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Élcio Mário Pinto: 'As novas carinhas de Laila'

Em homenagem a Laila Vitória, seu irmãozinho João Guilherme e amigos(as), todos(as) de Taperoá – PB

 

Laila Vitória (ao lado do autor), no dia 26 de dezembro de 2017, em Taperoá (PB), quando completava 4 anos de idade

Naquela sexta-feira de outubro, assim que Laila chegou à escola, Maria Cecília perguntou:

– Você está fazendo novas carinhas, é?

– Quem lhe contou?

– Sua mãe!

– Quando?

– Ontem, na reunião.

– Mas eu estava lá e minha mãe não conversou com você.

– Ela falou para minha mãe.

– E sua mãe lhe contou, foi assim?

– É, foi!

– O que você quer saber mais, Maria Cecília?

As duas meninas de 4 quatro anos eram amigas desde que estavam na creche para bebês. As famílias diziam, que nas festas eram inseparáveis. Viviam juntas pulando, cantando, dançando e brincando. De tão amigas que eram, quando uma comia alguma coisa, a outra também queria; quando uma não queria comer, a outra também não.

Os pais das meninas até comentavam: “nem se fossem irmãs gêmeas seriam tão parecidas uma com a outra”. Era a mais pura verdade!

E aí, quando Laila quis saber de Maria Cecília, se ela gostaria de perguntar mais alguma coisa, a amiga respondeu na mesma hora:

– Quero, sim! Eu quero saber quantas carinhas você desenhou para o escritor.

– Foi para mais de 20.

– Nossa, Laila, tudo isso!?

– Eu achei é pouco! Acho que vou desenhar, logo, umas 50 carinhas, assim ele escreve mais historinhas sobre elas.

– Mas você quer que ele escreva uma história só sua?

– Não, Maria Cecília, não é isso não! Eu quero que ele escreva uma história e coloque todas as minhas amigas, começando por você. Quero que ele coloque outras pessoas e, especialmente, meu irmãozinho, João Guilherme.

– Mas Laila, ele é bebezinho e nem saber falar ainda!

– Eu sei disso. Então, minha mãe lê para nós dois em casa. Se ele não entender, eu explico depois.

– Sua mãe sabe que você conversa com João Guilherme?

– Nunca perguntei, mas acho que sabe. Se não sabe, agora ela…

– Já entendi. Você quer contar?

– Quero!

– Então, pode contar que estou ouvindo!

– Sabe de uma coisa, Maria Cecília?

– Do quê?

– Tudo começou com minha vó Ivanir.

– Com a sua mãe, tudo bem, mas não sabia que sua vó Ivanir também…

– Pois é o que lhe digo.

– Então, conte mulher!

– Escute com atenção, está bem?

– Pode deixar que presto atenção igual quando estamos na escola.

– Um dia, depois que cheguei da escola, minha vó disse: “Laila, quando seu irmãozinho nascer, lembre-se, sempre, de conversar com ele”.

– Eu já ouvi uma coisa assim em casa também!

– Mas acontece que minha mãe também disse: “Laila, converse com seu irmãozinho desde antes dele nascer, viu?!”

– Nossa!

– Eu fiquei confusa, sabia?

– Com o quê?

– Minha vó disse para conversar com ele depois e minha mãe disse para conversar antes…

– E o que foi que você fez?

– Eu fiz as duas coisas, conversei antes e depois que ele nasceu.

– Então, está tudo bem, você obedeceu sua vó e sua mãe. Não tem nada de errado nisso.

– Acontece, Maria Cecília, que eu comecei a perceber que meu irmãozinho, João Guilherme, não entendia algumas coisas que eu falava.

– Como assim?

– Se ele não sabe falar, como é que poderia entender o que eu estava falando?

– Você tem razão, Laila! E daí?

– Comecei a desenhar e mostrar a ele. Enquanto falava e contava uma historinha, mostrava meus desenhos.

– Já sei, as carinhas!

– Muito bem, você acertou!

– E ele?

– Acho que começou a entender mais o que eu estava falando.

– E agora, como é que ele está?

– Estou fazendo muitas carinhas. Acho que ele está gostando. Fica olhando e, às vezes, quer pegar, resmunga. Até parece que quer falar. Aí, eu digo: “João Guilherme, preste atenção, porque estou ensinando a você. Aqui em casa, eu sou sua professora, está bem?”

– Ele responde?

