“Naquele momento, o Brasil se dividiu. E as divisões foram se acirrando e abriram espaço para um novo ator político: o de extrema-direita, o fascista.”
Em outubro de 2018, quando encerrou-se a apuração dos votos do 2º turno para a eleição presidencial no Brasil, o resultado deixava claro que o Brasil estava dividido. Até aquele momento, a disputa estava dentro dos parâmetros da democracia liberal burguesa, com propostas que se diferiam entre um governo voltado para a população mais pobre ou um governo que representasse os anseios das classes média e alta.
Do ponto de vista da política econômica, por exemplo, a diferença do modelo era muito sutil. Tanto que o candidato à presidência neste ano de 2018, Henrique Meirelles, tentou beneficiar-se do fato de ter estado à frente da equipe econômica dos governos de FHC (PSDB), Lula e Dilma (ambos do PT).
Porém, o PSDB em 2014 optou por um caminho tortuoso que poderia desviar o Brasil dos limites da democracia. Esse caminho foi o do desgaste ao adversário, culminando no Impeachment da Presidente Dilma. Em entrevista ao jornal “Estado de São Paulo”, publicada em 13 de setembro de 2018, o ex-presidente do PSDB, Tasso Jereissati, admitiu: “O partido cometeu um conjunto de erros memoráveis. O primeiro foi questionar o resultado eleitoral. Começou no dia seguinte (à eleição). Não é da nossa história e do nosso perfil. Não questionamos as instituições, respeitamos a democracia. O segundo erro foi votar contra princípios básicos nossos, sobretudo na economia, só para ser contra o PT. Mas o grande erro, e boa parte do PSDB se opôs a isso, foi entrar no governo Temer. Foi a gota d’água, junto com os problemas do Aécio (Neves). Fomos engolidos pela tentação do poder” (https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,nosso-grande-erro-foi-ter-entrado-no-governo-temer,70002500097).
Naquele momento, o Brasil se dividiu. E as divisões foram se acirrando e abriram espaço para um novo ator político: o de extrema-direita, o fascista. A disputa exacerbada entre PT e PSDB fez crescer um movimento hoje chamado de antipetismo. Dessa forma, o ódio ao PT – que carregou a pecha de único partido em que a corrupção tornou-se uma instituição e uma regra – alimentou-se de outras frustrações do eleitorado. Do medo do crescimento da violência, passando pela intolerância à visibilidade LGBTQ, do desejo do fim da corrupção ao resgate da “moralidade”, dos “bons costumes” e da “família”, aglomerou-se um considerável número de pessoas, mais de 49 milhões de eleitores.
Em 2014, o resultado do 1º turno foi 43 milhões de votos para Dilma e quase 35 milhões para Aécio. No segundo turno foram mais de 54 milhões de votos para Dilma, contra 51 milhões para o seu adversário. Uma disputa acirrada e que não se resolveu nas urnas, dando abertura para uma das maiores crises políticas e institucionais do país.
O PSDB, ao menos, pelo pronunciamento de Tasso Jereissati fez a sua mea-culpa, trazendo para si a responsabilidade pela crise política. Poderia ter sido mais contundente, especialmente durante a campanha eleitoral. Geraldo Alckmin, por exemplo, quis passar a imagem de que a culpa era somente do PT.
No entanto, o PT ainda não teve a humildade de fazer autocrítica e nem pedir desculpas para quem acreditou em seu discurso sobre a ética e a moralidade na política. Nas entrevistas a candidatos, realizadas pelo Jornal Nacional, da TV Globo, o jornalista William Bonner cobrou exatamente isso do candidato Haddad: um pedido de desculpas.
O que se vislumbra agora é um acirramento maior da disputa. O embate agora se reveste de um caráter ideológico, com um tempero de “bem” versus “mal”, “liberdade” versus “ditadura”. E nenhum dos lados da disputa colabora para o arrefecimento. Jair Bolsonaro disse que não aceitaria nenhum resultado que não fosse a sua eleição, enquanto José Dirceu, do PT, dá uma entrevista dizendo que “falta pouco para [o seu grupo] tomar o poder”.
Com o resultado do 1º turno, em que Bolsonaro tem quase 50 milhões de votos contra 31 milhões de Haddad, vislumbra-se um 2º turno encarniçado, que em nada colaborará para a recuperação do Brasil. Mais uma vez, nos vemos divididos. Se não encontrarmos um caminho alternativo ao ódio, será o nosso fim. E isso é lamentável.
Carlos Carvalho Cavalheiro – carlosccavalheiro@gmail.com
08.10.2018
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024