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Carlos Carvalho Cavalheiro: 'Os seminários da Semana das Monções'

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Carlos Cavalheiro

“A realização desta 62ª Semana das Monções contou com uma diversificada programação que evidenciou a importância do evento para a cidade. Além do aspecto externo, enaltecido por desfile cívico e encenações de caráter memorialístico, este ano a Semana ganhou um espaço importante de reflexão e estudo sobre o tema Monções.”

 

A realização desta 62ª Semana das Monções contou com uma diversificada programação que evidenciou a importância do evento para a cidade. Além do aspecto externo, enaltecido por desfile cívico e encenações de caráter memorialístico, este ano a Semana ganhou um espaço importante de reflexão e estudo sobre o tema Monções.

Em nossa memória a fixação do nome “Monções” – presente no comércio e em logradouros e próprios culturais – se sobrepõe ao conhecimento histórico do evento ao qual alude. Temos consciência de que somos conterrâneos da Terra das Monções, embora nem sempre saibamos conceituar o que isso significa.

Em verdade, ainda não se chegou a uma conceituação perfeita acerca do que seria Monções. Costuma-se dizer que Monções são expedições fluviais que saiam de Araritaguaba (Porto Feliz) rumo às regiões auríferas de Cuiabá. Pois bem, a “primeira” monção teria sido a de Pascoal Moreira Cabral, em 1718. Ocorre que Pascoal, conhecido bandeirante paulista, partiu de Sorocaba (pelo rio de mesmo nome) com destino ao Mato Grosso com a finalidade de prear os índios Coxiponés, de acordo com Paulo Setúbal no livro “O Ouro de Cuiabá”. Encontrou ouro por acaso, atiçando a cobiça de outros, como o bandeirante sorocabano Miguel Sutil, conhecido por ter sido o que mais ouro explorou naquelas paragens.

Nesse sentido, o conceito de Monções não se encaixa nos exemplos acima. Como também não se encaixa a expedição organizada em 1733 pelo capitão general Conde de Sazerdas com o objetivo de dar combate aos índios paiaguás, a fim de liberar o caminho para a exploração do ouro. Isso nos conta o historiador Francisco Nardy Filho que coloca essa expedição entra as mais importantes daquelas que partiram de Porto Feliz. Em suma, para Nardy essa também foi uma monção, embora o objetivo não tenha sido alcançar as jazidas de Cuiabá. Francisco Nardy diz ainda sobre a última monção que partiu de Porto Feliz, liderada por Firmino Ferreira com o objetivo de realizar comércio (vendas) de provisões para os habitantes de Cuiabá. Portanto, outro exemplo que não se encaixa no conceito “tradicional” de monção.

Daí a importância dos seminários que ajudam a refletir sobre um tema tão caro para a nossa cidade e para a formação cultural e identitária de nosso povo. Para registro, seguem as palestras que compuseram o seminário: “Configuração Espacial de Porto Feliz: Capela em 1720, freguesia em 1728, Vila em 1797”, por Maria Clara de O. Calil,  “Iconografia Monçoeira; imagens e ideologia”, por Rodolfo Hessel, “Caminhos e Fronteiras da Sustentabilidade e Cultura”, por Claudineli Moreira Ramos, José Roberto Manna de Deus e Valdir Barreto,  “Paredão Salitroso do Parque das Monções – A origem de um patrimônio geológico inigualável”, por Samara Cazzoli Y Goya, Marcelo Martinatti e Cleberson Carlos Ferreira Da Silva,  “Diários, roteiros e cartografias das viagens fluviais”, por Jonas Soares de Souza e “Memórias e Monções”, por Carlos Carvalho Cavalheiro.

            A diversidade de temas e a abrangência das múltiplas visões demonstram a importância de se estimular o estudo e a pesquisa sobre as Monções e sobre a história de Porto Feliz. Parece ter sido esse o espírito norteador daqueles primeiros que conceberam a criação de uma Semana comemorativa a episódio tão relevante de nosso passado.

Portanto, está de parabéns a organização desta Semana, sobretudo à Diretoria de Cultura, Esportes e Turismo – e todos os funcionários envolvidos – que tem hoje à frente o diretor Flávio Torres. Oxalá que essa semente (dizem que é essa a raiz da palavra seminário) plantada possa frutificar em anos vindouros.

 

Carlos Carvalho Cavalheiro – 17/10/2017

carlosccavalheiro@gmail.com

 

 

Sergio Diniz da Costa
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