O cenário que se esboça, de um 2º turno com Haddad x Bolsonaro, é o que está cercado de piores augúrios.
A decepção dos brasileiros com os Poderes da República está cada vez maior. Então, faz todo sentido que grandes contingentes, não vislumbrando esperança nenhuma à frente, busquem no passado as soluções para os problemas atuais, embora isto equivalha a repetir o que já deu errado com a vã ilusão de que dará certo na segunda tentativa.
Para o caldo de cultura se tornar definitivamente infernal, desde as manifestações populares pró impeachment da Dilma estamos às voltas com fanáticos obtusos e as expectativas exageradas que eles criam.
Eram bem minoritários nas jornadas de 2016, mas sua participação cresceu em volume e contundência na paralisação selvagem dos caminhoneiros de maio/2018, quando até flertaram com a possibilidade de um golpe de Estado destrambelhado, acabando, contudo, por concluírem que ainda não tinham cacife para tanto.
No caso de uma vitória eleitoral de Bolsonaro, os truculentos que esperam vê-lo tocar o terror sofreriam uma enorme decepção.
Primeiramente, porque as duas linhas mestras do seu eventual governo seriam a submissão incondicional às imposições neoliberais, indo muito além do que Dilma e Temer tentaram mas não conseguiram entregar aos senhores do mundo; e o enfrentamento dos problemas sociais por meio da força bruta, sem controle nenhum. Alguém acredita que isso daria certo no Brasil do século 21?
Ademais, um presidente da República brasileiro nem de longe tem poder para tornar realidade todas as barbaridades que ele está demagogicamente prometendo. O Congresso, o STF e a sociedade civil logo o fariam cair na real.
Mas, quem é tolo a ponto de acreditar nessas lorotas, é também tão primário que não se conformará facilmente quando seus castelos no ar desabarem. Mesmo Hitler e Mussolini tiveram dificuldade para lidar com seus radicais.
Hitler precisou até promover uma matança de correligionários (a noite dos punhais longos) para impor definitivamente sua autoridade aos nazistas. Mussolini enfrentou resistências no seio do fascismo, mas aproveitou o Caso Matteotti para limpar a área. Como eram líderes de maior envergadura, ambos acabaram prevalecendo e consolidando-se no poder.
Já o Bolsonaro não passa de um demagogo explorando um nicho que se revelou promissor para suas ambições. Nem mesmo um novo Plínio Salgado ele é. Então, tenderia a ser ultrapassado pelos acontecimentos, dificilmente conseguindo administrar as inevitáveis crises e cumprir até o fim seu mandato.
E, como aconteceu com Jânio Quadros e Dilma Rousseff, afastamentos traumáticos sempre deixam um legado de inconformismo, incompatibilidades, irreconciliabilidades e consequente instabilidade política. Vale lembrar, p. ex., a sucessão de quatro golpes de Estado ocorridos na Argentina de 1955 a 1976 e todos os governos formados a partir de cada um deles, sem conseguirem tirar o país do fundo do poço.
Já com o Haddad o sistema (ou seja, o dominante poder econômico e os subalternos Executivo, Legislativo e Judiciário) provavelmente chegaria a um acordo, mas a pergunta é: as hordas de trogloditas ensandecidos engoliriam numa boa a volta do PT ao poder?
E, havendo turbulências, os grandes capitalistas (e as chamadas forças da ordem, que nada mais são além de seus braços armados) não acabariam optando por se alinharem com os que lhes são afins?
De resto, seria outro governo incapaz de entregar o que está prometendo, pois a volta aos tempos felizes do Lula presidente (nem tão auspiciosos assim pois a desigualdade econômica escandalosa não diminuiu um ponto percentual sequer, apenas era uma conjuntura mais favorável para as commodities brasileiras, a ponto de se poderem aumentar a ração de migalhas para os explorados sem reduzir a esbórnia dos exploradores) esbarrará na agudização das contradições capitalistas.
O que se prenuncia, pelo contrário, é uma nova crise financeira em ampla escala, provavelmente mais devastadora que a de 2007/2008. Até o Vaticano adverte que estamos marchando para um bis.
Em meio a tantas incertezas e maus pressentimentos, é desalentadora a postura do PT, que continua levando em conta unicamente os seus interesses, como de hábito.
O melhor caminho, neste momento, seria a união das forças de esquerda em torno de uma candidatura que não representasse explicitamente o PT e Lula. Ou seja, pela ordem: 1) Ciro; 2) Marina; ou 3) Boulos.