– Do jeito dele.

– Como é?

– Sorrindo e mostrando sua boquinha sem dentes. Eu adoro quando ele sorri para mim.

– Será que ele está entendendo?

– Eu acho que sim, porque a professora na escola e o médico do hospital disseram para minha mãe e para meu pai, que quando um bebê sorri, é porque está tudo bem!

As duas amigas passaram toda a semana conversando com os outros amigos da escola. E a dúvida da turma era esta: será que João Guilherme entendia o que Laila estava desenhando?

Enquanto caminhavam com a vovó Ivanir, outra menina, muito próxima, juntou-se a elas:

– Oi, Esther! – disse Laila toda feliz por reencontrá-la. Maria Cecília também sorria, agora que já sabia sobre os bebês sorrindo.

– Oi, tudo bem com vocês?

– Tudo! – responderam as outras duas. Vó Ivanir também disse: “Tudo!”

Esther gostou do sorriso de Maria Cecília e de Laila. Queria saber se acontecera alguma coisa que ela não sabia. Aí, as amigas explicaram sobre o sorriso do bebê e, as quatro, em plena praça, deram boas gargalhadas. Antes de chegar à escola, a vovó ainda teve tempo de dizer às meninas:

– O sorriso é a felicidade da alma que aparece no corpo!

Ao ouvir, Laila já pensou num desenho da alma toda alegre e uma boca bem grande para demonstrar o quanto sua própria alma estava feliz com as amigas e com sua vovó.

Quando chegaram à escola, foram direto para a formação da fila. Sempre se organizavam assim e já estavam acostumadas.

– E então, ele entende ou não?

Anna Luiza foi a primeira a perguntar. Também foi a primeira a ouvir a resposta de Laila:

– Se dar risadinhas é uma resposta, então, eu acho que sim.

– É isso mesmo! – confirmou Maria Cecília.

– Como assim? – queria saber Nícolas.

– Os bebês não falam, não do jeito que falamos. Então, o médico e a minha mãe – Laila disse na maior certeza – explicaram que quando estão sorrindo é porque gostam e entendem o que está acontecendo.

– Eu acho que é mais gostam do que entendem. – falou meio desconfiada Aryelle.

– Por quê?

– Eu concordo! – completou Adryan.

– Por quê?

– Pode deixar que eu falo primeiro. – disse Aryelle.

– Tudo bem, pode falar então. – aceitou Adryan.

– Acontece que um bebê pode não entender uma coisa, mas se gostar, ele dá aquele sorrisinho.

– Eu adoro quando o bebê dá aquela risadinha com o cantinho da boca que está ocupada com a chupetinha dele! – Ana Sophia comentou com muito carinho nas palavras.

– Seu irmãozinho faz assim, Laila? – Anny perguntava enquanto também sorria.

– Faz assim mesmo, do jeito que Ana Sophia falou.

– Eu sei porque tenho um priminho que faz igualzinho! – respondeu a amiga.

– Acho que a professora vem aí! – avisou Miguel para a turma.

– É melhor a gente acertar a fila torta, então! – respondeu Emilly.

– Ainda fiquei com um dúvida, Laila. – disse Miguel.

– Qual?

– Afinal, João Guilherme, entende ou não?

– Eu acho que ele entende – adiantou-se Emilly – só que a gente não sabe o que é.

– Querem saber de uma coisa? – foi a vez de Laila.

– Queremos!!! – a turma respondeu como se fosse combinado.

– Se meu irmãozinho entende ou não, pelo menos, está gostando dos desenhos e das carinhas que faço.

Nessa hora, chega a professora:

– Tudo bem aí, classe?

– Tudo, professora!

– Parece que estavam conversando bastante!

– É sobre o irmãozinho de Laila, o João Guilherme. – disse Esther.

– Ele está bem, Laila?

– Está sim, tudo bem!

– E, então, do que falavam?

Para responder à professora, as crianças começaram a explicar desde que tudo começou na semana anterior na hora do recreio.

Assim que ouviu e com toda a turma já em frente à porta da sala, a professora disse:

– Turma, o jeito de entender dos bebês é pelo sentimento e o jeito de demonstrar é pelo corpo inteiro. Mas sobre esse assunto, vamos à aula que explicarei a todos…

ÉLCIO MÁRIO PINTO – elcioescritor@gmail.com

22/09/2018

Sergio Diniz da Costa
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