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Gonçalves Viana: 'Uma cabocla chamada Tereza'

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Cabocla Tereza é um dos maiores clássicos da música sertaneja, atualmente dita de ‘raiz’, e que antigamente era chamada de ‘moda de viola’. Foi composta por João Pacífico e Raul Torres, que também a gravaram como dupla em 1940

 

Cabocla Tereza é um dos maiores clássicos da música sertaneja, atualmente dita de ‘raiz‘, e que antigamente era chamada de ‘moda de viola‘. Foi composta por João Pacífico e Raul Torres, que também a gravaram como dupla em 1940. Desde então, tem sido cantada, gravada e executada incansavelmente. Não há, sequer, uma dupla caipira que não a tenha interpretado.

Essa canção foi desenvolvida dentro da mesma fórmula utilizada em “Chico Mulato” de 1938. Isto é, com uma parte declamada, antecedendo a cantada. Esse modo de interpretar, criado por Pacífico, foi batizado de toada histórica.

Essa história, que começou com “Chico Mulato” em 1938, desenvolveu-se da seguinte forma: João Pacífico, poeta que era, escreveu uma espécie de sinopse em versos e resolveu declamar, antes da canção. Torres encantou-se com essa novidade, decidiram, então, gravar a música Chico Mulato assim mesmo. Esse recurso foi, depois, utilizado em “Cabocla Tereza”, aludida acima. Posteriormente, foi também muito usado por outros compositores em inúmeras canções.

Mas isso causou certa estranheza na gravadora, tanto que decidiram chamar o diretor da RCA-Victor, Mr. Evans, ao estúdio para resolver o impasse. Será que é possível gravar aquilo? Nunca antes havia sido feito algo desse jeito! Além do mais, argumentavam os técnicos: com a parte declamada, a música não caberia no disco de 78 rpm, usado na época. Mas os autores, Pacífico e Torres, não arredavam pé, de mantê-la como estava.

Mr. Evans, que também havia adorado a inovação, incontinente, dirigiu-se à fábrica, para ver, junto aos técnicos, se era possível reduzir a distância entre os sulcos, e a música coubesse no disco. Não só foi possível, como constataram que dessa forma, o som na reprodução ficava bem melhor.

Resultado! Quando “Chico Mulato” começou a tocar no rádio, fazendo um enorme sucesso, Mr. Evans chamou João Pacífico e intimou-o a compor outras do mesmo tipo, ‘declamada e cantada‘. Pacífico então compôs, ainda com Raul Torres, “Cabocla Tereza” nos mesmos moldes da anterior, a qual se tornou, provavelmente, o maior sucesso da dupla.

Posteriormente, já em 1982, “Cabocla Tereza” foi transformada em filme, com o enredo entremeando personagens das modas “Chico Mulato” e “Cabocla Tereza”, com Zélia Martins e a participação de Jofre Soares. A trilha sonora foi composta por João Pacífico. Alias Pacífico, foi chamado – muito apropriadamente – por Rolando Boldrin de o Noel Rosa do Sertão.

CABOCLA TEREZA.wmv

https://www.youtube.com/watch?v=CIn_eIq02vE

                                                                                               

Gonçalves Viana  – v_aparecido@ig.com.br

  

                                  CABOCLA TEREZA

(DECLAMADO)                                          (CANTADO)

Lá no arto da montanha                               A tempo fiz um ranchinho

Numa casa bem estranha                             Pra minha cabocla morá

Toda feita de sapé!                                         Pois era ali nosso ninho

Parei uma noite o cavalo                              Bem longe deste lugá

Pra morde de dois estalo

Que ouvi lá drento batê.                              No arto lá da montanha

                                                                           Perto da luz do luá

Apiei com muito jeito                                   Vivi um ano feliz

Ouvi um gemido perfeito,                            Sem nunca isso esperá.

Uma vóiz cheia de dô!

Vancê Tereza descansa                                Pus meu sonho nesse oiá

Jurei di fazê vingança                                  Paguei caro meu amô

Pra morde du meu amô.                              Pra morde de outro caboclo

                                                                           Meu rancho ela abandonô.

Pela réstia da jinela

Por uma luzinha amarela                             Senti meu sangue fervê

De um lampião quagi apagando                  Jurei a Tereza matá

Vi uma cabocla no chão                                 O meu alazão arriei

E um cabra tinha na mão                             E ela fui percurá.

Uma arma alumiando.

                                                                           Agora já me vinguei

Virei meu cavalo a galope                           É esse o fim de um amô!

Risquei de espora e chicote                         Essa cabocla eu matei!

Sangrei a anca do tá!…                               É a minha história dotô.

Desci montanha abaixo

Galopeando meu macho                              (Raul Torres – João Pacífico)

O seu dotô fui chamá.

 

Vortemo lá pra montanha

Naquela casinha estranha!

Eu e mais seu dotô…

Topemo um cabra assustado

Que chamano nóis pro lado

A sua história contô:

 

 

Sergio Diniz da Costa
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