Em homenagem a Laila Vitória, seu irmãozinho João Guilherme e amigos(as), todos(as) de Taperoá – PB
Naquela sexta-feira de outubro, assim que Laila chegou à escola, Maria Cecília perguntou:
– Você está fazendo novas carinhas, é?
– Quem lhe contou?
– Sua mãe!
– Quando?
– Ontem, na reunião.
– Mas eu estava lá e minha mãe não conversou com você.
– Ela falou para minha mãe.
– E sua mãe lhe contou, foi assim?
– É, foi!
– O que você quer saber mais, Maria Cecília?
As duas meninas de 4 quatro anos eram amigas desde que estavam na creche para bebês. As famílias diziam, que nas festas eram inseparáveis. Viviam juntas pulando, cantando, dançando e brincando. De tão amigas que eram, quando uma comia alguma coisa, a outra também queria; quando uma não queria comer, a outra também não.
Os pais das meninas até comentavam: “nem se fossem irmãs gêmeas seriam tão parecidas uma com a outra”. Era a mais pura verdade!
E aí, quando Laila quis saber de Maria Cecília, se ela gostaria de perguntar mais alguma coisa, a amiga respondeu na mesma hora:
– Quero, sim! Eu quero saber quantas carinhas você desenhou para o escritor.
– Foi para mais de 20.
– Nossa, Laila, tudo isso!?
– Eu achei é pouco! Acho que vou desenhar, logo, umas 50 carinhas, assim ele escreve mais historinhas sobre elas.
– Mas você quer que ele escreva uma história só sua?
– Não, Maria Cecília, não é isso não! Eu quero que ele escreva uma história e coloque todas as minhas amigas, começando por você. Quero que ele coloque outras pessoas e, especialmente, meu irmãozinho, João Guilherme.
– Mas Laila, ele é bebezinho e nem saber falar ainda!
– Eu sei disso. Então, minha mãe lê para nós dois em casa. Se ele não entender, eu explico depois.
– Sua mãe sabe que você conversa com João Guilherme?
– Nunca perguntei, mas acho que sabe. Se não sabe, agora ela…
– Já entendi. Você quer contar?
– Quero!
– Então, pode contar que estou ouvindo!
– Sabe de uma coisa, Maria Cecília?
– Do quê?
– Tudo começou com minha vó Ivanir.
– Com a sua mãe, tudo bem, mas não sabia que sua vó Ivanir também…
– Pois é o que lhe digo.
– Então, conte mulher!
– Escute com atenção, está bem?
– Pode deixar que presto atenção igual quando estamos na escola.
– Um dia, depois que cheguei da escola, minha vó disse: “Laila, quando seu irmãozinho nascer, lembre-se, sempre, de conversar com ele”.
– Eu já ouvi uma coisa assim em casa também!
– Mas acontece que minha mãe também disse: “Laila, converse com seu irmãozinho desde antes dele nascer, viu?!”
– Nossa!
– Eu fiquei confusa, sabia?
– Com o quê?
– Minha vó disse para conversar com ele depois e minha mãe disse para conversar antes…
– E o que foi que você fez?
– Eu fiz as duas coisas, conversei antes e depois que ele nasceu.
– Então, está tudo bem, você obedeceu sua vó e sua mãe. Não tem nada de errado nisso.
– Acontece, Maria Cecília, que eu comecei a perceber que meu irmãozinho, João Guilherme, não entendia algumas coisas que eu falava.
– Como assim?
– Se ele não sabe falar, como é que poderia entender o que eu estava falando?
– Você tem razão, Laila! E daí?
– Comecei a desenhar e mostrar a ele. Enquanto falava e contava uma historinha, mostrava meus desenhos.
– Já sei, as carinhas!
– Muito bem, você acertou!
– E ele?
– Acho que começou a entender mais o que eu estava falando.
– E agora, como é que ele está?
– Estou fazendo muitas carinhas. Acho que ele está gostando. Fica olhando e, às vezes, quer pegar, resmunga. Até parece que quer falar. Aí, eu digo: “João Guilherme, preste atenção, porque estou ensinando a você. Aqui em casa, eu sou sua professora, está bem?”
– Ele responde?
– Do jeito dele.
– Como é?
