Alimento vs biocombustível – o falso dilema – II, Guaçu Piteri
Dia desses, em seu artigo na Folha de São Paulo, Helio Schwartsman comentou texto de autor americano, ou seria inglês (?), que aponta restrições ao uso do bio combustível, preocupado que está – como estamos todos – com a fome que, segundo a FAO, afeta cerca de 800 milhões de pessoas. Esse raciocínio remete à conclusão óbvia de que a área agricultável ocupada pela produção de alimentos esteja ameaçada de invasão pelas lavouras da cadeia produtiva de energia, agravando o problema da fome no Planeta. A conclusão. embora verossímil, é enganosa. O autor do estudo incorre no erro de Malthus que, ao formular suas projeções catastróficas, há mais de duzentos anos, não avaliou o impacto positivo da inovação e da tecnologia como fatores de multiplicação da produção por área cultivada. Essa lacuna metodológica, plenamente compreensível se considerarmos a época em que Malthus desenvolveu seus estudos, redundou em conclusões muito distantes da realidade, conforme procurei demonstrar no post “Alimento vs biocombustível – o falso dilema” ( 25/04/2011).
Permito-me retomar o tema, neste espaço, para compartilhar, com os leitores, algumas reflexões a respeito de um dos tópicos do compromisso de redução de 43% na emissão de gases de efeito estufa que o governo brasileiro vai assumir na “Cúpula de Paris” (Cop 21), em dezembro. A proposta anunciada pela presidente Dilma, esta semana, estabelece a meta de recuperação de 150 mil Km² de pastos degradados e 120 mil Km² de florestas devastadas, além de zerar o desmatamento em quinze anos. Trata-se de importante avanço, se considerarmos o retrospecto de criminosa cumplicidade do poder público com desmatadores contumazes nos últimos anos. Mas é pouco em relação ao que se pode e deve fazer. Ficando apenas na necessidade de priorizar investimentos para melhoria das pastagens, a pecuária brasileira, que apresenta baixíssimos índices de produtividade, teria aumentos expressivos de produção, ao mesmo tempo em que imensas áreas sub aproveitadas seriam liberadas para agricultura. Explico: Investimentos na melhoria dos pastos, associados a medidas complementares simples e plenamente viáveis, (manejo e suplementação alimentar), resultam em ganhos importantes na produtividade da pecuária extensiva, que acaba refletindo na preservação dos recursos naturais.
Britaldo Soares Filho, da UFMG, em sua pesquisa a respeito da restauração de pastagens degradadas, chega à seguinte conclusão: “… um aumento de 50% na baixa produtividade da pecuária, permitiria liberar 460 mil Km² para a agricultura de grãos eliminando a necessidade de desflorestamento…” Folha de S. P.; (28/09/15; p. A11). Se essa área, equivalente a cerca de dois estados de São Paulo, for recuperada e incorporada à produção, poderemos comemorar o fim do tradicional círculo vicioso de desmatamento, seguido de pasto entregue ao abandono e mais desmatamento, processo característico da pecuária atrasada praticada em imensas regiões do Brasil.
Embora o problema da fome continue sendo um dos maiores desafios da humanidade, sua solução não está diretamente relacionada à falta de área para produção de alimentos. Sabe-se hoje, como pregam os próprios neo-maltusianos, que o gargalo decorre de deficiências de infra estrutura, de logística, da falta de vontade política e, sobretudo, da pobreza.
Embora a limitação não seja a escassez de alimento, é ingenuidade pensar que a solução do problema seja simples. Infelizmente, não é!… Mas essa é outra história.
os – com a fome que, segundo a FAO, afeta cerca de 800 milhões de pessoas. Esse raciocínio remete à conclusão óbvia de que a área agricultável ocupada pela produção de alimentos esteja ameaçada de invasão pelas lavouras da cadeia produtiva de energia, agravando o problema da fome no Planeta. A conclusão. embora verossímil, é enganosa. O autor do estudo incorre no erro de Malthus que, ao formular suas projeções catastróficas, há mais de duzentos anos, não avaliou o impacto positivo da inovação e da tecnologia como fatores de multiplicação da produção por área cultivada. Essa lacuna metodológica, plenamente compreensível se considerarmos a época em que Malthus desenvolveu seus estudos, redundou em conclusões muito distantes da realidade, conforme procurei demonstrar no post “Alimento vs biocombustível – o falso dilema” ( 25/04/2011).
Permito-me retomar o tema, neste espaço, para compartilhar, com os leitores, algumas reflexões a respeito de um dos tópicos do compromisso de redução de 43% na emissão de gases de efeito estufa que o governo brasileiro vai assumir na “Cúpula de Paris” (Cop 21), em dezembro. A proposta anunciada pela presidente Dilma, esta semana, estabelece a meta de recuperação de 150 mil Km² de pastos degradados e 120 mil Km² de florestas devastadas, além de zerar o desmatamento em quinze anos. Trata-se de importante avanço, se considerarmos o retrospecto de criminosa cumplicidade do poder público com desmatadores contumazes nos últimos anos. Mas é pouco em relação ao que se pode e deve fazer. Ficando apenas na necessidade de priorizar investimentos para melhoria das pastagens, a pecuária brasileira, que apresenta baixíssimos índices de produtividade, teria aumentos expressivos de produção, ao mesmo tempo em que imensas áreas sub aproveitadas seriam liberadas para agricultura. Explico: Investimentos na melhoria dos pastos, associados a medidas complementares simples e plenamente viáveis, (manejo e suplementação alimentar), resultam em ganhos importantes na produtividade da pecuária extensiva, que acaba refletindo na preservação dos recursos naturais.
Britaldo Soares Filho, da UFMG, em sua pesquisa a respeito da restauração de pastagens degradadas, chega à seguinte conclusão: “… um aumento de 50% na baixa produtividade da pecuária, permitiria liberar 460 mil Km² para a agricultura de grãos eliminando a necessidade de desflorestamento…” Folha de S. P.; (28/09/15; p. A11). Se essa área, equivalente a cerca de dois estados de São Paulo, for recuperada e incorporada à produção, poderemos comemorar o fim do tradicional círculo vicioso de desmatamento, seguido de pasto entregue ao abandono e mais desmatamento, processo característico da pecuária atrasada praticada em imensas regiões do Brasil.
Embora o problema da fome continue sendo um dos maiores desafios da humanidade, sua solução não está diretamente relacionada à falta de área para produção de alimentos. Sabe-se hoje, como pregam os próprios neo-maltusianos, que o gargalo decorre de deficiências de infra estrutura, de logística, da falta de vontade política e, sobretudo, da pobreza.
Embora a limitação não seja a escassez de alimento, é ingenuidade pensar que a solução do problema seja simples. Infelizmente, não é!… Mas essa é outra história.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.