A má notícia é que a seleção brasileira empatou (1×1) uma partida que deveria ter ganhado, ainda mais depois de ter saído à frente da Suíça com o golaço de Philippe Coutinho. A boa notícia é que nenhuma das outras favoritas convenceu. A Alemanha, dominada no 1º tempo, foi com tudo pra cima do México na etapa final, expondo-se a contra-ataques que só não ampliaram o placar por questão de detalhes. Os campeões do mundo nada têm a queixar-se da derrota por 1×0, pois saiu barata. A Espanha ficou duas vezes injustamente em desvantagem: sofreu 1×0 num pênalti inexistente e 2×1 num frangaço do De Gea. Amassou Portugal até obter uma virada eletrizante, depois resolveu administrar a vitória e acabou sofrendo o empate: 3×3. Do meio de campo para a frente, o escrete espanhol lembra a velha Fúria; mas a defesa está insegura e o goleiro não só falhou bisonhamente no 2º gol como poderia ter ao menos tentado evitar o 3º. Os franceses quase ficaram no empate com os cangurus (ganharam por 2×1), salvando-se graças a terem marcado um gol espírita em bola dividida que subiu, bateu no travessão e quicou dentro da meta australiana por diferença de centímetros.
Ou seja, nenhum desses três selecionados é o bicho papão que se temia. Provavelmente, sem a absurda troca de técnico na enésima hora (Fernando Hierro, o substituto de Julen Lopetegui, já na estréia substituiu mal quando tinha a partida sob controle), a Espanha seria a grande favorita. Agora, as chances dos quatro parecem-me equivalentes. O Brasil deve melhorar, pois Neymar, Marcelo e Gabriel Jesus jogaram muito menos do que podem e a entrada de Renato Augusto, recuperado de contusão, tornará mais inteligente a armação dos ataques. Mas, nossa peça ofensiva deverá continuar capenga, pois tem muito mais qualidade pela esquerda do que pela direita. Talvez substituindo o burocrático Danilo por Fagner, muito mais vibrante, o futebol de William crescesse. Há grande risco de um indesejado Brasil x Alemanha já nas oitavas de final. Basta que uma das seleções termine no 2º lugar do seu grupo (após a derrota deste domingo, a Alemanha corre tal perigo) e a outra em 1º (o Brasil precisaria esforçar-se muito para conseguir não ganhar da Costa Rica e da Sérvia). Dos demais selecionados com alguma chance (lembrando que a Inglaterra ainda não jogou),
apollo natali
NEM A EMPOLGAÇÃO COM A COPA SUBSISTE
NO BRASIL DA NOSSA DESESPERANÇA
ESTOU TRISTE… …muito triste porque não existe mais uma seleção brasileira do povo: as pessoas já não se animam a rabiscar incentivos nos muros, ficaram com preguiça de pintar as ruas de verde e amarelo, enjoaram dessa camisa canarinho que andou tendo outros usos, menos nobres. A seleção brasileira hoje mudou de dono. A seleção brasileira hoje pertence aos cartolas corruptos, aos patrocinadores que pagam uma nota preta (nada contra), aos impingidores de mercadorias e manipuladores de sonhos. Hoje existe a seleção brasileira do Galvão Bueno, e digo mais: o dono da seleção brasileira é a Rede Globo. Hoje a seleção brasileira conta com boleiros de talento, mas que deixam a amarga impressão de não passarem de uma legião estrangeira. Talvez esteja aí a chave do enigma: temos um grupo de jogadores qualitativamente superior aos das três últimas Copas, pelo menos; talvez até o melhor desde 1982, quando só mesmo o mau humor dos deuses dos estádios ou o Sobrenatural de Almeida podem explicar a desventura de cracaços como Falcão, Sócrates, Zico, Cerezo, Júnior.
Mas, os astros do selecionado de hoje não representam mais a realidade do futebol brasileiro. Tornaram-se melhores demais que os de nossos clubes do coração. O Neymar não é mais o Neymar que o Santos revelou, capaz de alternar lances de absoluta genialidade com as mais inconsequentes pirraças. O Barcelona processou o seu futebol e a sua imagem com tamanha eficiência que hoje ele exibe uma perfeição inexistente nestes tristes trópicos onde quase ninguém mais escuta sabiás cantando nem vê as palmeiras nostálgicas do Gonçalves Dias balançando ao vento. Nem o Gabriel Jesus é o mesmo do Palmeiras, muito menos o Marcelo que um dia foi do Fluminense. Até o Paulinho perdeu um tantinho de sua cativante simplicidade e deu de exibir visuais da moda. Não conseguimos imaginar nenhum deles voltando a ser o que era quando jogava aqui. De um jeito ou de outro, ficaram parecendo prósperos rebentos do mundo desenvolvido, praticantes de um futebol luxuoso a ponto de fazer com que nos sintamos novamente vira-latas embasbacados diante das coisas maravilhosas existentes nas Oropa.
E por que só agora os brasileiros começaram a perceber que o escrete é uma imagem retocada do tosco futebol exibido nos estádios brasileiros? Talvez por causa das decepções com os políticos crapulosos e do desalento com a crise econômica que há tanto nos fustiga e não parece ter saída à vista. Mas, se não tínhamos o país que pensávamos ter e agora a ilusão se dissipou, de nada adiantará piorarmos as coisas mais ainda com nosso amargor. Resmungos não mudam a realidade, é a vontade dos homens que faz isto. Esperávamos que os políticos, os partidos, os governantes, o pai dos pobres, Deus ou o diabo criassem tal país. Se há uma lição a tirarmos das desventuras recentes é que cabe a nós, e só a nós, construirmos um Brasil do qual possamos nos orgulhar. Quanto ao escrete, talvez a onda de pessimismo esteja nos impedindo de ver o outro lado da moeda. Sim, os craques da seleção são imensamente melhores do que os jogadores que jogam aqui. Sim, os grandes clubes estrangeiros vêm fazer uma limpa em cada janela de transferências, levando o sumo e nos deixando o bagaço. Sim, hoje estamos reduzidos à condição de formadores de pés-de-obra que atingirão seu apogeu lá fora, assim como outrora éramos (e em muitos casos ainda somos) fornecedores de matéria-prima para processamento alhures.
Nosso potencial é enorme, nesse e em tantos outros campos; só que, infelizmente está sendo quase todo desperdiçado. Mais um motivo para nos decidirmos, de uma vez por todas, a tomar nosso destino nas mãos. Até para devolvermos às ruas a alegria que hoje não está existindo mais. LEIA TAMBÉM (clique p/ abrir): A HORA E A VEZ DO ESPORTE DAS MULTIDÕES Série TRIBUTO ÀS CHUTEIRAS IMORTAIS (6 posts, começando neste) UMA CRÔNICA ANTOLÓGICA DE NELSON RODRIGUES SOBRE A SEMIFINAL DE 1962 |
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.