.
Teus risonhos lindos campos têm mais flores,/ “Nossos bosques têm mais vida”,/ “Nossa vida” no teu seio, “mais amores”.*
… Fulguras, ó Brasil, florão da América/ Iluminado ao sol do novo mundo!
Mas, se ergues da justiça a clava forte/ Verás que um filho teu não foge à luta/ Nem teme, quem te adora, a própria morte…
Por meio de metáforas tão retumbantes, na alma daquele menino foram insuflados o altíssimo senso de liberdade, como um dos bens mais preciosos da dignidade humana.
Sentindo-se livre, o menino, nas noites frias e límpidas, mergulhava seus olhos no céu estrelado, e distinguindo a constelação do Cruzeiro do Sul, também sonhava, sob o resplendor daquela Cruz, com o amor e a esperança descendo à terra, iluminando a pátria que, em sua pujança, se fazia um florão, um adorno da América.
Sonhando, contemplava seu país, sua pátria transbordar daquele Estandarte, inundando-lhe os olhos e a imaginação com campos e bosques exuberantemente floridos e repletos de vida.
E, no peito daquele menino, no drapejar de sua Bandeira, expressando com suas cores o desejo de paz, o céu e os rios brasileiros, as riquezas do país e a rica floresta brasileira, germinou um contundente sentimento de patriotismo que, paulatinamente deu-lhe a certeza de que jamais fugiria à luta em defesa de seu berço natal.
Aquele menino, porém, cresceu e se tornou adulto. E o menino adulto começou a perceber que sua Bandeira começara a perder o viço das cores e a apresentar lacerações, pois que colocada sob o sol inclemente da violência física, da omissão e da degradação ética de uma camada de seus próprios compatriotas.
Entristecido pela realidade, mas não combalido, o menino adulto iniciou sua peregrinação com as armas de um guerreiro da paz: o conhecimento, que liberta, a pena, a serviço do verbo, e a fé, como etéreo pendão.
E o menino adulto continuou e continua perfilado à frente de sua Bandeira, de seu Pavilhão… que ainda tremula no alto da Colina da Esperança!
* As aspas são usadas por Duque Estradas no original, pois representam citações dos versos de Gonçalves Dias em “Canção do Exílio” (Significado do Hino Nacional. http://www.hinonacionalbrasileiro.net/significado-hino-nacional.php>. Acesso em: 12/02/2017)
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.