ESPECIAL, ESPECIAL:
NA COLUNA ‘ENTRE NÓS E O PÚBLICO’ SERGIO DINIZ DA COSTA ENTREVISTA A AGENTE CULTURAL COMUNITÁRIA MÔNIA SALES
Sergio Diniz da Costa: Qual é a sua origem e como você define o ser humano Mônia Sales?
Mônia Sales. Sou Itapetiningana, sou da roça, sou da terra. Terra vermelha que dá cor ao sangue que corre em mim. Isso é o que me define por inteiro. E diz para que vim e para onde vou! Tudo que existe em mim vem da natureza. Da paixão pelas maravilhas que Deus criou. Do dom que o Criador me deu e da consciência de que estamos aqui para exercitar o que é de fato “ser humano”.
SDC. Na página do Facebook, você se apresenta como uma ‘Agente Cultural Comunitária’. O que vem a ser um agente cultural comunitário? Como e por que você iniciou essa atividade? E quais são os requisitos para poder exercê-la?
- MS. Um Agente Cultural Comunitário preza por resgatar a cultura, “a identidade” de um determinado local. Também, movimenta, protege e estimula a valorização e a vivência da cultura por todas as pessoas, independentemente de sua raça, credo ou classe social. Populariza o “Conceito Arte”. E permite que a arte assuma seu papel de Arte com a integração entre o sujeito e o receptor. Só através deste contato é possível concretizar, dar significado e vida ao trabalho exposto.
Não existe um patamar escolar ou poder aquisitivo para exercer esse trabalho. Todos nós somos agentes culturais vivos, que transportam arte o tempo todo. E a mágica está em compartilhar! Seja na indicação de um livro para leitura, no convite para o teatro, ações diretas e indiretas na comunidade local, o importante é agir conscientes e conectados a transformações que geramos diariamente desde o acordar.
SDC. Em novembro de 2014, você propôs, na Secretaria de Cultura de Itapetininga, o projeto ‘Resgatando o Movimento Artístico e Cultural de Itapetininga’. O que visava esse projeto?
- MS. Este projeto visa (no momento encontra-se de prontidão), o resgate da classe artística e do Movimento Cultural de Itapetininga, trabalhando como um todo de forma que se autogerencie, para que haja desenvolvimento e perspectiva de criação. No passado tivemos um grupo muito forte de Artistas na cidade. Representando os pintores: Diógenes Campos Ayres, José Benevenuto Madureira, Saturnino González, Carlos Ayres, Antonio Arthur de Castro Rodrigues, Maria Prestes e Antonio Gomide. Na literatura: Abilio victor e Monte Santo que, respectivamente, embora singelos e forasteiros, amavam a cidade de forma intrigante. Os músicos e compositores: Teddy Vieira, Almir Ribeiro, Margarida Piedade, Maria Prestes, Alzirinha Camargo, Dito Felicio de Meira, Pedraco da Feira e, em outras artes, mas que também devemos lembrar pela coragem e determinação: Anesia Pinheiro Machado. Esses produziam, protegiam e multiplicavam arte. Na época, o museu Casa “Presidente Kennedy” sede do Centro Cultural Brasil – Estados Unidos promoveu 22 salões de Arte, reunindo os mais conceituados artistas plásticos brasileiros, destacando-se entre eles: Campos Ayres, Madureira, Volpi, Pancetti, Durval Pereira, Oswaldo Teixeira, Di Cavalcanti, Mario de Oliveira, Carlos Ayres, Irene Arruda e Silvio Pinto (Referência: página on-line do Curso de Artes Visuais da Universidade Aberta do Brasil/ Universidade de Brasília – Pólo Itapetininga).
Inclusive temos na cidade mais de 70 artistas em plena atividade que não conheciam formas de como interagir com outros segmentos, pois não tinham motivação e espaço para desenvolverem seu trabalho, menos ainda integrados a outro tipo de arte. Friso nessa interação entre segmentos, porque é a forma mais prática e eficaz de manter as atividades culturais estruturadas e em funcionamento. O artista também tem que estudar, interagir, atualizar-se, uma vez que é o agente transformador da realidade; é através da arte que são definidos todas as necessidades e processos cotidiano do ser humano.
Por isso, seria muito ingênuo de nossa parte acreditar que Arte é só uma pequena fatia do bolo de outras muitas esferas que o mundo possue. Podemos concluir então que ela anda lado a lado com todas as nossas necessidades e aspirações, conscientes disso ou não. Basta um pouco mais de concentração e discernimento, do que somos, do que queremos e no que podemos ajudar.
SDC. Quando e em que local se deu o lançamento do projeto?
- MS. O lançamento aconteceu no teatro Abílio Victor, no dia 28 de março de 2015, contemplando mais de 70 artistas. Tivemos a participação do público com casa cheia. Na noite, circularam cerca de 300 pessoas pelo local. Houve uma grande interação artística, com a participação de atores do Grupo De trás do Pano, exposição de trabalhos literários, quadros, esculturas e desenhos. Contamos, ainda, com uma variação musical de qualidade, representada pela Orquestra de Viola Caipira Teddy Vieira e Música Clássica, tendo Renan Adriano Readrisax representando os músicos da classe. E uma participação especial dos músicos e compositores Márcio WM, Naldo D’Brizzi, Sandro Mancha, do movimento Hip Hop, em parceria com as cantoras e compositoras Cleide Canto e Larissa Targa de MPB, na composição da canção SOLENES CAIPIRAS, feita em homenagem aos nossos grandes desbravadores do passado, como uma forma de tê-los presente naquela noite. Essa homenagem resultou na elaboração de um videoclipe, ilustrado com fotos e a própria composição. Também tivemos em exposição os elementos da capoeira e grafite em vestuário.
