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Celso Lungaretti: 'Marighella merece uma cinebiografia épica. O confronto entre Moro e Lula caberia num western

CELSO LUNGARETTI: MARIGHELLA:
O GUERRILHEIRO QUE INCENDIOU O MUNDO NÃO INCENDIARÁ TÃO CEDO AS TELAS BRASILEIRAS…

 
Mostrando marcas de torturas

O ator Wagner Moura tem se queixado de boicote dos possíveis financiadores privados e estatais ao seu projeto de estrear como diretor transpondo para as telas a biografia escrita por Mário Magalhães, Marighella – o guerrilheiro que incendiou o mundo.
Há alguns meses ele ainda acalentava a esperança de que a estréia viesse a ocorrer em abril ou maio do corrente ano. Negativo. Um site especializado em cinema aponta agora a data de 20 de setembro de 2018!

Triste Brasil, oh tão dessemelhante! Já se passaram 47 anos desde que o mataram a traição e Marighella ainda é tabu nestes tristes trópicos, a ponto de até presidente da República presumivelmente esquerdista recear inscrever seu nome no Livro dos Heróis da Pátria!
[Pelo menos, tal pusilanimidade poupou-o de ficar ao lado do Duque de Caxias e de Getúlio Vargas, personagens históricos que, evidentemente, não lhe seriam simpáticos…]
Foi, aliás, barbaramente torturado durante a ditadura do segundo (afora o pau-de-arara, espancamentos e choques elétricos de praxe, queimaram seus pés com maçarico, enfiaram-lhe estiletes sob as unhas e arrancaram seus dentes), algo que uma esquerda oportunista preferiu esquecer depois que Vargas morreu como mártir nacionalista; e assassinado pelos tocaieiros da ditadura dos generais no final de 1969.
Sem demérito para o igualmente imprescindível comandante Carlos Lamarca, mas levando em conta haver tido uma trajetória bem mais longa, travando incansavelmente o bom combate, Carlos Marighella deve ser reconhecido como o maior revolucionário brasileiro do século passado.

Ingressou no PCB em 1934 e, até 1945, foi alternando períodos de clandestinidade, de prisão e de torturas.
Eleito deputado federal constituinte quando da redemocratização,  teve o mandato cassado e se tornou novamente clandestino em 1948, já então como dirigente do partido. Depois, nos ’60, liderou a guinada da esquerda mais combativa para a luta armada, estruturando uma das principais organizações guerrilheiras do período, a ALN – Ação Libertadora Nacional.
Enquanto o filme do Wagner Moura não chega, os leitores do blogue podem assistir, clicando aqui, à íntegra do documentário Marighella (2012), com 96 minutos, de autoria da sobrinha do grande revolucionário baiano (o qual está também disponível para download nestes torrents).
Segundo o crítico Francisco Russo, o aspecto familiar é muito destacado na obra:

Este é o documentário que a sobrinha fez

Dirigido pela socióloga Isa Grinspum Ferraz, o documentário é ao mesmo tempo uma pesquisa sobre a vida de Carlos Marighella e também um filme pessoal. Afinal de contas, Isa é sobrinha do personagem principal da história, muitas vezes chamado de ‘tio Carlos’ no próprio filme. Esta dualidade entre o aspecto familiar e o histórico pontua todo o documentário…

O forte do documentário é o material de pesquisa obtido. Seja através dos discursos de Marighella, que refletem a força de suas palavras mesclada ao engajamento por ele proposto, até a bela e surpreendente apresentação da prosa em versos.

As imagens históricas e os depoimentos registrados também ajudam a contar a história de como Marighella se interessou por política e acabou se tornando o inimigo número um da ditadura militar…

Há dois outros documentários sobre o saudoso companheiro Menezes, com duração menor: Marighella: o retrato falado do guerrilheiro (2010, 56 min.), de Sílvio Tendler, que pode ser visto aqui; e, mais difícil de encontrarmos, É preciso não ter medo – relatos de Carlo Marighella (32 min.), dirigido por Silvia Melo e Tayra Vasconcelos.

Finalmente, o livro Marighella – o guerrilheiro que incendiou o mundo pode ser baixado gratuitamente aqui.

CELSO LUNGARETTI

O DUELO MARCADO ENTRE MORO E LULA TEM TUDO A VER COM OS FAROESTES, MAS ME FEZ LEMBRAR OUTRO TIPO DE FILME.

O depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz Sérgio Moro, marcado para a próxima 4ª feira (10) em Curitiba, desperta nos aficionados de ambos expectativa semelhante à da molecada de outrora quando, nas matinês de domingo, estava prestes a começar o duelo ao amanhecer na rua principal, momento culminante de muitos bangue-bangues de então.
A coisa chegou a tal ponto que Moro divulgou uma mensagem em vídeo pedindo à sua torcida organizada para se desmobilizar. Eis um trecho:

Eu tenho ouvido que muita gente que apoia a Operação Lava Jato pretende vir a Curitiba manifestar esse apoio…

Eu diria o seguinte, esse apoio sempre foi importante, mas nessa data ele não é necessário. Tudo que se quer evitar, nessa data, é alguma espécie de confusão e conflito. Acima de tudo, não quero que ninguém se machuque em eventual discussão ou conflito nessa data. Por isso, a minha sugestão é a de que não venham. Não precisa. Deixem a Justiça fazer o seu trabalho.

A mim, contudo, o espetáculo da próxima 4ª feira fez lembrar um filme bem diferente dos westerns: um clássico do cinema político italiano!
Se o leitor estranhar, dou-lhe toda razão. É que, como o Raul Seixas, devo ser mesmo um chato. Pelo menos no sentido desta estrofe de Ouro de Tolo, o primeiro grande sucesso do Raulzito: “Mas que sujeito chato sou eu/ Que não acha nada engraçado/ Macaco, praia, carro/ Jornal, tobogã/ Eu acho tudo isso um saco”.
Tenho certeza de que, vivo, ele estaria achando também a torcida contra e a favor da Lava-Jato um saco…

 
Estes atores até que são esforçados…

E a que filme italiano, afinal, me refiro? A Esse Crime Chamado Justiça (1971), o título brasileiro de In Nome Del Popolo Italiano, do grande Dino Risi (*).
Diretor de obras-primas como Perfume de Mulher (a distância entre o original italiano e o remakeestadunidense é a mesma que existe entre o genial Vittorio Gassman e o correto Al Pacino), Risi foi mestre das comédias impregnadas de críticas sociais e uma visão compassiva da realidade.
Aliás, o Perfume de Mulher de 1974 contém um dos maiores momentos de um ator que vi em toda a vida: é simplesmente de arrepiar a metamorfose do militar cego quando, abalado por haver vacilado e descumprido o pacto de suicídio com outro veterano, não consegue mais manter a postura agressiva que utilizava como defesa desde que uma bomba lhe explodira na cara, tirando sua visão (por não suportar que sentissem pena dele, a todos afastava com cafajestadas e grosserias).
Não dá sequer para imaginarmos um ator que expressasse, com a mesma dignidade de Gassman, a desorientação e fragilidade do personagem quando finalmente cai sua máscara.

 
…mas não chegam nem perto destes!

Assim como não nos vem à cabeça ninguém melhor do que Marlon Brando para transmitir a profunda repulsa pela desumanidade que inspira a frase “o horror, o horror!”, em Apocalypse Now; ou outro que não Gregory Peck fazendo as alegações finais da defesa do negro injustiçado em O Sol É Para Todos.
Foi também Gassman quem interpretou o repulsivo empresário de Esse Crime Chamado Justiça. É investigado por um procurador honesto (Ugo Tognazzi), por suspeita de haver assassinado a amante.
No curso do inquérito, vêm à tona sucessivos casos de pessoas destruídas pela ganância e insensibilidade predatórias do empresário.
Finalmente, quando tudo aponta para sua culpa, cai nas mãos do procurador uma carta que comprova não ter havido crime, mas sim suicídio.

 
Não haveria lugar melhor que um tribunal para tal espetáculo?

Então, depois de haver seguido fielmente as regras durante toda a sua carreira, o funcionário decide fazer aquela que crê ser a verdadeira justiça: suprime a prova, para que, por linhas tortas, seja punido um cidadão muito nocivo a seus semelhantes.

Tenho a impressão de que Moro se vê exatamente como o procurador honesto. E que ele tenha do Lula uma imagem tão negativa (embora por outros motivos) quanto a que o personagem do Ugo Tognazzi tinha do personagem do Vittorio Gassman.
Sou totalmente contrário ao maniqueísmo, como deve ser qualquer revolucionário que conheça o bê-a-bá do marxismo e do anarquismo. Então, desprezo as emoções primárias do big gundown e a banalidade das teorias da conspiração que pululam de lado a lado.
Vejo no episódio da próxima 4ª feira apenas o encontro de dois personagens que geralmente agiram de acordo com seus valores, mas que, em determinadas circunstâncias, sentiram-se no direito de serem infiéis a eles, ultrapassando limites que jamais deveriam ter ultrapassado.

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Obs. – Para não ficar falando de filmes inacessíveis aos leitores, informo que o raro Perfume de Mulher de 1974 pode ser baixado aqui, com legenda em português; e o raríssimo Esse Crime Chamado Justiça, com legenda espanhola, aqui ou aqui.

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