– Sorrindo e mostrando sua boquinha sem dentes. Eu adoro quando ele sorri para mim.
– Será que ele está entendendo?
– Eu acho que sim, porque a professora na escola e o médico do hospital disseram para minha mãe e para meu pai, que quando um bebê sorri, é porque está tudo bem!
As duas amigas passaram toda a semana conversando com os outros amigos da escola. E a dúvida da turma era esta: será que João Guilherme entendia o que Laila estava desenhando?
Enquanto caminhavam com a vovó Ivanir, outra menina, muito próxima, juntou-se a elas:
– Oi, Esther! – disse Laila toda feliz por reencontrá-la. Maria Cecília também sorria, agora que já sabia sobre os bebês sorrindo.
– Oi, tudo bem com vocês?
– Tudo! – responderam as outras duas. Vó Ivanir também disse: “Tudo!”
Esther gostou do sorriso de Maria Cecília e de Laila. Queria saber se acontecera alguma coisa que ela não sabia. Aí, as amigas explicaram sobre o sorriso do bebê e, as quatro, em plena praça, deram boas gargalhadas. Antes de chegar à escola, a vovó ainda teve tempo de dizer às meninas:
– O sorriso é a felicidade da alma que aparece no corpo!
Ao ouvir, Laila já pensou num desenho da alma toda alegre e uma boca bem grande para demonstrar o quanto sua própria alma estava feliz com as amigas e com sua vovó.
Quando chegaram à escola, foram direto para a formação da fila. Sempre se organizavam assim e já estavam acostumadas.
– E então, ele entende ou não?
Anna Luiza foi a primeira a perguntar. Também foi a primeira a ouvir a resposta de Laila:
– Se dar risadinhas é uma resposta, então, eu acho que sim.
– É isso mesmo! – confirmou Maria Cecília.
– Como assim? – queria saber Nícolas.
– Os bebês não falam, não do jeito que falamos. Então, o médico e a minha mãe – Laila disse na maior certeza – explicaram que quando estão sorrindo é porque gostam e entendem o que está acontecendo.
– Eu acho que é mais gostam do que entendem. – falou meio desconfiada Aryelle.
– Por quê?
– Eu concordo! – completou Adryan.
– Por quê?
– Pode deixar que eu falo primeiro. – disse Aryelle.
– Tudo bem, pode falar então. – aceitou Adryan.
– Acontece que um bebê pode não entender uma coisa, mas se gostar, ele dá aquele sorrisinho.
– Eu adoro quando o bebê dá aquela risadinha com o cantinho da boca que está ocupada com a chupetinha dele! – Ana Sophia comentou com muito carinho nas palavras.
– Seu irmãozinho faz assim, Laila? – Anny perguntava enquanto também sorria.
– Faz assim mesmo, do jeito que Ana Sophia falou.
– Eu sei porque tenho um priminho que faz igualzinho! – respondeu a amiga.
– Acho que a professora vem aí! – avisou Miguel para a turma.
– É melhor a gente acertar a fila torta, então! – respondeu Emilly.
– Ainda fiquei com um dúvida, Laila. – disse Miguel.
– Qual?
– Afinal, João Guilherme, entende ou não?
– Eu acho que ele entende – adiantou-se Emilly – só que a gente não sabe o que é.
– Querem saber de uma coisa? – foi a vez de Laila.
– Queremos!!! – a turma respondeu como se fosse combinado.
– Se meu irmãozinho entende ou não, pelo menos, está gostando dos desenhos e das carinhas que faço.
Nessa hora, chega a professora:
– Tudo bem aí, classe?
– Tudo, professora!
– Parece que estavam conversando bastante!
– É sobre o irmãozinho de Laila, o João Guilherme. – disse Esther.
– Ele está bem, Laila?
– Está sim, tudo bem!
– E, então, do que falavam?
Para responder à professora, as crianças começaram a explicar desde que tudo começou na semana anterior na hora do recreio.
Assim que ouviu e com toda a turma já em frente à porta da sala, a professora disse:
– Turma, o jeito de entender dos bebês é pelo sentimento e o jeito de demonstrar é pelo corpo inteiro. Mas sobre esse assunto, vamos à aula que explicarei a todos…
ÉLCIO MÁRIO PINTO – elcioescritor@gmail.com
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024