Gonçalves Viana:
‘TOURADAS EM MADRI’
As maiores paixões do povo brasileiro são, sem a menor sombra de dúvida, o carnaval e o futebol. E quando elas se cruzam, só podem acontecer fatos memoráveis.
Em 1950, a Copa do Mundo de Futebol estava em sua 4.ª edição e seria realizada no Brasil. O Maracanã foi construído, a toque de caixa, para o evento. Nessa época, já se falava em desvio de verbas, mas não da maneira desenfreada, como aconteceu agora na sua 20.ª edição, também realizada no Brasil, em 2014.
Naquela Copa (1950), o Brasil estava sobrando, não tomava conhecimento de nenhuma seleção. Até que chegou ao quadrangular final, restavam nós, o Brasil, a Suécia, o Uruguai e a Espanha. O primeiro jogo foi contra a Suécia, o resultado foi um acachapante 7×1 para nós. Chegou, então, a vez do Brasil enfrentar a temida Espanha – a Fúria – recheada de craques e, com o assim considerado, na época, o melhor goleiro do mundo, Zamorra. Eles simplesmente proclamavam aos quatro cantos que iriam massacrar a Seleção Brasileira.
Chegou o momento do jogo. O Brasil não tomou conhecimento das bravatas, nem da fúria espanhola e, desandou a fazer um gol atrás do outro, e a cada lance, a cada jogada dos nossos malabaristas, a torcida ensandecida gritava Olé! Olé! De repente, em uníssono começaram a cantar uma marchinha carnavalesca de grande sucesso tempos atrás.
Numa breve interrupção daquele gigantesco coral, alguém reparou num homem quieto e pálido, afundado em sua cadeira cativa, e disse: ─ Ensina esse espanhol a cantar!
O Brasil acabara de marcar o quarto gol contra a Espanha. E o coro imenso recomeça, outro torcedor comenta: ─ Olha como esse cara está quieto, só pode ser espanhol…
E o coro contínua:
Eu fui às touradas em Madri
Pa-ra-ra-tchim – bum-bum-bum
Pa-ra-ra-tchim – bum-bum-bum
E quase não volto mais aqui…
Aí, aquele homem quieto, não consegue mais se conter e chora copiosamente.
E, quando a enorme torcida festeja a vitória final – 6×1 para o Brasil – aquele “espanhol” ninguém mais era, se não, Carlos Alberto Ferreira Braga (o João de Barro), nascido no Rio de janeiro aos 29 de março de 1907, e que ainda estava chorando. Aquela marchinha que os duzentos mil brasileiros, e que superlotaram o Estádio do Maracanã, cantando para gozar os espanhóis, fora composta por ele e por Alberto Ribeiro.
Ambos haviam composto essa marchinha em 1937 e a inscreveram no concurso da Prefeitura do Rio de Janeiro (então Distrito Federal), para o carnaval de 1938. Foi classificada em 1º lugar, mas, por pressão dos outros concorrentes, essa classificação foi anulada. Eles alegavam que se tratava de um “pasodoble” e não de uma marcha carnavalesca.
Em tempo: nessa Copa Mundial, em que o Brasil foi goleando nas finais, sem dó e nem piedade, a Suécia e depois a Espanha, qualificando-se para a final frente ao Uruguai, a famosa Celeste Olímpica, os caprichosos deuses do futebol não favoreceram o Brasil e puseram tudo a perder, ao ser derrotado por 2×1. Aquela alegria do jogo anterior transformou-se em um choro de duzentos mil torcedores pranteando essa nossa primeira catástrofe futebolística. Pois não é que passados 64 anos, na 20ª edição da Copa do Mundo, outra vez realizada no Brasil, em 2014, fomos novamente humilhados em nossa própria casa. Caímos nas semifinais, ao perdermos para a Alemanha com um placar de um fatídico 7×1 que costumávamos impingir aos nossos adversários, naquela época.
Gonçalves Viana
TOURADAS EM MADRI
Eu fui às touradas em Madri
pa-ra-ra-tchim – bum-bum-bum
pa-ra-ra-tchim – bum-bum-bum
e quase não volto mais aqui-i-i
pra ver Peri-i-i, beijar Ceci.
Eu conheci uma espanhola
natural da Catalunha.
Queria que eu tocasse castanhola
e pegasse o touro à unha.
Caramba
caracoles
sou do samba
não me amoles
pro Brasil eu vou fugir
isso é conversa mole
para boi dormir.
(Alberto Ribeiro – João de Barro)
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024