Gonçalves Viana: ‘UM CHORÃO’
O choro surgiu por volta de 1870, não como gênero musical, mas como uma forma de tocar. Originou-se do estilo de interpretação que os músicos populares do Rio de Janeiro davam à execução de polcas.
Portanto o choro, assim como o beguine da Martinica, o danzon de Santiago de Cuba e o ragtime norte-americano são adaptações da polca, uma dança eminentemente europeia.
Mas cada uma dessas adaptações, embora tenham a mesma origem, apresentaram resultados diferentes, devido ao sotaque inerente à música de cada colonizador – português, espanhol, francês e inglês – e, também, a influência de música religiosa, assim como, a dos escravos, oriundos das regiões da África, dominadas por cada um desses colonizadores.
Já, com relação ao nome desse gênero, segundo a hipótese mais aceita, inclusive, pelo folclorista Luiz da Câmara Cascudo, o Choro viria de xolo, um baile que os escravos faziam nas fazendas, e que teria a palavra gradativamente mudada para xoro e, finalmente, choro.
Um dos primeiros chorões foi Joaquim Antônio da Silva Callado Júnior (1848-1880), seguido por seu discípulo, Viriato Figueira da Silva (1851-1883). Desde então despontaram inúmeros interpretes e compositores, tais como, Ernesto Nazareth (1863-1934), Patápio Silva (1881-1907), Bonfiglio de Oliveira (1894-1940), Pixinguinha (1897-1973), Benedito Lacerda (1903-1958), Garoto (1915-1955), Altamiro Carrilho (1924-2012), e tantos outros, mas, principalmente os dois expoentes do gênero, Jacob do Bandolim (1918-1969) e Waldir Azevedo (1923-1980).
Waldir foi o mais bem-sucedido em termos de vendas. A sua primeira composição, o choro Brasileirinho, lançado em dezembro de 1949, foi um enorme sucesso, tocando nas rádios e vendendo muitos discos. Em poucos meses, ele já havia arrecadado 250 contos (algo em torno de 30.000 dólares), uma fortuna para a época.
Os êxitos continuaram com Pedacinhos do Céu, em 1950, e Delicado em 1951. Essa composição – Delicado – um choro-baião, em seis meses já havia vendido mais de 200.000 discos (recorde brasileiro, na época). Logo chegou à Europa, repetindo o sucesso daqui. Foi sucesso também na Venezuela e na Argentina, onde foram vendidos 130.000 discos em poucos meses. E começaram a chegar pedidos de autorização, de vários artistas norte-americanos, para que pudessem gravar a música.
Isso levou um crítico musical do jornal Última Hora a comentar em sua coluna, do dia 24 de maio de 1952, o seguinte: “Como veem os leitores, depois de Tico-Tico no Fubá de Zequinha de Abreu e Aquarela do Brasil de Ary Barroso, o Delicado de Waldir Azevedo será a nossa terceira música com âmbito internacional de indiscutível sucesso e popularidade”.
Mas esse choro-baião, ainda proporcionaria muitas emoções a Waldir. Na ocasião em que realizava uma tournée pelo Oriente médio, ao percorrer uma feira, um verdadeiro mercado persa, em um país árabe, deparou-se numa das tendas, cheia de bugigangas, com uma caixinha-musical, ao abri-la, qual não foi a sua surpresa, a música era nada mais nada menos que o seu choro-baião Delicado.
Já Brasileirinho, além de ser um grande sucesso, teve enorme repercussão, quando a nossa ginasta, campeã olímpica, Daiane dos Santos, batizou um salto de sua criação com o nome de Brasileirinho, que ela executava ao som desse chorinho.
Em 1971, seu genro, funcionário do Banco Central, foi transferido para Brasília, Waldir acompanhou a filha, mudando-se para lá. Moravam em uma casa ampla e confortável, com uma grande área gramada. Certa tarde, ele estava lubrificando a máquina de cortar grama, quando teve decepada a ponta do dedo anelar da mão esquerda. Ao ser socorrido, Waldir parecia nem sentir dor, seu único pensamento era que nunca mais poderia tocar. O médico que o atendeu, perguntou pelo pedaço do dedo e pediu para a esposa que fosse buscá-lo, que o reimplante talvez fosse possível.
Após a operação, Waldir passou meses com curativos, e sempre achando que não tocaria mais. Mas, no ano de 1974, começou a frequentar as reuniões do Clube do Choro, onde tocava com Avena de Castro, entre outros. Ainda nesse ano, Waldir fez o seu retorno ao palco, no Teatro Nacional de Brasília. Embora não acreditasse muito no interesse do público, a sala encheu e o êxito foi absoluto.
Quando completou 57 anos, ele fumante inveterado, estava com a saúde muito debilitada, tomando vários remédios para o coração, acabou por sofrer a ruptura de um aneurisma abdominal. Transferido de Brasília para São Paulo, vindo a falecer em 20 de setembro de 1980.
Gonçalves Viana
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024