Pedro Israel Novaes de Almeida: ‘RAÇÃO OU INSETOS’
A luta pela sobrevivência humana sempre teve, como primeiro desafio, a alimentação.
A disponibilidade de alimentos moldou hábitos e tradições. Em alguns casos, a preferência teve ingredientes religiosos ou de dominação, como a antropofagia, ainda praticada em alguns rincões.
No Brasil, hábitos e tradições, trazidas pelos migrantes, acabaram adaptadas, tendo em vista os alimentos disponíveis. Escravos consumiam a feijoada, elaborada a partir de carnes descartadas pelos frequentadores da casa grande.
Assim, a feijoada demonstrou-se mais apetitosa que a comida feita com carnes nobres, sendo disseminada a todos os estratos sociais. Hábitos alimentares variam de região a região.
Era comum a presença de sopa, no jantar dos brasileiros. A sopa permite o aproveitamento de um sem número de ingredientes.
Com o tempo, o jantar foi substituído pelo lanche da tarde, à base de pães e frios. Com isso, a nutrição acabou empobrecida, embora menos trabalhosa.
Alimentos industrializados inundaram prateleiras, facilitando as tarefas domésticas. Contudo, trazem grandes quantidades de sal, açúcar e conservantes, que legislações tentam restringir.
Nas escolas públicas, milhões de crianças e adolescentes recebem refeições, suprindo grande parte das necessidades nutricionais. Houve um tempo em que não eram raros os desmaios e dificuldades de aprendizagem, por fome.
A indústria de alimentos ainda não atingiu sua maturidade e eficiência, pois a economia de escala tende a fazer com que a alimentação pronta seja mais barata que a alimentação elaborada em casa. A multiplicação dos restaurantes por peso veio tornar mais justas as cobranças, e maior a liberdade dos consumidores, na elaboração do próprio prato.
Surgiram, e são cada vez mais disseminados, hábitos alimentares diferenciados, como os praticados por vegetarianos e veganos. Nutricionistas avaliam as necessidades de suplementação, em tais casos.
Existem preconceitos contra a agricultura não familiar, a exemplo da soja, que produz leite, carne e ovos. A indústria de rações segue célere e eficiente, e, a exemplo dos animais domésticos, também acabará suprindo as necessidades humanas de alimentação e nutrição.
Os bilhões de humanos que habitam o mundo requerem alimentos em quantidades cada vez maiores, e não restam dúvidas a respeito da opção que fatalmente seremos obrigados a fazer: ingerir insetos ou rações balanceadas. A perspectiva não é animadora, mas real.
*pedroinovaes@uol.com.br
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.