Carlos da Terra: ‘A Violência Como Remédio’
Quem viveu sob o regime militar sabe e sentiu na pele as agruras pertinentes ao autoritarismo e à exacerbação da punição.
Há quem diga, e não são poucos, que é preciso um regime duro para conter a violência, e assim propõem combater fogo com fogo.
Todas as pesquisas científicas, psicológicas, sobre o assunto apontam inequivocamente para resultados desastrosos decorrentes dessa posição. A prática corrobora estes resultados científicos.
O Iraque foi governado com mão pesada de Sadam Hussein. Cortava-se a mão de batedores de carteira e, na praça pública, quando se ia aplicar a punição, outros batedores de carteira se aglomeravam para, aproveitando-se da multidão, roubar carteiras.
Dizem também que no Brasil as leis são muito brandas, o que não é verdade. Existem leis que punem até se o cidadão furar a calçada com o guarda-chuva. E que se dirá então da obrigatoriedade de andar com luz acesa em pleno dia? E se houver uma lampadazinha queimada no seu carro você receberá pesada multa. Sem contar também das punições animalescas a que são submetidas muitas crianças em sua própria casa. A mentalidade violenta e punitiva aí está implícita, gerando seres infelizes e proliferando carrascos punidores.
Dizem também que no Brasil o sujeito pode até ser condenado, mas não cumpre a pena. Essas pessoas certamente não verificaram a enorme semelhança desse detalhe com os outros países. Isso não é de se estranhar porque, afinal, copiamos tudo.
Não! Efetivamente violência não constrói e não dá certo.
Evidentemente não se enquadra em violência a liberação de armas que permitam ao cidadão defender sua família e a si próprio.
Qualquer verificação, ainda que superficial, dos repertórios de habilidades humanas ou mesmo de outros animais, vai mostrar, sem sombra de dúvidas, que a punição é um desastre e põe tudo o que há de bom a perder.
Apontem apenas um pianista que ficou bom sob pancadaria; um jogador de futebol? Um pintor de quadros? Um cantor? Etc. Não encontraremos nenhum, seguramente. E por outro lado, verifique-se nos presídios, a quantos daqueles que lá estão, foi dedicado atenção e suavidade no trato diário? Seguramente não acharão nenhum também.
A experiência mostra que o recrudescimento da violência e da punição leva a resultados ainda piores.
Enquanto se argumenta que o regime militar pode ser bom, esquece-se da especialidade dos militares. Eles não são, por definição, especialistas em educação ou qualquer outra coisa senão na guerra ou no combate bélico.
E quando foi oferecido ao povo a oportunidade de votar na monarquia, o povo rechaçou a ideia incompreensivelmente porque o reinado tem o autoritarismo do militarismo associado à liberdade dos poderes do congresso.
A liberdade plena ou quase plena é muito mais construtiva embora conduza também a incríveis bobagens como bolsa presidiário, bolsa racial etc., mas o países totalitários apresentam uma realidade muito mais trágica do que os países onde se observa maior liberdade de expressão e ação.
Este meu texto, embora simples e ingênuo, seria passível de censura e advertência ou qualquer outra punição, nos tempos áureos da ditadura militar. Estaria entre algumas poesias e canções absurdamente censuradas.
O povo é mais produtivo e feliz sob um regime liberal do que coercitivo.
Carlos da Terra
jornalista Mtb 0059739-SP
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.