Jorge Facury: ‘Vida de palhaço… alegrias e tristezas’
Noite de sexta, 24 de março, Votorantim/ SP. A convite, participei com a família da entrega do 4º Prêmio “João Kruguer” da Academia Votorantinense de Letras, Artes e História, em noite regida pelo escritor e acadêmico Sergio Diniz.
Evento memorável, com homenageados, apresentações de músicos notáveis, cantores e declamadores. Convidado, fui ao palco apresentar meu poema “Encontro Marcado”. O amigo e escritor Gonçalves Viana (autor de Haikais) chegou à frente, inusitadamente vestido de palhaço e abriu uma fala sentimental expondo o íntimo do coração do palhaço…
Esse personagem de tantas gerações que faz a todos rir, mas, que é apenas uma alma como todos da plateia, cheia de conflitos, tristezas e desafios agudos. Ele se mostrou como alma de palhaço, que não tem direito de se fazer triste frente ao respeitável público; que tem por missão maior sempre fazer rir, quando chora por dentro; falou de um amor não correspondido, de lágrimas secretas…
Com palavras cativantes fez a todos nós nos sentirmos palhaços que sorriem ao mundo enquanto a alma junta lágrimas sentidas… Show! Aplausos para a verdade verdadeira nascida da poesia e apropriada por todos de forma obviamente pessoal e em graus distintos.
Isso me fez lembrar da primeira vez que levei minha filha ao circo. Ela tinha cinco anos e achei uma delícia comprovar sua expressão de encanto diante de tanta fantasia. O local onde armaram a imensa oca de lona conformava um eminente paradoxo: dentro da área do Carrefour, um símbolo francês do capitalismo. Digo-o, porque fomos ao circo estatal de Cuba, logo… Um palhaço posou para foto conosco na arquibancada e um acompanhante fotografou. Não passou muito, apareceu uma mulher trazendo uma pequena foto em forma de chaveiro e no verso as bandeiras do Brasil e de Cuba encimando o nome da casa circense.
É! Circo moderno é assim: tem laboratório fotográfico e trabalha rápido. De fato, era um circo verdadeiro e não um zoológico ambulante, pois animais não havia, afora os racionais de sempre, que não rugem, porque a fera vive solta e a jaula é moral. Sou dos que protestam contra a presença de animais em circo, pois quem quer que conheça os métodos pelos quais os bichos se tornam tão “treinadinhos” se choca a não ser que não tenha coração. A diferença entre as feras racionais e as irracionais é que as primeiras muitas vezes não são naturais, por isso as segundas perdem. O que não é natural sempre acaba fazendo mal…
Bem, o espetáculo valeu e tinha até um palhaço que não falava nada, só apitava; porém, todo mundo entendia o que ele queria dizer. E o pior é que tirava gente da plateia pra ”pagar mico” lá no picadeiro (já passei por isso).
Uma família de malabaristas deu um belo show sendo que o mais novo tinha apenas cinco anos de idade. Duas moças fizeram movimentos incríveis subindo e descendo por uma longa faixa vermelha de pano que vinha do alto, momento que o apresentador lembrou ter feito sucesso na França. Exibiram a beleza da acrobacia e das formas do corpo.
Um velho mágico chileno tirou pato, coelho e cachorro da cartola e doutros recipientes… Ah, o bom e velho circo! Fiz questão de aplaudir sempre, mesmo quando não achei graça, até porque não havia muita gente e os apresentadores pediam aplausos para pessoas de semblante apático.
Ao menos atrás de nós, havia uma mulher que se desmanchava de rir junto de seus garotos, quase caía da cadeira. Em alguns momentos ri foi mesmo da risada dela, pois gargalhava até fora do contexto… Outros, por sua vez, além de nada aplaudirem guardavam uma cara emburrada. Mas, que gente chata! Se não querem palhaçada, por que vão ao circo?
Chamou-me a atenção um casal sentado fora da arquibancada geral, naquele espaço mais caro, que mantinha ora a cara amarrada, ora com um olhar de desdém. Como é que pode? Por azar, o palhaço do apito chamou justamente o sujeito para uma “participaçãozinha” lá no picadeiro.
Isto foi numa noite de quinta-feira, 10 de junho de 2004 e recordo esses detalhes porque transformei a memória em crônica publicada em um de meus livros de bolso. Pra encerrar: este texto é uma homenagem à história do Circo. Dia 27 de março é o Dia Nacional do Circo. Viva os celeiros de alegria plantados na vida árida!
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024