“A realização desta 62ª Semana das Monções contou com uma diversificada programação que evidenciou a importância do evento para a cidade. Além do aspecto externo, enaltecido por desfile cívico e encenações de caráter memorialístico, este ano a Semana ganhou um espaço importante de reflexão e estudo sobre o tema Monções.”
A realização desta 62ª Semana das Monções contou com uma diversificada programação que evidenciou a importância do evento para a cidade. Além do aspecto externo, enaltecido por desfile cívico e encenações de caráter memorialístico, este ano a Semana ganhou um espaço importante de reflexão e estudo sobre o tema Monções.
Em nossa memória a fixação do nome “Monções” – presente no comércio e em logradouros e próprios culturais – se sobrepõe ao conhecimento histórico do evento ao qual alude. Temos consciência de que somos conterrâneos da Terra das Monções, embora nem sempre saibamos conceituar o que isso significa.
Em verdade, ainda não se chegou a uma conceituação perfeita acerca do que seria Monções. Costuma-se dizer que Monções são expedições fluviais que saiam de Araritaguaba (Porto Feliz) rumo às regiões auríferas de Cuiabá. Pois bem, a “primeira” monção teria sido a de Pascoal Moreira Cabral, em 1718. Ocorre que Pascoal, conhecido bandeirante paulista, partiu de Sorocaba (pelo rio de mesmo nome) com destino ao Mato Grosso com a finalidade de prear os índios Coxiponés, de acordo com Paulo Setúbal no livro “O Ouro de Cuiabá”. Encontrou ouro por acaso, atiçando a cobiça de outros, como o bandeirante sorocabano Miguel Sutil, conhecido por ter sido o que mais ouro explorou naquelas paragens.
Nesse sentido, o conceito de Monções não se encaixa nos exemplos acima. Como também não se encaixa a expedição organizada em 1733 pelo capitão general Conde de Sazerdas com o objetivo de dar combate aos índios paiaguás, a fim de liberar o caminho para a exploração do ouro. Isso nos conta o historiador Francisco Nardy Filho que coloca essa expedição entra as mais importantes daquelas que partiram de Porto Feliz. Em suma, para Nardy essa também foi uma monção, embora o objetivo não tenha sido alcançar as jazidas de Cuiabá. Francisco Nardy diz ainda sobre a última monção que partiu de Porto Feliz, liderada por Firmino Ferreira com o objetivo de realizar comércio (vendas) de provisões para os habitantes de Cuiabá. Portanto, outro exemplo que não se encaixa no conceito “tradicional” de monção.
Daí a importância dos seminários que ajudam a refletir sobre um tema tão caro para a nossa cidade e para a formação cultural e identitária de nosso povo. Para registro, seguem as palestras que compuseram o seminário: “Configuração Espacial de Porto Feliz: Capela em 1720, freguesia em 1728, Vila em 1797”, por Maria Clara de O. Calil, “Iconografia Monçoeira; imagens e ideologia”, por Rodolfo Hessel, “Caminhos e Fronteiras da Sustentabilidade e Cultura”, por Claudineli Moreira Ramos, José Roberto Manna de Deus e Valdir Barreto, “Paredão Salitroso do Parque das Monções – A origem de um patrimônio geológico inigualável”, por Samara Cazzoli Y Goya, Marcelo Martinatti e Cleberson Carlos Ferreira Da Silva, “Diários, roteiros e cartografias das viagens fluviais”, por Jonas Soares de Souza e “Memórias e Monções”, por Carlos Carvalho Cavalheiro.
A diversidade de temas e a abrangência das múltiplas visões demonstram a importância de se estimular o estudo e a pesquisa sobre as Monções e sobre a história de Porto Feliz. Parece ter sido esse o espírito norteador daqueles primeiros que conceberam a criação de uma Semana comemorativa a episódio tão relevante de nosso passado.
Portanto, está de parabéns a organização desta Semana, sobretudo à Diretoria de Cultura, Esportes e Turismo – e todos os funcionários envolvidos – que tem hoje à frente o diretor Flávio Torres. Oxalá que essa semente (dizem que é essa a raiz da palavra seminário) plantada possa frutificar em anos vindouros.
Carlos Carvalho Cavalheiro – 17/10/2017
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024