Pedro Israel Novaes de Almeida – CRIMINOSOS ANIMADOS
A sensação de insegurança, já generalizada, vem modificando hábitos e tornando precárias as relações humanas.
Namoros no portão, outrora acompanhados pelo olhar atento e dissimulado da vizinhança, acabaram extintos. Despedidas já não ocorrem no interior dos veículos.
Pedestres, outrora rotineiros integrantes da paisagem, hoje parecem alvos ambulantes, sempre apreensivos. Locais e horários determinam o tamanho e natureza dos riscos envolvidos em cada caminhada.
Estudantes e trabalhadores organizam grupos de caminhada, para martírio dos que moram mais distantes. Pais, mães e irmãos acompanham a chegada, muitas vezes indo ao encontro dos pedestres.
Celulares já são vendidos aos pares. Um, mais sofisticado e valioso, segue quase oculto, e, ostensivamente mostrado, o mais singelo.
Pontos de ônibus viraram aglomerados de vítimas potenciais, em rápidos e certeiros arrastões. Basta uma moto reduzir a velocidade, ou parar, para que o pânico seja instalado.
Policiais amargam duplo risco. Como cidadãos, são roubados, e, reconhecidos, mortos. Existe, entre criminosos, uma ética bandida, que exalta qualquer ação contra os que nos protegem.
As casas, outrora com rústicos cacos de vidro sobre os muros, hoje ostentam alarmes, câmeras e cercas elétricas. Cães bravos afastam criminosos iniciantes, e mansos acabam roubados.
Para felicidade dos criminosos, a maioria das casas mantém aberta a porta da cozinha, durante todo o dia. Pedintes, outrora recebidos com solidariedade, hoje são, em sua maioria, repelidos, sempre à distância.
Moradores da área rural seguem indefesos, distantes de qualquer socorro imediato. São os que mais precisam de armas de defesa.
Organizações criminosas rendem e assaltam pequenas cidades, explodindo bancos, aproveitando o pequeno contingente policial. Usam armas de guerra, em ações que lembram atos terroristas.
Em muitas cidades, funcionários do correio e veículos de entrega acabam impedidos de acessar determinados bairros, tidos como perigosos, mesmo à luz do dia.
A população, atormentada, clama por dispositivos penais mais rígidos, inclusive no trato de menores infratores. Os criminosos parecem menosprezar reprimendas legais, imperando a sensação de impunidade.
A grita geral é pela mais facilitada legalização da propriedade e porte de armas, para que o próprio cidadão cuide de sua segurança, eis que o Estado não consegue fazê-lo.
Tendências e iniciações criminosas podem e devem ser acauteladas nos ambientes escolar e familiar, mas tal pouco ocorre. As drogas costumam estar presentes na maioria das motivações criminosas.
A antiga e ainda válida regra de que deve ser atendida, com prioridade, a segurança da sociedade, vem sendo menosprezada por tendências e pregações que tendem a tornar vítimas os criminosos, e criminosa a própria sociedade. Ainda bem que temos, ainda, policiais que dão a própria vida para a proteção de bens e vidas alheias.
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.
- Como o jornalista Helio Rubens vê as coisas - 9 de janeiro de 2024
- Como o jornalista Helio Rubens vê o mundo - 27 de dezembro de 2023
- Como o jornalista Helio Rubens vê o mundo - 22 de dezembro de 2023
É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.