Aí haveria condições para se pacificar um pouco os espíritos, tentando virar uma página que foi negativa sob todos os pontos de vista e criar anticorpos para não sucumbirmos aos difíceis desafios que se avizinham.
Mas, falta grandeza revolucionária e faltam estrategistas gabaritados ao PT, que quer porque quer impor uma derrota frontal ao sistema, sem ter o necessário para tanto: votos não prevalecem sobre o poder da grana e o poder das armas.
Só se verdadeiramente possui aquilo que se é capaz de defender em qualquer circunstância. O PT não conseguiu articular nenhuma reação de verdade ao defenestramento da Dilma e nada indica que o conseguirá quando vier a ser novamente necessário, pois não desencanou até agora das ilusões democrático-burguesas.
Quando a correlação de forças nos desfavorece, temos de ser sensatos e realistas, deixando os confrontos de maior monta para depois. Blefes e bravatas nos momentos impróprios quase sempre produzem resultados desastrosos.
celso lungaretti
BOLSONARO PROMETE ENTREGAR BATTISTI À ITÁLIA. ESTARÁ CIENTE DE QUE PRECISARIA PASSAR POR CIMA DO STF?
Bolsonaro, que cultua a memória de Brilhante Ustra, teria mesmo de ser o candidato preferido… |
Como o demagogo fanfarrão que é, o candidato ultradireitista Jair Bolsonaro vem há algum tempo prometendo que, se eleito presidente, vai extraditar o escritor Cesare Battisti para a Itália.
Acaba de o fazer novamente, respondendo a uma estapafúrdia mensagem do ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, que declarou estar torcendo por sua (dele, Bolsonaro) vitória no pleito presidencial. É, claro, absolutamente impróprio um ministro de país amigo meter o nariz na eleição brasileira, manifestando preferência por qualquer candidato.
…do carrasco dos imigrantes Salvini, que até fisicamente lembra Mussolini. |
Mas, há uma explicação: trata-se de um congênere ideológico de Bolsonaro, tanto que no último sábado (15), Salvini foi acusado pelo ministro das Relações Exteriores de Luxemburgo, Jean Asselborn, de usar “métodos e tons dos fascistas dos anos 1930”. Com quem mais o discípulo de Benito Mussolini poderia identificar-se no Brasil, senão com o discípulo do Brilhante Ustra?
Acontece que a extradição foi definitivamente negada pelo então presidente Lula em 2010 e o Supremo Tribunal Federal avalizou sua decisão em 2011. Tratou-se de um ato jurídico perfeito, que não está mais na esfera de competência do presidente da República.
Quando Angelino Alfano, outro ministro ultradireitista italiano, andou sugerindo ao governo Temer, na calada da noite, pulo(s) do gato para burlar as leis brasileiras, o STF foi acionado e o ministro Luiz Fux determinou que a extradição de Battisti não poderia ser executada sem um posicionamento de nossa corte suprema a respeito.
Mais um ato da perseguição sem fim à vista? |
Fux ainda não deu uma palavra final. Poderá tomar uma decisão monocrática, submeter o assunto à 1ª Turma (à qual pertence, juntamente com Alexandre de Moraes, Luiz Roberto Barroso, Marco Aurélio Mello e Rosa Weber) ou ao plenário.
Até que ele faça uma destas três coisas, qualquer iniciativa contra Battisti será ilegal, constituindo-se numa invasão da competência do Judiciário por parte de outro Poder.
Resumo da ópera: Bolsonaro, como de hábito, promete o que não poderia entregar. Mas, em se tratando de um presidenciável tão tosco como ele, é impossível saber-se se o faz por mera má fé ou por crassa ignorância.
- Jeane Tertuliano: 'Rebeldia' - 3 de janeiro de 2023
- Carolina Michel: 'Por onde anda o AMOR?' - 27 de outubro de 2022
- Carolina Michel: 'Perder ou ganhar' - 1 de outubro de 2022
Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros, Editor-Geral do Jornal Cultural ROL e um dos editores do Internet Jornal. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA. Membro Fundador das seguintes entidades: Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA; Academia Hispano-Brasileña de Ciências, Letras e Artes – AHBLA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola – NALLA e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 7 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Dr. h. c. em Literatura, Dr. h.c. em Comunicação Social, Defensor Perpétuo do Patrimônio Histórico e Cultural Brasileiro e Honorável Mestre da Literatura Brasileira; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela Academia de Letras de São Pedro da Aldeia e Associação Literária de Tarrafal de Santiago, Embaixador Cultural | Brasil África – Adido Cultural Internacional