Pedro Israel Novaes de Almeida – ‘REDE CONTURBADA’
A internet revolucionou o mundo.
Minorou os isolamentos, culturais e sociais, modificou hábitos e atuou como verdadeira bomba, nas economias. A tecnologia, que frequentava mesas com pesados computadores, hoje é manipulada em todos os lugares, do trânsito aos pontos de ônibus.
A internet sepultou quase por completo as famosas e melancólicas cartas manuscritas, anunciadas com garbo pelos funcionários dos correios, e tornou raros os interurbanos, com ou sem a interferência de telefonistas. Pesquisas eram realizadas em bibliotecas, e transcritos manualmente os textos escolhidos.
Viajantes, milhões, percorriam todo o país, lotando hotéis e carregando mostruários, em busca de pedidos de varejistas. Era pródiga a indústria de livros didáticos, e feroz a concorrência por indicações, nos estabelecimentos de ensino.
Lojas físicas disputavam os melhores e mais onerosos pontos de venda, obrigando o potencial comprador a peregrinações, em busca de melhores preços. Aulas, palestras e provas são disponibilizadas nos equipamentos, de posse e uso já popularizadas.
Lojas virtuais constroem vitrines vistas em todos os lugares, com sofisticados, rápidos e muitas vezes seguros sistemas de entrega. A procura e oferta de oportunidades de emprego aumentou sua visibilidade, e até a busca por animais e aves desaparecidas ganhou milhões de colaboradores.
A maior revolução da internet, contudo, ocorreu com a popularização das redes sociais. A interação entre povos e pessoas liquidou com a ditadura dos tradicionais meios de comunicação, como TV e jornais, que insistem em filtrar as informações, sob a ótica sempre míope de suas conveniências, financeiras e, quase sempre, políticas.
O aglomerado humano das redes, contudo, espelha as maldades e bondades da espécie, exigindo dos usuários cautelas e responsabilidades. É inteiramente falsa a noção de que as redes constituem um território inteiramente livre e impune.
O judiciário e as polícias já estão repletos de casos de ofensas, mentiras e maledicências, já contumazes frequentadoras das redes sociais. Postagens são compartilhadas sem qualquer checagem de sua veracidade, viralizando o pérfido desmonte de biografias e até mesmo a boa fama de produtos comerciais.
Nos campos político e partidário, o ambiente tornou-se selvagem, com discussões e acusações que beiram a grosseria e fanatismo. O acirramento das disputas por fatos e versões liquida antigas amizades e até relações familiares.
Acabamos, os frequentadores das redes, confinados a tribos distintas, sujeitos à leitura de considerações sem nexo, apaixonadas e cegas, sempre que o integrante de alguma tribo ousa frequentar os desígnios da tribo adversária.
O amadurecimento, quiçá oriundo da civilidade, pode e deve ser antecipado por simples exclusões, que tornam mais agradáveis os ambientes pessoais. Ainda chegaremos lá !
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.