Pedro Israel Novaes de Almeida
Existem obras e pessoas que merecem ser imortalizadas.
Grandes feitos e bons exemplos de vida costumam ser perpetuados através de estátuas, comendas, placas comemorativas, selos e nomes de logradouros ou prédios públicos.
Tais reconhecimentos, contudo, nem sempre são atestados de mérito, amesquinhados pelo oportunismo e interesse político que, não raro, ronda as iniciativas e votações parlamentares que tratam do assunto. Finados oriundos de famílias numerosas e influentes conseguem o milagre de uma boa biografia, com as consequentes homenagens.
Banalizadas, as homenagens acabam sendo transformadas em um amontoado de letras de pouco ou nenhum significado, obrigando a sociedade a decorá-las, até como referencial geográfico urbano. São raros os cidadãos que sabem a biografia do cidadão que emprestou o nome à rua ou praça onde moram.
Na verdade, os exemplos e feitos dignos de imortalização são poucos, dezenas em séculos. O mérito muitas vezes é encontrado, e desconsiderado, em atitudes grandiosas de cidadãos comuns, pouco influentes e menos renomados.
Em boa hora, deixamos, por imposição legal, de prestarmos homenagens em recintos públicos a pessoas vivas, como se fossem presumidas meritórias e exemplares, até a morte.
Urbanistas, com razão, sempre criticaram a utilização de nomes de pessoas, em logradouros públicos. O nome de uma rua deve servir como orientação geográfica, não como homenagem.
Como entender onde é a rua Emengarda Madaleno da Cunha Monteiro, esquina com a avenida Sebastião Erotides Alcântara de Mello Franco Neto ? Mais objetivo seria a rua 8, esquina com a avenida 3.
Alguns municípios adotam nomes de pássaros, em determinado bairro, e nomes de estados, plantas, animais ou minerais em outros. A memorização e o referencial, em tais casos, são facilitados.
Uma vez colocado o nome de alguma pessoa em determinado logradouro, soa como desrespeito à família sua substituição por outro, caso sobrevenha a ciência de algum feito desabonador do homenageado. Em tais casos, a nova biografia costuma ser solenemente ignorada.
Temos o péssimo hábito da pessoalidade, e políticos acabam buscando a imortalização em vida, como as pouco modestas denominações do Instituto Lula e Instituto FHC. A banalização das homenagens desmerece os que as receberam por merecimento, e não são raros os casos em que medalhas, galardões e títulos são devolvidos pelos que a receberam, tão logo destinados a figuras sabidamente promíscuas ou desonestas.
As homenagens em logradouros públicos, se erroneamente persistirem, devem aguardar um interregno de pelo menos 20 anos do óbito, tempo necessário ao esquecimento do feito ou exemplo, se desprezíveis. Em 20 anos, pretensos leões podem acabar conhecidos como gatos comuns.
Legisladores possuem o dever ético de não impor à sociedade homenagens imerecidas, baseadas em interesses pessoais, políticos ou meramente comerciais.
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.