TRABALHO SEM GUERRA
“O estudo, até então na marra, veio integrar definitivamente a rotina”
Confesso que não sou a pessoa mais indicada para tecer loas ao dia do trabalho.
Passei a primeira parte da vida brincando, com pessoas e cachorros, e estudando, sempre que obrigado. Ainda bem que havia um grupo de cidadãos e cidadãs que trabalhavam, e acabou permitindo que fosse criança, sem carregar pedras.
Na segunda parte, persisti sem trabalhar, aprimorando o relacionamento, com menos pessoas e mais cachorros. Na verdade, executava alguns trabalhos, voluntários e gratuitos.
O estudo, até então na marra, veio integrar definitivamente a rotina, graças à infeliz ideia de cursar o segundo grau em exigente colégio público. Estudar não significava sofrimento algum, e era, na verdade, um trabalho, em benefício pessoal.
Confesso que sentia poder executar tarefas e serviços, mas fiz questão de não alardear tal sentimento, para não atrair a sanha dos que, já naqueles idos, julgavam que os jovens eram ociosos e mal aproveitados. Atualmente, a humanidade caminha para julgar a ociosidade e sub- aproveitamento medidas de proteção.
O trabalho, em sua versão materialista amesquinhado a mero emprego, pode até cansar, mas contribui e amadurece. Todos, crianças, jovens, adultos e idosos, podem e devem executar algum trabalho, sem desprestigiar os contextos de cada fase da vida.
Na fase universitária, dividi trabalho com estudo. Trabalhei intensamente, de graça, e estudei o necessário, sem ser brilhante. Foi um período de muita leitura e nenhuma ociosidade.
Consegui chegar à fase adulta, portando um diploma universitário, sem qualquer preconceito em relação a patrões e empregados. Uns não pareciam necessariamente exploradores, e outros não pareciam necessariamente escravizados.
As facilmente digeríveis cantilenas que opunham capital e trabalho, em constante e sanguinária batalha, apontavam para estruturas grandiosas e perversas, bem distantes de nosso real entorno, em que operam em cooperação e somatório. Ouvi, e ainda guardo como lembrete de cabeceira, a doutíssima frase de que CAPITAL É TRABALHO ACUMULADO.
Aprendi, como patrão e empregado, que não existem paraísos sem bons patrões. Os chamados paraísos, na verdade, transformam os governos em patrões, dos piores.
Legislações, em ritmo crescente, encarecem os empregos e tendem a tornar até beligerantes os relacionamentos. Existem cooperações humanitárias que acabam desestimuladas quando transformadas em frias e impessoais obrigações.
O bom e construtivo ambiente de trabalho só existe com bons patrões e bons empregados. Não são bons patrões, e tampouco bons empregados, os que não são boas pessoas.
Pedro Israel Novaes de Almeida
pedroinovaes@uol.com.br
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.