Coronavírus
O assunto tomou conta das atenções do país esta semana. A preocupação das autoridades tem fundamento. Não se pode alegar que o Brasil não estava preparado para enfrentar a situação da entrada do coronavírus (Covid 19) no país. Era apenas questão de tempo para que isso ocorresse.
Dentro da lógica da globalização, a facilidade de comunicação gera bônus e ônus. Atualmente é impossível conter o trânsito de pessoas que viajam de um lado ao outro do globo, bem como é inevitável a circulação de mercadorias entre os países. Ao que tudo indica, os primeiros casos da presença de pessoas contaminadas no Brasil pelo novo coronavírus foram de viajantes vindos da Itália. Esse é o país mais atingido pela pandemia hoje e amarga uma triste quarentena que obriga pessoas a ficarem em casa para minimizar o contato com o vírus.
A despeito da irresponsabilidade de alguma autoridade local, o fato é que as medidas tomadas para evitar o contágio são importantes e merecem ser levadas à sério. Não se pode mais viver num mundo que insiste em retroceder aos tempos medievais, atribuindo a castigos divinos ou ações demoníacas as pragas e doenças que nos atingem. Precisamos de medidas sérias e pautadas na racionalidade.
Uma pessoa infectada com o vírus é transmissora ainda que não apresente os sintomas da doença. Por isso os cuidados para evitar as aglomerações, o hábito de lavar as mãos constantemente com sabão, manter a distância entre pessoas entre outras são ações simples que podem fazer uma enorme diferença daqui a alguns dias.
Nenhum sistema de saúde do mundo está preparado para tratar de um número excessivo de pessoas contaminadas por algum vírus. Sem a Covid 19 os leitos hospitalares já nos são insuficientes. Com uma demanda maior, uma explosão do número de contaminados, isso seria uma tragédia. Desse modo, as ações preventivas deverão minimizar os efeitos desastrosos do coronavírus.
O mesmo não deve acontecer com a economia dos países. É provável que, a depender do tempo em que durar essa crise, que as economias mundiais sofram um colapso. No caso do Brasil, que ainda não se recuperou da crise política e econômica (que se arrasta pelo menos desde 2015), o dano pode ser maior ainda.
Talvez seja a hora dos países repensarem não apenas as atitudes e hábitos do cotidiano – como a higienização das mãos – mas o modelo econômico que procura privilegiar uma minoria em detrimento da maioria. Afinal, a sobrevivência do mundo globalizado dependerá, em grande parte, da solidariedade e não da competição entre os povos.
Se a crise de saúde gerada pelo novo coronavírus ainda tiver fôlego para alguns meses, será preciso, de fato, rever as políticas e o modelo econômico, para salvaguardar um bem maior: a existência da vida humana no planeta.
Oxalá os governantes dos diversos países tenham consciência disso e se proponham a deixar seus interesses pessoais (ou os exclusivos de suas nações) e percebam que não existe maneira de sair salvo sozinho dessa situação. A salvação exige a cooperação e a solidariedade de todos.
Que continuem lavando as mãos para conter o avanço do covid 19, mas que não imitem nesse ato a Pilatos.
Carlos Carvalho Cavalheiro
17.03.2020
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Natural de São Paulo (SP, atualmente reside em Sorocaba. É professor de História da rede pública municipal de Porto Feliz (SP). Licenciado em História e em Pedagogia, Bacharel em Teologia e Mestre em Educação (UFSCar, campus Sorocaba). Historiador, escritor, poeta, documentarista e pesquisador de cultura popular paulista. Autor de mais de duas dezenas de livros, dentre os quais se destacam: ‘Folclore em Sorocaba’, ‘Salvadora!’, ‘Scenas da Escravidão, ‘Memória Operária’, ‘André no Céu’, ‘Entre o Sereno e os Teares’ e ‘Vadios e Imorais’. Em fevereiro de 2019, recebeu as seguintes honrarias: Título de Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça e Medalha Notório Saber Cultural, outorgados pela FEBACLA – Federação dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes e o Título Defensor Perpétuo do Patrimônio e da Memória de Sorocaba, outorgado pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos. É idealizador e organizador da FLAUS – Feira do Livro dos Autores Sorocabanos