SDC. Qual foi a recepção do projeto por parte dos artistas? E da população em geral?
- MS. Foi extremamente gratificante. Mas, engraçada também. Houve certo espanto por parte das pessoas diante da explanação do que seria o projeto e como funcionaria. Espanto maior quando souberam que meu trabalho é voluntário, que a dedicação é por amor, e que o ganho seria satisfação pessoal e felicidade, por dar aos artistas e à nossa cidade valorização e dignidade ao manter viva nossa história. E ao realizar algo bom que pudesse fazer crescer nas pessoas a necessidade de melhorar a cada dia, assim como estavam fazendo comigo. Quando iniciei a proposta, deixei claro que sou extremamente direta, “8/80”, como o pessoal diz por aí. O trabalho é voluntário, mas o tempo é precioso, e fizemos algo para acertar! E não darmos margens para o erro e possíveis distorções de objetivo. Portanto, nesse ponto tenho que agradecer à Secretaria de Cultura por ter respeitado as diretrizes do projeto. E quando não puderam mais continuar as atividades por intenções de resultados diferentes, se Assim, preservamos cada qual sua essência e seus interesses para com a comunidade.
Para a população de um modo geral, essa iniciativa teve gosto de valorização. Era possível ver o brilho nos olhos e o entusiasmo das pessoas com a chance de uma nova perspectiva. Nunca tive medo de pedir. E para todos, artistas, comerciantes, industriarios, comunidade, pedi três coisas: ouvir, acreditar e fazer. E dessa forma ganhei o melhor dos presentes: confiança, amizade e respeito.
SDC. A Secretaria da Cultura deu o devido apoio na implementação do projeto e, depois, na continuidade dele? Se sim, com que tipo de recursos? Se não, por quê?
- MS. Na época, o Secretário de Cultura, Antonio Marcos Polyceno foi muito receptivo e apoiou o projeto. Deu todo o respaldo possível para a realização das atividades. Infelizmente, a ajuda para a continuidade do projeto foi interrompida pelos Gestores Públicos de Itapetininga, levando a Secretaria de Cultura a encerrar a parceria. E sequer deram um retorno formal dessa paralisação. Portanto, não tenho resposta do motivo pelo qual o apoio foi interrompido. E aproveito a oportunidade para devolver a pergunta de uma forma positiva, fazendo uma provocação: alguém se manifestaria a dar continuidade? Se sim, peço que entre em contato comigo (moniasales@gmail.com).
SDC. O movimento cultural deflagrado por você, porém, apesar do relevante interesse cultural, não prosperou. Por quais motivos?
- MS. Felizmente. Teve um início próspero e, o mais importante, se manteve integro. Não fui flexível diante de propostas vãs. Para manter minha palavra, respeitar os parceiros, artistas e manter a idoneidade do projeto, não demos continuidade à parceria.
SDC. Diante da experiência do seu projeto, qual é a leitura que você faz dos artistas, da população e do Poder Público de Itapetininga?
- MS. Que há muito que aprender e praticar. Numa de minhas visitas a São Paulo fiquei impressionada e emocionada com o carinho e conhecimento que as pessoas têm por Itapetininga. Nem os nossos conterrâneos são tão pontuais assim. Falar com Amor de um povo que não é o seu e sentir-se parte das riquezas desse mesmo povo e privilegiado por nos conhecer é sinal de um povo que sabe aprender, que sabe educar e sabe doar.
E que isto sirva de lição para todos nós!
Que nós artistas saibamos usar a arte com sensibilidade; que sejamos gentis e que nossa Arte seja apreciada e não engolida. Que haja respeito pelo próximo. E que a educação seja o princípio, o meio e o fim.
Que nós cidadãos exerçamos nosso livre arbítrio e humildade para o bem de todos; que a nossa pressa em resolver assuntos centenários seja eficaz, banhados pela sabedoria.
Que o poder público se desmembre no aprender e se refaça na retidão. Na vivacidade da unidade que nos transformamos no final de tudo.
SDC. Segundo sua ótica, o que é necessário para que, efetivamente, projetos como o seu, e não somente em Itapetininga, alcancem plenamente seus objetivos?
- MS. É necessário clarear. Ter objetivos simples e diretos. É necessário termos conhecimento e fazermos uso das leis e benefícios de incentivo a cultura, esporte, educação e saúde que temos disponíveis. Pois, temos as leis e os recursos, necessários para a realização. Mas, não temos o principal: conhecimento. E toda a desenvoltura do Brasileiro fica amarrada às vagabundices de um processo vão, cheio de “gambiarras”. Temos que ser donos do que somos e responsáveis pelo que fazemos. Simples. Honra e Dignidade. Començando dentro de nossas casas com nossas famílias.
SDC. O que a agente cultural comunitária Mônia Sales aprendeu dessa experiência? Valeu a pena? E que mensagem gostaria de deixar para o público do jornal?
- MS. Gratidão é a lei que rege o Universo! Aprendi que só realizamos nossos sonhos se compreendemos essa frase. E que nossa evolução só acontece se o nosso discernimento sobre a realidade for por intermédio da comunhão com Deus. Por isso, que possamos fazer tudo com Amor. Que tenhamos paciência e que sejamos gratos todos os dias! Para que nos tornemos merecedores e transformadores de nossa realidade!
“Não é preciso ter olhos abertos para ver o sol, nem é preciso ter ouvidos afiados para ouvir o trovão. Para ser vitorioso você precisa ver o que não está visível.” Sun Tzu (Arte da Guerra)
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.